As iniciativas partiram do presidente Luis Arce em encontros bilaterais com chineses e russos por ocasião da Cúpula do BRICS, “Contratos devem ser assinados e projetos materializados o mais rapidamente possível para beneficío mútuo”, defendeu o presidente boliviano
O presidente da Bolívia, Luis Arce, aproveitou a realização da 15ª cúpula dos BRICS (bloco inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Joanesburgo, quinta-feira (24), para propor “a aceleração de parcerias estratégicas para a industrialização do lítio”.
Afinal, desde que as inúmeras propriedades do “ouro branco” foram descobertas, o país que é o maior detentor mundial do precioso mineral passa a ser decisivo para quem quiser produzir aparelhos de ponta na tecnologia, de notebooks, tablets, smartphones a carros elétricos.
Por isso, em reuniões paralelas ao encontro dos BRICS, o presidente boliviano enfatizou a urgência de materializar os diversos acordos fechados pela estatal Yacimientos de Litio Bolivianos (YLB) com a Rússia e a China para transformar “uma boa quantidade de lítio em baterias”, agregando valor à riqueza que tem em abundância.
“Na reunião que tivemos com o chanceler, observamos que gostaríamos que os processos fossem acelerados para que os contratos possam ser assinados o mais rápido possível para iniciar os projetos que beneficiarão não só a Bolívia, mas a Rússia, China e o mundo inteiro”, assinalou Arce.
Às empresas chinesas que estão investindo na produção de carros elétricos, o presidente boliviano reiterou que avancem no desenvolvimento da industrialização. “Queremos avançar na assinatura de contratos, receber o investimento e estar produzindo. Este ano devemos assinar os contratos e investir imediatamente no próximo ano”, frisou.
Em janeiro, a Bolívia assinou um acordo com o consórcio chinês CBC (Catl Brunp & Cmoc), para localizar dois complexos industriais de Extração Direta de Lítio (EDL). Nele, o CBC se comprometeu a investir US$ 1,4 bilhão para a construção de fábricas nas salinas de Uyuni e Coipasa, com capacidade de produção de até 50 mil toneladas de carbonato de lítio por ano. Além disso, em junho foram assinados acordos com empresas pertencentes ao Citic Group da China e da Rosatom Corporation da Rússia para a construção de duas plantas com tecnologia EDL em Pastos Grandes e Uyuni.
“SOBERANIA E COOPERAÇÃO MUTUAMENTE BENÉFICA”
As negociações do governo boliviano materializam o discurso do mandatário na cúpula dos BRICS em prol da “complementaridade, solidariedade, inclusão, consenso, cooperação mutuamente benéfica, respeito pela soberania e autodeterminação dos povos”. Mais do que nunca, ressaltou, é preciso que “o multilateralismo horizontal predomine, buscando garantir que a presença e os interesses das economias emergentes desempenhem um papel decisivo no cenário internacional”, diferente do ciclo do estanho e da borracha.
Por esta razão, Arce disse acreditar que a incorporação da Bolívia ao BRICS já em 2024 será “mutuamente benéfica, devido à concorrência em áreas estratégicas como energia, recursos naturais, agricultura, produção de alimentos para exportação, ciência e tecnologia”. Juntos, o passo será rumo à complementaridade, assinalou.
Dada a posição e seu significado como principal reserva mundial de lítio, ponderou o líder, uma nova etapa se abrirá, com novas abordagens de cooperação, financiamento e investimentos estratégicos em infraestrutura, o que é “essencial para a integração”.
O chefe de Estado boliviano recordou ainda do crescente peso dos BRICS em um mundo que evolui rapidamente para a multipolaridade, com uma economia que está baseada na economia real, sustentada na produção e na industrialização.
Momento ímpar desta caminhada para o continente, salientou, as comemorações do bicentenário da Bolívia, em 6 de agosto de 2025, serão dedicadas ao que chamou de consolidação da “segunda independência”.