Empresa pagou multa de 487 milhões de dólares e passará a ser monitorada por indicados do Departamento de Justiça dos EUA. Porta-voz da fornecedora de peças Spirit, Joe Buccino, avalia que uso de “peças defeituosas, forjadas e pirateadas” multiplicaram acidentes
Em meio a denúncias de uso de “peças defeituosas, forjadas e pirateadas” que multiplicaram acidentes e potencializaram multas milionárias pela morte de centenas de passageiros, a Boeing admitiu à Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) ter utilizado “titânio falsificado” na fabricação de jatos comerciais. O incidente veio à tona quando um dos seus fornecedores detectou orifícios nas peças das aeronaves devido à corrosão prematura do material.
Atualmente a Boeing está sob investigação sobre fraudes por ter burlado o governo estadunidense nos processos de certificações do modelo de avião 737 Max. Exatamente o mesmo modelo envolvido em dois acidentes, em 2018 e 2019, que tiraram a vida de 346 pessoas. Em janeiro deste ano, a novela se repetiu com uma porta estourando em pleno voo.
CONSPIRAÇÃO PARA FRAUDAR
Em declaração recente ao Departamento de Justiça dos EUA, a empresa admitiu ‘conspiração para fraudar’ certificações de aeronaves. Ela terá ‘liberdade condicional’ e será supervisionada por indicado pelo Departamento. De acordo com a decalaração, a empresa pagará multa de US$ 487 milhões
Os componentes de titânio teriam sido com documentação falsificada e estão sendo investigados pela Administração Federal de Aviação, pela Spirit AeroSystems, que fornece fuselagens para a Boeing e asas para a Airbus.
“Estamos removendo todas as peças afetadas antes da entrega e garantindo que nossa frota em serviço continue a voar com segurança”, declarou um porta-voz da Boeing, assegurando que – uma vez sob investigação – está redobrando a atenção nos testes para que a aeronavegabilidade não seja comprometida.
A Airbus também admitiu estar ciente da gravidade do problema e ter conduzido uma série de testes para garantir a qualidade das peças utilizadas em suas aeronaves.
Principal fornecedora de ambas as fabricantes, a Spirit AeroSystems foi acionada pela Administração Federal de Aviação para a investigação. A empresa afirmou ter removido todas as peças suspeitas de suas linhas de produção e realizado mais de 1.000 testes para comprovar a qualidade dos materiais afetados.
A revelação do uso do titânio falsificado agravou as preocupações dentro da indústria aeroespacial, destacando a importância da integridade dos materiais utilizados na fabricação de aeronaves comerciais. A investigação da FAA segue em andamento para determinar a dimensão do problema e evitar impactos futuros na segurança das operações aéreas.
PROBLEMAS DE SEGURANÇA SE ALASTRAM
Em janeiro, um painel da fuselagem explodiu em um jato Boeing 737 Max 9 da Alaska Airlines em pleno voo, o que levou a várias investigações federais nos EUA.
Em abril, a Boeing comunicou à FAA sobre registros de inspeção potencialmente falsificados relacionados às asas dos aviões 787 Dreamliner e que ainda poderia ter driblado as inspeções necessárias envolvendo as asas do jato, tornando necessário reinspecionar alguns dos Dreamliners ainda em produção.
Em maio, a Boeing apresentou um plano à Administração Federal de Aviação comprometendo-se em adotar “melhorias de segurança” e a realizar reuniões semanais com a agência reguladora. O executivo-chefe da empresa, Dave Calhoun, deverá depor em breve sobre os reiterados problemas de segurança da Boeing.
O uso de titânio falsificado, que vinha sendo escondido até então, ameaça estender os problemas de segurança do setor para além da Boeing e para a Airbus. Os aviões que incluem componentes feitos com o material foram construídos entre 2019 e 2023, entre eles alguns aviões Boeing 737 Max e 787 Dreamliner, bem como jatos Airbus A220, sem haver informações quais ainda estão em serviço ou quais companhias aéreas os possuem.
Conforme o porta-voz da Spirit, Joe Buccino, “assim que percebemos que o titânio falsificado entrou na cadeia de suprimentos, imediatamente confinamos todas as peças suspeitas para determinar o escopo dos problemas”.