Embaixador de Bolsonaro em Madri se engalfinhou com o El País e inventou que os “êxitos” da campanha contra a Covid-19 são reconhecidos pela população, que a pobreza cai e que a democracia é sólida no Brasil
Na hora em que a tragédia da Covid-19 no Brasil atinge o seu momento mais dramático, com o país se aproximando rapidamente de 300 mil mortes e a doença se espalhando sem controle e tirando vida de mais de duas mil pessoas todos os dias, Bolsonaro e seu desgoverno tentam convencer a imprensa internacional e autoridades de outros países que por aqui está tudo às mil maravilhas.
Essa foi a pretensão da Embaixada do Brasil em Madri, ao atacar, com uma carta de quatro páginas, o jornal El País. A carta foi dirigida ao diretor do diário, Javier Moreno, e assinada pelo embaixador Pompeu Adeucci Neto. O objetivo foi criticar um artigo que apontava as agruras do Brasil em sua luta contra a Covid-19. O representante do governo Bolsonaro argumentou que os “êxitos” da campanha contra a Covid-19 são reconhecidos pela população, que a pobreza cai e que a democracia é sólida no Brasil. Nada disso é verdade. Nunca morreu tanta gente de uma doença e a pobreza nunca cresceu tanto no país como agora.
Faltou perguntar ao embaixador em Madri de que país ele está falando, ou melhor, em que planeta, ele está. Não há êxito nenhum no Brasil. O que há é uma tragédia sem fim, provocada pelo negacionismo irresponsável de Jair Bolsonaro. Os hospitais estão lotados e entrando em colapso. Os médicos já estão tendo que decidir quem vive e quem morre, falta oxigênio, faltam leitos de UTI e faltam até medicações para intubação, e o serviçal de Bolsonaro na Espanha fala em “êxito”. Só se for o êxito da sabotagem do capitão cloroquina com o objetivo de elevar o número de mortes.
Outros meios de comunicação receberam cartas semelhantes, inclusive o jornal francês, Le Monde. Numa delas o representante do Itamaraty, órgão que está sendo dirigido atualmente por um débil mental, defende a estúpida polarização da sociedade, estimulada por Bolsonaro, como algo típico da “modernidade”. “Já ouviram falar em polarização das sociedades modernas? Da polarização nos EUA, da polarização em relação ao Brexit?” questiona uma dessas cartas.
A “moderna polarização” que Bolsonaro estimula no Brasil é entre os que defendem a vida e a ciência e os charlatões que fazem demagogia com remédios milagrosos, como cloroquina, ivermectina e outros, comprovadamente ineficazes contra a Covid-19. A “polarização” criada pelo espalha-vírus é entre quem quer tomar a vacina – maioria esmagadora da população – e meia dúzia de lunáticos que formam as milícias de Bolsonaro e que só fazem aglomerar e xingar quem está efetivamente trabalhando para derrotar o vírus assassino.
O mundo inteiro já percebeu o perigo que Bolsonaro representa para o povo brasileiro e, agora, começa a perceber mais claramente o risco que o mundo corre com as variantes que podem nascer por aqui por conta do total descontrole da pandemia, causado pela sabotagem do governo federal. Esta semana, Bolsonaro chegou ao cúmulo de entrar no Supremo Tribunal Federal (STF) contra governos estaduais que estão tomando medidas sanitárias mais duras para evitar a propagação do vírus.
O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou, na terça-feira (23), essa insanidade de Bolsonaro de tentar derrubar as medidas dos governadores para conter o avanço da pandemia em seus Estados.
O Brasil atingiu a triste marca de líder mundial em novas mortes por Covid-19. Mesmo com todo o país chorando seus mortos na maior tragédia sanitária de sua história, Bolsonaro não diz uma palavra sobre elas. Ainda reclama que “é só no Brasil que se morre de Covid”, numa insinuação – que ele já vem fazendo há algumas semanas – de que estaria havendo um superdimensionamento das mortes por Covid-19 no Brasil. Chegou ao ponto de orientar seu novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a correr todo o Brasil para checar se essas mortes são por Covid mesmo. Ou seja, numa situação dessas, Bolsonaro quer que seu ministro vá inspecionar hospitais para checar as mortes. É algo no mínimo surreal.
Numa outra mentira que é dita nessas cartas, o governo diz que garantiu as vacinas para a população. O Brasil foi o 57º país a iniciar a vacinação de sua população; vacinou até agora, com a primeira dose, menos de 6% da população e com as duas doses, menos de 2%. Documento com a assinatura de mais de 500 economistas, empresários, banqueiros, ex-ministros e ex-dirigentes do Banco Central, cobra do governo o abandono ao negacionismo e alerta que, se continuar neste ritmo de vacinação, vamos levar três anos para vacinar toda a população brasileira. Mas, Bolsonaro, o “antivacina”, diz que a imunização está um espetáculo. “O Brasil é o quinto país em número absoluto de vacinados”, repete ele. Isso não quer dizer nada. O que importa é o percentual de vacinados para deter o vírus. Ele acha que está tudo bem porque, se dependesse só dele, ninguém seria vacinado no Brasil.
Para concluir, a carta diz que “o compromisso do presidente com a democracia é firme, constante e inexorável”. O cinismo da declaração é total. No último fim de semana, por exemplo, Bolsonaro fez ameaças claras à democracia em uma aglomeração em frente ao Palácio da Alvorada. Ele disse que os governadores eram ‘tiranetes’ e que estariam “esticando demais a corda”.
E que ele faria qualquer coisa para garantir a liberdade de ir e vir. Disse isso, num contexto em que os Estados estão usando a lei da pandemia para restringir a movimentação de pessoas e parar o vírus. O único compromisso “firme, constante e inexorável” de Bolsonaro é com ele próprio, com sua família e com seu parceiro, o coronavírus.