Novo sistema universal e gratuito de saúde começa a funcionar no dia 2 de janeiro – (matéria originalmente publicada no portal Vermelho, link – http://www.vermelho.org.br/noticia/317735-1)
Enquanto no Brasil a proposta é a de privatizar a saúde, na Bolívia o ministro da Saúde, Rodolfo Rocabado, informou que o país já conta com 3.265 centros de saúde preparados para atender a população no que chama de primeira fase de implantação do Sistema Único de Saúde (SUS). Da totalidade desses centros, 3.090 estão enquadrados como de primeiro nível, 56 de segundo nível e 35 de terceiro nível. E a partir de agora o trabalho será de fortalecimento das equipes e a aquisição de melhores equipamento para garantir atenção médica de qualidade.
Conforme o ministro, a população deverá se inscrever nesse plano de saúde pública a partir do dia 2 de janeiro, nos centros de primeiro nível (atenção básica) mais próximo de suas residências, apenas apresentando uma fatura de água, de luz ou qualquer coisa que comprove a residência. Já nesse momento de inscrição, haverá uma consulta médica e a pessoas será avaliada para determinar se está com boa saúde ou já necessita de cuidados especializados.
A implantação do SUS na Bolívia não acontece sem a resistência do setor privado e inclusive dos próprios médicos, que não querem perder seus clientes particulares para os serviços do estado. Justamente por isso o Colégio dos Médicos, que é a entidade máxima daqueles que praticam a medicina no país, está ameaçando realizar uma greve de 72h, visando pressionar o governo para não criar o plano público. O governo tem buscado sistematicamente conversar com o Colégio dos Médicos, inclusive convocando novas mesas de trabalho, mas as negociações não avançam.
Evo Morales está cumprindo uma antiga promessa que é a de garantir saúde de qualidade aos mais empobrecidos e a implantação do SUS deverá favorecer, de imediato, pelo menos 51% da população que sempre esteve refém do médico particular, sem acesso a um serviço público seguro. E é para garantir a implantação do sistema que a Confederação de Mulheres Camponesas Bartolina Sisa, que concentra a luta das mulheres no campo, já se colocou em estado de emergência assinalando que vai estar em luta também, no contraponto com os médicos.
Da mesma forma, a Federação de Juntas Vecinales da cidade de El Alto, conhecida por sua capacidade de organização e de resistência, estará mobilizando toda a gente para garantir que o funcionamento desse benefício entre em vigor o mais rápido possível.
O Sistema Único de Saúde foi construído a partir de inúmeros debates com as entidades e comunidades, nos nove departamentos (estados) e na região do Chaco, em Encontros pela Saúde e a Vida Digna, do qual participaram diretamente mais de 14 mil pessoas, e foi daí que saíram as linhas estratégicas do sistema que será universal e gratuito. “Temos que trabalhar normas para prevenir doenças… as mudanças são difíceis, mas é necessário buscarmos que a saúde pública seja melhor que a privada”, afirmou Evo Morales.
O SUS da Bolívia, que constitucionalmente é um estado plurinacional, além de proporcionar centros bem equipados, com pessoal de qualidade, garantirá também a incorporação da medicina tradicional e a interculturalidade como componentes chave do novo modelo de atenção, incorporando a ativa participação das organizações sociais. Não é sem razão o rechaço de muitos médicos que ainda vêem a medicina tradicional como “coisa de índio, sem valor”. Pois no SUS boliviano esse conhecimento terá valor.
Como no Brasil, a quadro médico da Bolívia ainda é majoritariamente formado por pessoas com mais poder aquisitivo, visto que os cursos de medicina não são baratos. Mas, o governo espera que o Colégio dos Médicos vá se adaptando a essa nova realidade de uma saúde pública enquanto também investe na formação de novos médicos, já com a mentalidade num novo jeito de praticar a medicina, familiar e pública.
Durante todos esses anos que culminaram com a construção desse sistema único de saúde, é importante registrar que a Bolívia contou com o apoio dos médicos cubanos que realizaram inúmeras missões em todo o território, principalmente nos espaços mais empobrecidos onde nenhum médico queria ir, trazendo o legado do cuidado e da proposta de uma medicina da família, pública e gratuita. É por esse caminho que o SUS agora pretende avançar.
Fonte: Instituto de Estudos Latino-Americanos (Iela) / Elaine Tavares / com informações do Diários de Urgência e jornais bolivianos.