
BIGA PEREIRA*
O projeto representado por Melo para Porto Alegre – e sustentado por sua base na Câmara Municipal – está muito distante dos desejos e necessidades da população da cidade que constrói suas vidas e lutas nas periferias. Uma imagem construída com fartos recursos financeiros e muita publicidade, a fábula do homem simples do povo, que gosta da cidade, que conhece suas ruas, vilas e vielas, se desmancha no ar quando vimos e escutamos a cidade real, para bem além da orla.
Na gestão Melo o povo não cabe no orçamento. Sua base de sustentação na Câmara reflete seu pouco apreço à democracia e a inaptidão ao diálogo para a construção de políticas que atendam às necessidades da população. Todas as emendas ao orçamento apresentadas pela bancada de oposição foram rejeitadas.
Porto Alegre tem mais da metade da sua população composta por mulheres, mas Melo e sua base desprezam a principal população da cidade. O governo indicou apenas R$9.250,00 para a Casa da Mulher Brasileira, ou seja, menos de R$800,00 por mês, o que impossibilita o acolhimento de mulheres e seus filhos vítimas da violência doméstica. Na educação infantil os dados também são preocupantes, Porto Alegre conta com um déficit de mais de 12.000 vagas para as crianças nas creches, impossibilitando o desenvolvimento de cada criança mas também que as mães trabalhem e/ou estudem, fazendo com que elas se dediquem exclusivamente ao trabalho não remunerado do cuidado.
Na saúde o investimento também é irrisório, afinal não existe nenhum programa de saúde integral voltado às mulheres. O atendimento precário na saúde revela a incompetência da gestão municipal que se desresponsabiliza e simplifica soluções. E para complementar a política de exclusão de Melo, os valores para políticas de combate ao racismo caem do indicativo de R$401.000,00 neste ano para R$26.000,00 em 2024, acompanhada pela extinção de recursos da semana da consciência negra.
Os alagamentos, que persistem há anos em pontos cruciais da cidade, e passam a ser mais preocupantes com a crise climática, tem merecido um olhar burocrático da atual gestão; afinal para a melhoria no sistema de proteção contra enchentes o orçamento do Melo propõe risíveis quatro mil reais.
Estes são apenas alguns exemplos, e representam os pontos centrais que ao tempo em que nos informam acerca da essência das escolhas políticas do governo Melo, também situam bem os desafios centrais para a escolha do próximo governante e o papel dos setores progressistas e de esquerda neste processo.
Toda gestão é feita de escolhas políticas e as escolhas do chefe do executivo municipal, a julgar por suas ações e pela maioria dos projetos encaminhados à Câmara, são voltadas às grandes corporações imobiliárias da cidade. Prova disso são as desonerações a grandes investidores sem a necessária contrapartida para contemplar um conjunto de políticas públicas que apontem para um projeto de desenvolvimento socialmente sustentável a longo prazo e responsável.
A cidade está atenta às contradições que representam a atual gestão. São questões que não podem ser enfrentadas através de mera retórica de disputa eleitoral ou soluções construídas nos silêncios dos gabinetes da política.
Compartilho da reflexão feita por Manuela de que “o eleitorado apontou um caminho nas últimas eleições. Deu um recado claro no sentido da renovação, da criatividade, da inventividade, da combatividade. E exigiu de nós um olhar renovado para a periferia da cidade”.
Porto Alegre quer e espera mais de suas representações políticas. As eleições de 2020 e 2022 nos deram uma importante lição. A unidade dos setores democráticos, progressistas e de esquerda pode ser o caminho viável para superar a força da máquina e das Fake News, que constroem imagens para ocultar a verdadeira natureza farsesca e elitista do líder que se diz popular e despreza as razões do povo ao governar.
A construção de uma alternativa e um programa democrático para Porto Alegre deve ouvir, debater, sentir o pulsar e aliançar-se com a população que quer e merece solução para seus problemas, precisa de mais e não menos democracia quando seu futuro é alterado pelas decisões políticas de seus governos.
Por isso, reitero as palavras da Manuela. Também, como ela, acredito que “é possível interromper o ciclo de descaso com nosso povo e nossa cidade”.
*Biga Pereira é vereadora na capital gaúcha, Porto Alegre, pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB)