“Não se cresce sem investir. Se o Brasil tivesse crescido, não igual à China, mas igual à média mundial nos últimos quarenta anos, em vez de crescer o que cresceu, nosso PIB de hoje seria o dobro ou um pouco mais do dobro do que é atualmente”, disse o empresário, em encontro com trabalhadores
O empresário Mario Bernardini, membro do Conselho Superior de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), afirmou na quarta-feira (4), em debate com trabalhadores na sede do Sindicato dos Engenheiros de SP, que ninguém mais fala de um projeto de Brasil, de um plano de longo prazo, de um país de futuro. “Por varejo, por questões de ‘as contas não fecham’, ‘a inflação subiu de 4 para 4,5’”. “Faz quarenta anos que nós fazemos isso. E deixamos de ter um projeto para esse país”, alertou.
Para Bernardini, “o Brasil tem que voltar a crescer”. “Não adianta falar em ‘neoindustrialização’. O projeto tem que dizer que nós vamos dobrar a renda per capita em dez anos. Que nós vamos reduzir a mortalidade infantil, que nós vamos melhorar os indicadores de educação”, ressaltou o empresário no lançamento do livro “Produção versus Rentismo – Trabalhadores e empresários pela reindustrialização do país”, organizado por Carlos Pereira, redator especial do HP.
“Se o Brasil tivesse crescido, não igual à China, mas igual à média mundial nos últimos quarenta anos, em vez de crescer o que cresceu, nosso PIB de hoje seria o dobro ou um pouco mais do dobro do que é atualmente. Vocês sabem o que isso significa? Que a renda per capta seria vinte mil dólares, que a arrecadação seria o dobro, e que a dívida pública seria a metade”, destacou Bernardini.
“Nós temos que oferecer nesse projeto aquilo que a sociedade espera e não o que nós queremos. E o que ela espera só pode ser conseguido com crescimento. E como quase todo mundo sabe, crescimento depende de investimento. Não se cresce sem investir”. E enfatizou: “se nós não eliminarmos as distorções que privilegiam o investimento financeiro – não é investimento, é apenas o financeiro, em detrimento de investimento produtivo – nós não vamos levar o capital que existe para onde queremos”.
JÚLIA CRUZ E ANDRÉ SANTANA
Reproduzimos, na íntegra, a intervenção de Mario Bernardini durante o evento
“Nós trocamos uma visão de longo prazo, de Brasil potência, de país do futuro – ninguém mais fala em país do futuro – por varejo, por questões de ‘as contas não fecham’, ‘a inflação subiu de 4 para 4,5’. Faz quarenta anos que nós fazemos isso. E deixamos de ter um projeto para esse país.
É a pergunta que nós temos que fazer para o Brasil. O que o Brasil vai ser quando crescer? Um país pobre? Um país subdesenvolvido? O Brasil não é mais um país emergente. Eu brinco dizendo que é um país ‘submergente’ ´porque a distância em relação aos países desenvolvidos aumenta.
Se o Brasil tivesse crescido, não igual à China, mas igual à média mundial nos últimos quarenta anos, em vez de crescer o que cresceu, nosso PIB de hoje seria o dobro ou um pouco mais do dobro do que é atualmente. Vocês sabem o que isso significa? Que a renda per capta seria vinte mil dólares, que a arrecadação seria o dobro, e que a dívida pública seria a metade.
Então, qual é o problema do Brasil? Não é juros. Tudo bem, isso tudo é ruim, tem que ser arrumado. Mas isso é instrumento. O problema do Brasil é que nós temos que voltar a crescer. E temos que convencer a sociedade, principalmente a juventude, de que isso é bom para eles.
E por que nós não conseguimos convencer a juventude? Por que nós não conseguimos convencer a sociedade brasileira? Porque falta um projeto para esse país. E um projeto que a sociedade brasileira compre. Não adianta falar em ‘neoindustrialização’. O projeto tem que dizer que nós vamos dobrar a renda per capita em dez anos. E nós vamos reduzir a mortalidade infantil, que nós vamos melhorar os indicadores de educação.
Nós temos que oferecer nesse projeto aquilo que a sociedade espera e não o que nós queremos. E o que ela espera só pode ser conseguido com crescimento E como quase todo mundo sabe, crescimento depende de investimento. Não se cresce sem investir. E por que não se investe? Por quê? Eu às vezes pergunto, quando estou numa plateia assim, se você ganhar hoje na mega-sena, acumulada em sessenta milhões de reais, você vai abrir uma fábrica ou vai aplicar no banco? Porque se eu ganhar, o meu lucro é taxado em 34%. Se eu comprar papel, meu lucro é taxado em 15%. Se comprar LCA, LDI [títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras], não se paga nada de imposto de renda. Então, se nós não eliminarmos as distorções que privilegiam o investimento financeiro – não é investimento, é apenas o financeiro em detrimento de investimento produtivo – nós não vamos levar o capital que existe para onde queremos.
Então são estas mudanças fundamentais. O resto é acessório, tá? Então eu volto a insistir e é o que eu estou tentando fazer com o meu amigo Pereira, eu agradeço o convite que ele me fez. Estou tentando com mais um grupinho de gente de boa vontade de fazer um documento de consenso entre trabalhadores e empresários pra defender o modelo de país, um projeto para esse país voltar a crescer e podermos oferecer aos nossos filhos e netos, né? Um lugar melhor para viver.“