Bolivianos se mobilizam contra “decreto de fome” do governo: “pior presente de Natal”

"Decreto de Rodrigo é punhalada pelas costas do povo boliviano", afirma COB (TV Oruro)

Central Operária Boliviana (COB) organiza paralisações contra Decreto 5503 do presidente Rodrigo Paz, que, entre outros graves retrocessos, retira subvenções dos combustíveis. Preço do litro da gasolina dispara em 86% e do diesel em 163%. Cesta básica sobe entre 35 e 49%, enquanto o salário mínimo terá somente 20% de reajuste e será congelado

“Nem bem assumiu a presidência, Rodrigo Paz dá uma punhalada pelas costas do povo com o Decreto 5503 que, entre outros retrocessos, retira as subvenções dos combustíveis”, denunciou o dirigente da Central Operária Boliviana (COB), Mario Argollo, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (18) na cidade de Oruro.

A medida aumenta o preço da gasolina de Bs 3,72 (R$ 2,97) para Bs 6,96 (R$ 5,56) por litro (86%) e o do diesel de Bs 3,74 (R$ 2,99) para Bs 9,80 (R$ 7,83) por litro (160%); enquanto a gasolina Premium salta de Bs 7,22 (R$ 5,77) para Bs 11 por litro (R$ 8,78). Com o “decreto supremo” emitido, a cesta familiar disparou entre 35 e 40%, colocando a inflação totalmente fora de controle. Enquanto isso, o salário mínimo que atualmente é de Bs 2.750 (R$ 2.200) passa a ser de Bs 3.300 (R$ 2.640), um reajuste de 20%, com as evidentes perdas em poder aquisitivo para os trabalhadores.

Em resposta ao anúncio, várias entidades sindicais e de moradores iniciaram protestou em Santa Cruz, El Alto e La Paz, com paralisações marcadas para todo o território nacional a partir desta sexta-feira (19) caso o governo não recue.

“Foi um dia sombrio. Sentimos profunda tristeza pelo nosso povo”, condenou Argollo, alertando que a medida afeta diretamente as famílias mais necessitadas. “O aumento descomunal nos preços dos combustíveis terá um efeito multiplicador que impactará o custo de vida e arruinou o Natal”, destacou o líder da COB. A postura de Rodrigo Paz, enfatizou, foi “covarde”, pois há pouco tempo pedia votos e assim que assumiu se revela “um traidor”.

Eleito por três mandatos consecutivos, o ex-presidente Evo Morales (2006-2019), do Movimento Ao Socialismo (MAS), afirmou que “as medidas representam um desequilíbrio econômico inaceitável entre a renda da população e o aumento dos preços dos combustíveis”. “É uma disparidade que rompe qualquer senso de equilíbrio e afeta mais duramente as famílias trabalhadoras”, apontou.

“SUSPENSÃO DO SUBSÍDIO É PUNIÇÃO SOCIAL”, CONDENA EVO

Para Evo, o país precisa de “decisões responsáveis” que protejam “o bolso dos bolivianos” e garantam a estabilidade econômica. Na sua avaliação, “sem estudos, sem consenso e sem medidas de proteção contra a volatilidade internacional, a suspensão do subsídio se torna uma punição social e não uma solução estrutural”.

“Enquanto os ricos são isentos de impostos, os pobres são sobrecarregados com um aumento desproporcional nos preços dos combustíveis, o que certamente levará a aumentos de preços em todos os níveis. Realmente esse é o pior presente de Natal que o povo boliviano já recebeu”, protestou.

A ex-presidente do Senado e militante do MAS, Adriana Salvatierra, recordou que “entre outros danos à economia nacional, o decreto congela o salário mínimo e desregulamenta o mercado de trabalho, deixando o trabalhador à mercê do capital”. “Os prejuízos são evidentes também quando o governo libera as importações de produtos estratégicos como carne e arroz, que ficam sem qualquer mecanismo de defesa”, assinalou. Além disso, o litro do querosene, fundamental para o abastecimento de comunidades rurais, foi reajustado em 107%.

VICE-PRESIDENTE É CONTRÁRIO AO AJUSTE DECRETADO

O atropelo foi tão absurdo que até mesmo o vice-presidente Edmand Lara e os líderes das principais forças políticas na Assembleia manifestaram sua oposição ao Decreto 5503, relativo aos ajustes financeiros, alertando que levará a um aumento dos níveis de pobreza e desemprego em todo o país. Segundo a análise dos parlamentares, essas medidas econômicas resultarão em uma alta descontrolada dos preços dos bens básicos, o que prejudicará diretamente os setores mais vulneráveis.

Instituição com caráter constitucional de defesa dos direitos humanos, a Defensoria do Povo também reagiu contra as medidas anunciadas pelo governo, “que têm alcance, econômico, social e administrativo, e cujo processo de implementação incidirá em distintos setores da população”. Por isso, diante de suas atribuições constitucionais, ressalta, estará mobilizada para assegurar que sejam resguardados “os direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais, assim como os princípios de igualdade, não discriminação e acesso à informação pública”. Sendo assim, destaca a importância do Estado “promover mecanismos de coordenação e articulação interinstitucional, incluindo a formação de mesas de diálogo e mesas técnicas com a participação dos setores social e produtivo e de outros atores envolvidos, com o objetivo de contribuir para a prevenção de cenários de conflito social e garantir sua aplicação no âmbito do respeito aos direitos humanos”.

Na contramão da enxurrada de manifestações contrárias ao pacote, somente o secretário de Estado de governo dos EUA, Marco Rubio, respaldou o marionete andino. “Os Estados Unidos saúdam o anúncio feito hoje pelo presidente Rodrigo Paz de um importante pacote de reformas econômicas com o objetivo de restaurar a estabilidade, a prosperidade e o investimento na Bolívia após décadas de políticas fracassadas”, festejou Rubio em um comunicado à imprensa.

Segundo o chefe da diplomacia estadunidense, “as reformas anunciadas representam uma mudança de rumo necessária que lança as bases para um futuro mais próspero e seguro para todos os bolivianos”. “Os Estados Unidos trabalharão com o governo boliviano para garantir que essas reformas deem frutos para o povo boliviano o mais rápido possível”, concluiu.

LEONARDO WEXELL SEVERO

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