Com 96,49% das atas computadas, Luis Arce é o presidente eleito da Bolívia no primeiro turno por maioria absoluta. Na noite da quinta-feira (22) atingia 54,6% dos votos, e Carlos Mesa, 29,06%. O Movimento Ao Socialismo (MAS), com Arce como candidato, conseguiu 7,5% de respaldo eleitoral a mais que Evo Morales nas eleições anuladas de 2019, quando este teve 47,08% dos votos.
Para lideranças do MAS e seus movimentos sociais, a vitória de Arce que quase duplica a votação de seu adversário, Carlos Mesa, reflete que o vínculo do povo boliviano com o partido saiu fortalecido. E que contribuiu para isso a defesa da unidade da Bolívia e o compromisso expresso de governar para todos os bolivianos, que caracterizaram a campanha de Luis Arce e Davi Choquehuanca.
O resultado da eleição presidencial incentivou avaliações acerca dos motivos da ampla vitória, bem como a respeito dos seus desdobramentos.
O historiador e analista político Luis Dufrechou assinalou que o novo vice presidente eleito deve aprofundar o processo de renovação do MAS e afirma que “haverá uma maior autocrítica sobre o legado de Evo Morales”, acrescentado que “Choquehuanca já se mostrara bastante crítico na campanha no que diz respeito ao erro de Evo ter se lançado à reeleição” [apesar da derrota no referendo de fevereiro de 2016].
Descendente de aimarás, David Choquehuanca nasceu em uma comunidade às margens do lago Titicaca e se define como anticapitalista e anti-imperialista.
Em entrevista a Fernando Molina do jornal El País, o presidente eleito, Luis Arce, sublinhou que o novo governo aplicará seu próprio projeto que implica em “fazer um programa de segurança alimentar com soberania, desenvolver o mercado interno, gerar nossos processos de industrialização do lítio [insumo do qual a Bolívia detém a maior reserva mundial], do ferro do Mutún, exportar energia elétrica, continuar com nossos processos industrializadores do gás, promover o turismo interno. E vamos continuar com o nosso plano estratégico de manter os recursos naturais em mãos do Estado”. E afirmou que Evo Morales não interferirá no seu governo.
“Ele não vai mudar, é um líder indiscutível e histórico do processo de mudança, é um líder internacional. Não vai mudar e tampouco pretendemos que mude. Vai ser assim, apenas. Mas a verdade é que não terá nenhuma participação no Governo; ele tem seu papel como presidente do MAS, que é importantíssimo. Nesse tempo percebemos que falhamos ao não fortalecer as instâncias do próprio MAS. Ele pode contribuir nas relações [do Governo] com as organizações sociais. E também vai estar bastante ocupado tentando resolver os processos que tem. Não vemos que o que o companheiro Evo possa dizer ou fazer que vá nos afetar. O que fizermos e não fizermos, os erros que cometermos, isso é o que pode nos afetar. A bola está no nosso campo”, finalizou.