
Em ata do Copom, diz que “não hesitará” em aumentar o arrocho sobre a economia
O Banco Central (BC), em ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (5), confirmou que que a taxa básica de juros da economia (Selic) se manterá em 15% a.a por um “período bastante prolongado”.
Na ata da reunião, que manteve a Selic em 15%, realizada na semana passada, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirma que “não hesitará” em retomar o ciclo de ajuste dos juros, se julgar apropriado nas próximas reuniões.
“A taxa apropriada de juros, ela deve permanecer em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado devido às expectativas desancoradas”, diz a ata. E enfatiza que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”.
A decisão do Copom ocorre em um cenário em que a economia real apresenta desaceleração. Nem mesmo os ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, às exportações brasileiras e à soberania nacional, foram capazes de demover o BC do arrocho monetário imposto ao país, travando os investimentos e o consumo, a pretexto de controlar a inflação. O IPCA (Índice de preços ao consumidor) sinaliza arrefecimento, após o pico registrado em fevereiro deste ano.
Diante do tarifaço de 50% imposto por Trump aos produtos brasileiros, quando governo, empresários e trabalhadores buscam saídas para enfrentar os prejuízos causados pela medida, como queda nos juros, crédito mais barato e manutenção dos empregos, o BC defende que o governo brasileiro atue com uma política fiscal “contracíclica”. Leia-se: corte de despesas sociais e de investimentos públicos e a garantia de transferência dos recursos públicos para pagar juros a bancos e demais rentistas. Recursos da ordem de cerca de 1 trilhão de reais abocanhados pela banca em 2024.
“O Comitê manteve a firme convicção de que as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas. Em particular, o debate do Comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, afirma o Copom, ao defender “reformas estruturais e disciplina fiscal”.
Com a Selic em 15% e a inflação esperada em queda, a taxa de juros reais do Brasil já supera os 10% ao ano, o que firma o país com a segunda maior taxa de juros reais do planeta – atrás apenas da Turquia.
Com os juros nesses patamares proibitivos, já se observa um recuo nas concessões de crédito livre e elevação nas taxas de juros e da inadimplência, conforme análise do próprio BC.
“Além disso, no crédito às pessoas físicas, há um aumento do comprometimento da renda familiar com o serviço das dívidas e um aprofundamento do fluxo de crédito negativo, ou seja, maior pagamento do que contratação de dívida por parte das pessoas físicas”, diz outro trecho da ata.
“Precisamos de menos juros e mais crescimento”, defendeu o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, após a decisão do Copom.
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