
“Se fizermos uma refeição por dia, temos sorte, e a maioria das pessoas no hospital trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana. É muito difícil continuar assim”, afirmou o cirurgião Fadel Naim, diretor do hospital Al-Ahli Al-Arabi, no norte das terras palestinas
O depoimento do doutor Fadel Naim, cirurgião e diretor do hospital Al-Ahli Al-Arabi, no norte da Faixa de Gaza, retrata o terrorismo de Estado praticado por Israel contra os 2,1 milhões de palestinos que sobrevivem à sua política de fome e desnutrição generalizada.
A ação deliberada de “cerco e aniquilamento” de bombardeio e tiros do exército sionista recai não somente espalhando morte e dor sobre a população civil palestina, mas também nos que juraram fazer das suas vidas um escudo para defendê-las, como são os profissionais da saúde. É isso o que demonstra o crescimento vertiginoso da desnutrição entre os médicos e enfermeiros, incluindo dois que desmaiaram durante cirurgias esta semana.
“Como sou o diretor do hospital, uma das minhas tarefas é encontrar comida para a equipe. Não estamos recebendo comida suficiente. Se fizermos uma refeição por dia, temos sorte, e a maioria das pessoas trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana. É muito difícil continuar assim”, relatou Naim.
Mais do que números, são seres humanos submetidos à política nazi-israelense, que raramente conseguem romper o cerco da desinformação das grandes corporações midiáticas. É o caso do doutor Mohammad Saqer, do hospital Nasser, no sul de Gaza, um profissional tão faminto que às vezes tem dificuldade até mesmo para se manter em pé enquanto trata os pacientes gravemente doentes.
Na quinta-feira (24), ele desmaiou enquanto prestava socorro na enfermaria. E então, momentos depois de se recuperar, já estava de volta para terminar um plantão de 24 horas.
“Meus colegas médicos me pegaram antes que eu desmaiasse e me deram soro intravenoso e açúcar. Havia um médico estrangeiro que tinha um pacote de suco Tang e preparou para mim. Eu bebi imediatamente. Não sou diabético, era fome. Não havia açúcar. Não havia comida”, diagnosticou Saqer. “Estamos fisicamente esgotados e somos obrigados a tratar pacientes que estão igualmente esgotados. Pessoas exaustas tratando de outras pessoas exaustas, famintos tratando de famintos, fracos tratando de fracos”, acrescentou.
CAOS GENERALIZADO: FOME EXTREMA E EXAUSTÃO POR TODA GAZA
A situação descrita pelos médicos do hospital é de caos generalizado: fome extrema e exaustão, que abrange toda Gaza. Para encarar plantões cada vez mais exaustivos, numa única refeição por dia, dois profissionais precisam compartilhar uma tigela de arroz puro. Quando há!
À medida que a crise se agrava, com Trump e Netanyahu planejando transformar estas terras palestinas em um resort à beira do Mediterrâneo, as mesmas pessoas que se empenham em manter viva a população sofrem junto com seus pacientes completemente desnutridos, com toda a estrutura hospitalar mergulhada em um colapso sem precedentes.
Em defesa da vida, um grupo de mais de 100 organizações humanitárias internacionais lançou um manifesto recentemente alertando que estavam “testemunhando seus próprios colegas e parceiros definhando diante de seus olhos”.
Conforme o doutror Ahmad Al-Farra, diretor do Hospital Al-Tahrir de Pediatria e Obstetrícia do Complexo Médico Nasser, a fome é tanta que “a maioria dos médicos agora sofre de depressão, fraqueza generalizada, incapacidade de concentração e perda de memória”. “Seus níveis de energia estão extremamente baixos, nada como antes. A maioria perdeu a paixão pela vida”, relatou à CNN.
Al-Farra esclareceu que a cozinha do seu hospital ficou totalmente sem comida e que a cozinha humanitária internacional, que antes alimentava médicos, enfermeiros e familiares de pacientes, também fechou. “Todos que trabalham no hospital estão sem comida. Médicos e enfermeiros estão trabalhando em turnos de 24 horas com o estômago vazio”, denunciou.
“A ala que trata crianças desnutridas no Hospital Nasser está cheia de bebês tão magros que nem parecem humanos. Os ossos do rosto, da coluna e das costelas parecem estar salientes sob a pele. Seus membros longos e finos parecem macarrão mole, mal se movendo”, demonstra um vídeo da CNN. Na reportagem filmada na sexta-feira (25), a imagem e o som de muitos bebês chorando, mas com alguns tão fracos que nem conseguem mais chorar. Seres pequeninos que simplesmente ficam deitados em berços ou colchões colocados no chão observando a morte chegar.
As mães que buscam socorro também são magras, e se encontram exaustas e aterrorizadas. Yasmin Abu Sultan tentava alimentar sua filha Mona com uma seringa. “Ela precisa de frutas. Precisamos de vegetais, mas não há nada… as mães costumavam amamentar. Não dependíamos de fórmula, agora a maioria das mães depende dela devido à falta de comida. É impossível para as mulheres amamentarem sem comida”, lamentou.
Outra mãe, Najah Hashem Darbakh, disse que, embora os médicos tenham dado suplementos à sua filha Sila Darbakh, não havia fórmula disponível para ela. Ela precisa do leite porque sofre de diarreia crônica e desidratação. “Disse a eles que precisava de leite. Eles disseram: ‘Você pode ir e tentar conseguir leite sozinha, se puder’, mas só aqui nesta sala, quatro crianças morreram de desnutrição. Estou com medo de que minha filha seja a quinta”, contou Najah.