O cantor e compositor Milton Nascimento dedicou seu show de despedida à grande amiga e também cantora Gal Costa, que morreu nesta última quarta (9). Realizado no Mineirão, em Belo Horizonte, o espetáculo teve lotação máxima, com um total de 57 mil ingressos vendidos. A apresentação da turnê “A Última Sessão de Música”, realizado neste domingo (13), contou com a presença de convidados especiais, como o filho de Gal, Gabriel Costa.
“Esse show é dedicado à minha querida Gal Costa”, declarou Milton, ao final da primeira música, “Ponta de Areia”. Antes da abertura da apresentação, uma foto de Gal abraçada a Milton havia sido exibida nos telões do palco, junto a um vídeo dos dois cantando “Paula e Bebeto”.
A turnê, que passou por outras seis capitais brasileiras e países como Estados Unidos, Portugal e Itália, teve seu encerramento em Minas Gerais por escolha do músico em homenagem ao estado que o inspirou.
Wagner Tiso, Toninho Horta, Beto Guedes e Lô Borges subiram ao palco ao lado de Milton, reeditando o Clube da Esquina, memorável álbum lançado na década de 60, na capital mineira, do qual participaram, entoando “Para Lennon e McCartney” e “Um Girassol da Cor de Seu Cabelo”.
“Baita privilégio estar aqui. Sua música transforma as pessoas e o país”, afirmou Samuel Rosa, fundador do grupo Skank, que também esteve no palco com “Bituca”, apelido recebido por Milton quando criança por “fazer bico” quando era contrariado.
80 ANOS
Nascido no Rio de Janeiro, o artista, que completou 80 anos no dia 26 de outubro, é filho de uma empregada doméstica e ficou órfão aos dois anos de idade. Foi adotado por Lília, uma das filhas da patroa de sua mãe, que tinha acabado de se casar, e se mudou com o marido para Minas Gerais, levando o menino junto.
Foi ali que Miltonconheceu o compositor e pianista Wagner Tiso, com quem formou o grupo W’s Boys, que se apresentava em bailes. Ali também compôs a primeira música, “Barulho de Trem”, em 1962.
Em 1967, ficou em segundo lugar no Festival Internacional da Canção, com “Travessia”, uma parceria com Fernando Brant, e que batizou o primeiro álbum, lançado no mesmo ano. Surgia, assim, o primeiro reconhecimento nacional.
Outro marco na carreira do artista foi o Clube da Esquina, originado a partir dos encontros com os jovens irmãos Lô e Márcio Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e Flávio Venturini.A partir dali, passou a ter suas canções gravadas por grandes artistas, dentro e fora do Brasil, como Elis Regina, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Wayne Shorter, Pat Metheny e Peter Gabriel, entre outros.
“Em 1998, foi agraciado com o Grammy Melhor Álbum de World Music, por Tambores de Minas. Mas ele já havia criado uma música universal muito antes de criarem a expressão “world music” e uniu a América Latina de modo como pouquíssimos fizeram”, destaca a especializada revista Rolling Stones.
OBRIGADO BITUCA
No repertório de “A Última Sessão da Música”, em sua maior parte foram apresentadas canções compostas nos anos entre 1960 e 1980. A abertura com “Ponta de Areia”, foi inspirada em reportagem sobre a desativação de uma ferrovia que ligava Minas ao litoral sul da Bahia.
Cartazes com a frase “obrigado, Bituca” foram distribuídos aos espectadores na entrada do estádio e exibidos ao longo do show. O público, composto por fãs jovens e mais velhos, cantou alto em todos os momentos da apresentação. No entanto, quando Milton tocou “Amor de Índio”, de Beto Guedes, e depois “Cais” e “Tudo o que Você Podia Ser”, o Mineirão estremeceu. Só que não movido pela bola e por gols, mas pelo eco de vozes em uníssono, com Milton.
E dessa vez, se “Bituca” “fez bico”, certamente foi por emoção. E não por contrariedade.
JOSI SOUSA