Os violentos protestos de setores da oposição boliviana contra a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de permitir a reeleição do presidente Evo Morales e de seu vice, Álvaro García Linera, causaram um prejuízo superior a US$ 6 milhões em quatro instalações públicas no departamento (Estado) de Santa Cruz. Na capital, de mesmo nome, a elite racista já fez tremular a bandeira nazista.
Santa Cruz integra com Beni, Pando e Tarija a chamada “Meia-lua”, a região mais rica, e que o governo dos Estados Unidos tenta unificar com farta distribuição de recursos e “parcerias” para fragmentar o país.
Conforme o último levantamento, os danos causados ao imóvel do Tribunal Eleitoral Departamental (TED) e ao Serviço de Registro Cívico (Sereci) de Santa Cruz ascendem a US$ 3,2 milhões, pois foi na sua maior parte incendiado e destruído, e perdidos outros US$ 2,9 milhões em ativos, com a queima de documentos e o roubo de computadores.
A Força Especial de Luta contra o Crime (Felcc) cruzenha assinalou que, aproveitando-se de uma marcha de universitários de direita, na terça-feira passada, um grupo de vândalos encapuzados dirigiu-se até à sede do TED, que logo depois foi incendiada. Como se não bastasse, os criminosos se dirigiram até a parte superior do edifício, onde funciona o Serviço de Registro, para continuarem a depredação. Posteriormente, foram até a praça 14 de Setembro quebrar as instalações da Receita Federal e da Empresa Nacional de Telecomunicações (Entel) – nacionalizada por Evo -, e roubar equipamentos telefônicos (celulares).
Vários dos vândalos, como Marcelo Subirana e Edson David Antelo, foram identificados pela Polícia e pelo Ministério Público. São integrantes de grupos de oposição e, como criminosos, já se encontram presos. O quebra-quebra responde aos interesses do governo Trump, que volta a mover seus tentáculos internos e externos – como o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luís Almagro – com vistas a sabotar o processo eleitoral e a democracia boliviana.
O presidente Evo assinalou que “da mesma forma que em 2002, os Estados Unidos e políticos servis de direita tratam de frear nossa candidatura com mentiras e desprestígio”. Há 16 anos, frisou, “nos chamavam Bin Laden ou talibã e ameaçavam cortar nossa ajuda. Hoje dizem estar preocupados pela democracia. Bolívia é soberana e repudia todo tipo de ingerência”.
O ministro da Presidência, Alfredo Rada, repudiou o pronunciamento feito domingo pelo porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Robert Palladino. “Em nome da autodeterminação dos povos, da soberania e da dignidade da Bolívia, rechaçamos o comunicado e o rechaçamos porque não admitimos que nenhum poder imperial, por mais poderoso que seja, nos venha a ditar as regras sob as quais devemos atuar”, assinalou.
MESA, MARIONETE DOS EUA
Neste contexto, Rada apresentou uma série de imagens de jornais e vários documentos sobre a escandalosa ingerência exercida pelos Estados Unidos no país andino, particularmente em governos como o de Carlos Mesa – hoje candidato pela oposição – que esteve à frente da Presidência entre 17 de outubro de 2003 até sua renúncia em 9 de junho de 2005.
Recortes de jornais de quando Mesa era presidente e Hormando Vaca Diez presidente do Senado, uma manchete do jornal La Prensa que assinalava: “O Governo e o Parlamento apoiam a imunidade dos Estados Unidos”. Rada lembrou que em maio de 2004 os estadunidenses pressionaram o Estado Boliviano para que aprovasse uma norma que desse imunidade às tropas ianques e de como o então presidente propôs duas leis e o Senado as aprovou.
“Estados Unidos: sem tratado se perderá a ajuda militar, porém não o apoio humanitário”, dizia outra manchete apresentada por Rada, explicando que esta auto-proclamada cooperação dizia que o país perderia ajuda militar, “porém não o apoio humanitário”. A partir de uma cooperação de US$ 8 milhões – que deixaria de receber o país – denunciou Rada, faziam dos bolivianos funcionários do país do norte e as autoridades bolivianas, como o ministro de Defesa de então, apenas escutavam passivamente.
Por estas e outras, Carlos Mesa – que chegou à Presidência após ter sido vice do entreguista Gonzalo Sánchez de Lozada – tem enfrentado o rechaço da população. Recentemente foi vaiado ao sair do canal de televisão RTP, sendo identificado como “vende-pátria” e “sem-vergonha”. O vídeo com as imagens viralizou rapidamente, gerando grande número de comentários contra o oposicionista.