O representante permanente da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, afirmou, durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU realizada nesta sexta-feira (3), que o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, – que está nos seus últimos dias – é corresponsável pelas mortes de dezenas de milhares de pessoas provocadas pelo regime genocida de Israel na Faixa de Gaza.
O alto diplomata russo enfatizou que a paz não pode ser alcançada no conflito palestino-israelense até que Washington pare de fornecer “cobertura política” às ações do governo de Benjamin Netanyahu, fornecendo-lhe armas, “cujo uso continua a matar a população civil do enclave”, bloqueando quaisquer medidas e iniciativas relevantes do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Aliás, o governo de Joe Biden acabou de aprovar uma venda de armas de cerca de US$ 8 bilhões (49,2 bilhões de reais na cotação atual) para Israel, um pacote que inclui munições de defesa antiaérea, anunciou o Departamento de Estado neste sábado (4).
“É muito desagradável a tática estadunidense de prolongar o tempo em benefício de Israel e impor ao Conselho o apoio às negociações mediadas por Washington sobre um acordo entre Israel e o Hamas, que decorrem há mais de seis meses sem sucesso”, afirmou Nebenzia.
Destacou ainda que as autoridades israelenses, no decurso das negociações, levantaram repetidamente novas condições para chegar a um acordo sobre um cessar-fogo e troca de reféns, transferindo a responsabilidade pela sua suspensão para o grupo palestino.
“Mesmo que um acordo seja finalmente alcançado, a responsabilidade pelas mortes de milhares de palestinos, entretanto, e pelos reféns israelenses que poderiam ter sido salvos há seis meses recai, principalmente, sobre a administração cessante de Biden”, declarou o representante permanente russo.
“CONDIÇÕES DE VIDA INSUPORTÁVEIS”
Da mesma forma, Nebenzia denunciou os ataques contínuos levados a cabo pelas tropas israelenses contra instalações civis, especialmente os hospitais em Gaza. Dado o bloqueio introduzido por Israel, “criou-se um verdadeiro desastre humanitário no enclave palestino, acompanhado de fome generalizada com surtos de doenças infecciosas e a destruição total de infraestruturas vitais”, sublinhou o alto diplomata russo.
“Para onde vão fugir as pessoas que não podem fazê-lo fisicamente? Ou talvez as autoridades israelenses tenham facilitado a evacuação médica e enviado pacientes para o seu próprio país para tratamento?”, perguntou ele, acrescentando que, pelo contrário, estão impedindo as atividades das organizações humanitárias na área. “Em geral, tudo está subordinado a um objetivo: limpar a Faixa de Gaza do maior número possível de palestinos que lá vivem e criar condições de vida insuportáveis para aqueles que lá permanecem”, sublinhou Nebenzia.
Além disso, destacou que a Rússia tem razões para acreditar que o Exército israelense, “obcecado com a punição coletiva dos habitantes de Gaza”, destrói o sistema de saúde de Gaza “de forma sistemática e deliberada”. Neste contexto, Nebenzia referiu-se ao apelo do chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que no final de dezembro pediu que Tel Aviv deixasse de atacar instalações médicas no enclave e enfatizou uma grave ameaça para o sistema de saúde da Faixa de Gaza.
ÚNICO REFÚGIO POSSÍVEL VIROU TRAMPA MORTAL
“A desumanidade das ações de Israel, apoiadas pelo apoio incondicional de Washington, torna-se ainda mais evidente, dado que mesmo antes dos últimos ataques aos hospitais no norte do enclave, 14.000 pessoas, incluindo mulheres, crianças e deficientes, necessitavam de evacuação médica”, frisou o representante permanente russo.
“Como se os incessantes bombardeios e a terrível situação humanitária em Gaza não fossem suficientes, o único refúgio onde os palestinos deveriam sentir-se seguros tornou-se uma armadilha mortal de fato”, denunciou Volker Türk, chefe do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, ACNUDH.
Por todas estas razões, Türk indicou que é essencial que sejam realizadas investigações independentes, exaustivas e transparentes sobre esses incidentes contra o sistema de saúde da Faixa e que haja responsabilização por todas as violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos que ocorreram. “Todos os
trabalhadores médicos detidos arbitrariamente devem ser libertados imediatamente”, concluiu, instando Tel Aviv a facilitar o acesso da população palestina a cuidados médicos adequados.
MAIS DE 25% DA POPULAÇÃO PRECISA DE CUIDADOS MÉDICOS
Por sua vez, o representante da Organização Mundial da Saúde no território palestino ocupado, Rick Pepperkorn, disse que aproximadamente 7% da população da Faixa de Gaza foi morta ou ferida desde Outubro de 2023.
Acrescentou que mais de 25% da população sofre de lesões que mudam as suas vidas e que exigirão esforços intensivos de reabilitação e assistência médico-hospitalar.
Pepperkorn salientou que os hospitais tornam-se regularmente campos de batalha, tornando-os incapazes de prestar os seus serviços e privando aqueles que necessitam de cuidados vitais. Acrescentou que o setor da saúde em Gaza está sendo sistematicamente desmantelado e levado ao limite devido à grave escassez de suprimentos médicos, equipamentos e especialistas.
Ele disse que apenas 16 dos 36 hospitais de Gaza ainda estão parcialmente funcionando, com uma capacidade de apenas 1.822 leitos, muito abaixo das necessidades para enfrentar a enorme crise de saúde na Faixa.
Pepperkorn falou sobre o ritmo lento das evacuações médicas e disse que mais de 12 mil pessoas tiveram de ser transferidas para fora de Gaza para receber tratamento. Ele enfatizou que o atual ritmo lento e contínuo significa que levará entre 5 e 10 anos para evacuá-los, incluindo milhares de crianças.
Apesar dos desafios, Pepperkorn disse que a Organização Mundial da Saúde e os seus parceiros estão fazendo todo o possível para permitir que os hospitais e serviços de saúde continuem a funcionar, mas citou obstáculos e restrições ao fornecimento de suprimentos a Gaza e em toda a Faixa.
Pepperkorn assinalou que apenas 40% das missões da Organização Mundial da Saúde em Gaza foram facilitadas durante 2024, o que afetou diretamente a capacidade da organização de doar suprimentos a hospitais, transportar pacientes gravemente doentes e enviar equipes médicas de emergência.