Parou pela 6ª vez em pregões seguidos. Dólar segue acima de R$ 5,00
Após Bolsonaro ter anunciado seu pacotes de medidas contra os efeitos do coronavírus na economia brasileira, na tarde desta quarta-feira (18), a Bolsa de Valeres brasileira continuou em baixa e terminou o dia com queda -10,35%.
Por volta das 16h e 55m, as negociações na bolsa despencavam -13,48%, aos 64.557pts. No início da tarde, o Ibovespa teve que ser interrompido, quando registrou queda de 10,26%, aos 66.961 pontos – assim, o mecanismo de interrupção foi acionado por meia hora.
Essa é 6ª vez em que a bolsa interrompeu suas negociações em oito pregões seguidos. Antes do dia 9 de março, a Bovespa só havia interrompido um pregão 18 vezes, desde quando ela adotou o mecanismo circuit breaker, em 1997.
Já o dólar estabeleceu novo recorde, ao atingir a máxima de R$ 5,24 hoje cedo e encerrou o dia próximo dos R$ 5,20. Nas casas de câmbio, o dólar turismo variava entre R$ 5,33 e R$ 5,40.
O Banco Central (BC) continua a torrar as reservas brasileiras para tentar impedir a fuga de doláres da Bolsa de Valores e do país. Logo após a abertura, a autoridade monetária havia ofertado 2 bilhões de dólares em leilão de linha com compromisso de recompra – dois leilões de moeda à vista, totalizando venda de US$ 830 milhões. No entanto, a medida foi inútil sobre o câmbio e o dólar continuou sobre forte apreciação.
A forte desvalorização do Real frente ao dólar e a gangorra na Bolsa de Valores brasileira seguem amedrontamento os mercados internacionais perante a disseminação do novo coronavírus e pela instabilidade política no Brasil, que a cada dia tem se gravado por conta das irresponsabilidades causadas pelo ocupante da cadeira presidencial.
Bolsonaro, além de ter agitado seu correligionários a irem às ruas protestar contra o STF e o Congresso Nacional, no domingo passado, também descumpriu regras sanitárias básicas contra o coranavírus, ao comparecer numa destas manifestações em frente ao Palácio do Planalto.
Além disso, as medidas propostas por seu ministro da Economia, Paulo Guedes, para conter os efeitos do coronavírus na economia brasileira – que já estava debilitada antes da pandemia – são ineficientes, ou como vários economistas têm denunciado, “ não passam de fake news” e “enrolação”.
Entre as medidas divulgadas hoje, Bolsonaro e Paulo Guedes anunciaram que o governo dará um auxílio financeiro a trabalhadores do mercado informal de cerca de R$ 200 por três meses, além de confirmar um pacote de R$ 147 bilhões, que nada mais é uma antecipação do orçamento previsto ao longo de todo o ano de 2020, de benefícios sociais e previdenciários e postergação, por um prazo de três meses, do pagamento das contribuições do FGTS.
O pacote de medidas de Bolsonaro, além de tardio, está bem distante dos pacotes de medidas apresentados por outros países, que buscam minimizar os efeitos do vírus em suas economias – como por exemplo, os EUA, cujo pacote alcança quase US$ 1 trilhão e um auxilio no valor de US$ 1000 para cada cidadão norte-americano, ambas as medidas estão sendo negociadas no Congresso; Espanha, que propôs medidas de estímulo fiscal e credito na ordem de 200 bilhões de euros; e França, cujo o governo concederá suporte ilimitado para empresas que encontrarem em dificuldades, pagamento para funcionários temporariamente desligados, além de linhas de crédito no total de € 300 bilhões.
Sem medidas fortes de investimento público, o Brasil irá rapidamente entrar em recessão, como já destacou a economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institutte for International Economics (PIIE).
“O debate não pode mais ser reforma de médio prazo, mas o que a gente vai fazer para enfrentar uma situação absolutamente inédita, que outros países avançados estão tendo dificuldades em enfrentar. Minha proposta é que o país aja na área de investimento público, sobretudo em infraestrutura. O investimento público no Brasil desabou e é uma área fundamental para movimentar a economia”, afirmou Monica de Bolle.