Milhares de palestinos estão impedidos de retornar a seus locais de moradia no norte da Faixa de Gaza por tropas israelenses que – apesar do acordo de cessar-fogo – permanecem ocupando o chamado Corredor Netzarim que divide a Faixa de Gaza entre norte e sul.
Os palestinos que tentam agora retornar foram – durante os quase 500 dias de bombardeio – a deixar seus lares, a grande maioria de casas e prédios que eram reduzidos a escombros com a ferocidade das tropas de ocupação exacerbada na região norte, que margeia o mediterrâneo.
Os deslocados, no trajeto de retorno interrompido, passam as noites ao relento, enfrentando um frio intenso nas proximidades da costa do Mediterrâneo, à espera de poder regressar às suas cidades e aldeias depois de terem sido empurradas para o sul pelo terrorismo israelense.
A agência de notícias palestina, WAFA, vem relatando da gravidade do bloqueio e de sua violação dos termos do “cessar-fogo” que entrou em vigor no dia 19.
Em mais um pretexto grosseiro para descumprir o que foi acordado, a ocupação condiciona o regresso dos deslocados à libertação da prisioneira Arbel Yehuda, a que restou detida das cinco sentinelas militares aprisionadas pela Resistência Palestina em 7 de outubro de 2023, uma vez que quatro delas já foram liberadas de Gaza neste sábado.
Um correspondente da WAFA relatou que dezenas de milhares de pessoas deslocadas, muitas delas famílias com crianças pequenas, estão ansiosamente esperando a chance de voltar para suas casas. Para muitos, esse retorno exige uma caminhada extenuante de quilômetros através de escombros e destruição.
DETERMINADOS A RETORNAR
Porém, embora saibam que as suas casas podem ter sido destruídas pelo ataque genocida israelense, muitas pessoas continuam esperançosas e levam consigo tendas que irão montar ao lado de suas casas, na expectativa de reconstruí-las.
Ismail al-Shanbari, de Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza, expressou a sua determinação em regressar, apesar das perdas devastadoras que lhe foram impostas.
“Minha casa foi destruída no início da guerra. Estamos cansados desta humilhação e deste deslocamento. Retornaremos custe o que custar. Seja no Norte ou no Sul, voltaremos às nossas terras, mesmo que tenhamos que armar tendas sobre os escombros das nossas casas”.
A palestina Sara Baker, grávida de sete meses, acrescentou: “Não tenho ideia do que aconteceu com a minha casa em Gaza, mas voltarei, mesmo que tenha que caminhar todo o caminho”.
“NÃO HÁ GARANTIA DE SEGURANÇA”
Os depoimentos à mídia palestina se multiplicam, mostrando a situação da população. Mohammad al-Kahlout, expressou preocupação com a segurança da sua família enquanto espera para voltar ao norte da Faixa de Gaza. “Queremos regressar a casa, mas tememos que a ocupação israelense nos atinja novamente. Não há garantia de segurança durante esta viagem”.
Outra mulher deslocada descreveu como ela e a sua família foram forçadas a queimar pedaços de madeira que estavam sendo usados para construir abrigos improvisados apenas para se manterem aquecidos durante a noite. Sem outros meios de aquecimento, eles dependem desses pequenos incêndios para sobreviver enquanto esperam na incerteza de não saber até quando ficarão ao relento.
Desde o início da agressão israelense contra Gaza, em outubro de 2023, a situação foi se tornando cada vez mais grave. Até 26 de janeiro de 2025, a agressão tinha deixado mais de 158 mil palestinos mortos e feridos, a maioria deles mulheres e crianças. Mais de 14 mil pessoas continuam desaparecidas e mais de 1,93 milhões de palestinos, ou 85% da população de Gaza, foram deslocados devido à destruição das suas casas, informou o Ministério da Saúde da Palestina.
Mais de 80% das infra-estruturas de Gaza está em ruínas. Cerca de 1,6 milhões de pessoas deslocadas estão atualmente alojadas em campos e tendas superlotadas, lutando para sobreviver no meio à crise humanitária gerada pela agressão genocida israelense.
Desde o anúncio do acordo de cessar-fogo, enquanto o lado palestino vem cumprindo seus termos, o regime de fascismo e racismo de Netanyahu faz uma agressão atrás da outra para tencionar as relações, ainda precariamente estabelecidas, envolvendo forças israelenses, resistência palestina e mediadores internacionais, no afã de levar os palestinos a romperem o acordo, houve mais de 130 assassinatos de palestinos desde o anúncio do cessar-fogo; desde então seguem agressões a aldeias e cidades palestinas na Cisjordânia, a mais atroz delas em Jenin; prisões em massa seguem ocorrendo, a maior delas no mesmo dia em que o acordo liberava a primeira leva de prisioneiros das masmorras de Israel.