Campos Neto insiste em juros mais altos
As instituições financeiras reduziram suas projeções para inflação deste ano, de 5,12% para 5,06%. Foi a sexta semana seguida de queda, segundo divulgou o Banco Central nesta segunda-feira (26). Foi a primeira reunião após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC que decidiu manter a taxa básica de juros da economia (Selic) em 13,75%, a pretexto de combater a inflação que consideram, falaciosamente, de demanda.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial da inflação, vem desacelerando e bateu a marca de 3,94% no acumulado de doze meses até maio. Por outro lado, os juros reais (descontada a inflação) vem subindo, garantindo que os brasileiros sigam sendo os maiores pagadores de juros do mundo, e “prejudicando todos os setores da economia”, como denunciou o vice-presidente Geraldo Alckmin.
O boletim Focus é resultado de consulta pelo BC a 100 economistas de instituições financeiras e divulgado semanalmente. Sobre as projeções para a taxa de juros, eles mantiveram a expectativa para a Selic em 12,25% no encerramento de 2023, o que significa que, pela mediana das projeções, metade das instituições ouvidas pelo BC indicaram uma Selic maior. Para 2024, os representantes do “mercado” também mantiveram a projeção de juros em elevados 9,5%.
Desde agosto de 2022, a Selic está em 13,75% ao ano, fazendo a economia desacelerar com quedas nas atividades industriais, do setor de serviços e varejo, da geração de empregos, além do aumento da inadimplência das famílias e das empresas.
Ao afirmar que o Banco Central está “contratando um problema com essa taxa de juros”, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou na sexta-feira (23) que a decisão do Copom está em descompasso com “que está acontecendo com o Brasil” e afirmou que o BC deveria levar menos em consideração o boletim Focus na hora de tomar suas decisões. Hoje (26), o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, ressaltou que, com a queda das expectativas de inflação, o país tem hoje uma taxa de juros real “bastante expressiva”, que está elevando o endividamento público “O custo de juros vai ser pago pela sociedade em algum momento”, lembrou.
Em doze meses até abril, o gasto do setor público com os juros – isto é, a transferência de renda de toda sociedade, via juros, aos bancos e rentistas – atingiu a soma de R$ 659,5 bilhões, segundo dados do próprio BC.
Na sexta-feira (23), a senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA) enviou ao Conselho Monetário Nacional (CMN) o pedido de afastamento de Roberto Campos Neto da presidência do Banco Central. A parlamentar denuncia que há “comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos da instituição” por parte de Campos Neto. Em sua rede social, a senadora afirmou que “Campos Neto sabota o Brasil”.