Previsão é de mais dois aumentos na taxa básica de juros (Selic) de 0,50 ponto percentual este ano
Os bancos e instituições financeiras subiram novamente a previsão da taxa básica de juros (Selic) para o fim deste ano, de 11,50% para 11,75%, segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC), divulgado nesta segunda-feira (30).
Para a inflação, a previsão ficou em 4,37% ao ano, a mesma porcentagem estimada há uma semana. As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro (alta de 3%) e do câmbio (R$ 5,35) também são as mesmas da semana passada.
Ou seja, o movimento altista da Selic – sem nenhuma justificativa plausível – ocorre para pressionar o BC a confirmar novos aumentos da taxa de juros, como sinalizado na última ata da reunião em que a taxa Selic subiu 0,25 ponto percentual, de 10,50% para 10,75%. A previsão passou a ser de mais duas altas de 0,50 ponto percentual na Selic nas reuniões de novembro e de dezembro deste ano, encerrando o ano em 11,75%.
O Brasil é o paraíso do rentismo com uma taxa de juros reais acima dos 7% (descontada a inflação), o segundo maior do mundo. Por outro lado, os juros em níveis elevados desestimulam os empresários produtivos a investirem na economia real, inibem o consumo interno de bens e consumo no país e levam para o aumento do endividamento público.
Com a Selic em níveis escorchantes, o setor público (União, Estados/municípios e estatais) gastou R$ 855 bilhões (7,55% do PIB) com pagamento de juros, em 12 meses até agosto, segundo dados do próprio BC, divulgados nesta segunda-feira (31). No mesmo intervalo de meses de 2023, esse gasto foi de R$ 689,4 bilhões . Ou seja, um aumento de mais de R$ 165 bilhões de um ano para o outro.
Como diz o economista Paulo Kliass, o boletim do BC é resultado de uma consulta “a apenas 171 indivíduos, esta mui seleta comunidade que recebe o convite quase sigiloso para responder às questões elencadas na pesquisa”.
“Compõem a chamada “crème de la crème” da nata financista. São todos donos, diretores ou altos dirigentes de bancos, gestoras de investimentos, consultorias de negócios e instituições financeiras assemelhadas. Não participa da ausculta nenhum representante de setores da economia real, a exemplo de indústria, agricultura, serviços ou comércio. Por outro lado, tampouco são chamados a opinar professores, pesquisadores, assessores do movimento sindical, entidades da sociedade civil ou de associações do movimento popular. Finalmente, não são coletadas as avaliações de economistas e analistas que pensem de forma diversa daquela ditada pelo establishment neoliberal conservador. Em resumo, trata-se de uma pesquisa altamente viesada, praticamente uma conversa entre amigos durante o fim de semana, com vistas a preparar as ações de lucros especulativos a serem auferidos a partir de cada nova segunda-feira”, sustentou Kliass.
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