Na véspera do 20 de novembro – Dia da Consciência Negra, dois deputados bolsonaristas realizaram atos racistas na Câmara Federal. Primeiro, o deputado coronel Tadeu (PSL-SP) quebrou uma charge de uma exposição que denunciava as mortes da população negra por ação policial.
Em seguida, Daniel Silveira (PSL-RJ) – o mesmo que quebrou a placa com o nome da vereadora Marielle Franco, afirmou em discurso no plenário que as mortes de negros acontecem “porque são os negros que cometem crimes”.
CHARGE
Na terça-feira (19), o deputado federal coronel Tadeu (PSL-SP) quebrou uma placa de uma exposição da Câmara que mostra um jovem negro algemado sendo morto por um policial, que virava as costas para ele, com o título “O genocídio da população negra”.
A exposição, autorizada pela Presidência da Câmara, foi aberta para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. A obra destruída pelo bolsonarista trazia dados sobre a violência contra negros e negras e era ilustrada por uma charge do cartunista Carlos Latuff.
O deputado, que é coronel da Polícia Militar, afirmou que fez o seu “protesto em cima do protesto deles” por considerar a imagem um “crime contra as instituições”. “Eu fiz o meu protesto em cima do protesto deles”, disse.
A mostra, que terá duração de um mês, está montada no túnel que liga o plenário principal da Câmara ao anexo das comissões, um espaço tradicionalmente usado para exposições.
Um trecho do texto que constava da placa dizia que “os negros são as principais vítimas da ação letal das polícias e o perfil predominante da população prisional do Brasil”.
A obra é do cartunista Carlos Latuff e trazia dados sobre violência contra negros. “Se fazem isso contra um cartaz, imagine contra gente de carne, osso e pele negra!”, afirmou o cartunista.
Veja o comentário do cartunista Latuff:
RECHAÇO
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) condenou a atitude do deputado e classificou o episódio como “grave”.
“Eu não falo baseado em pressão de ninguém, mas o que aconteceu em relação ao episódio envolvendo o deputado Tadeu é muito grave. Eu disse no meu discurso, em Nova York, falei sobre democracia, sobre tolerância, sobre preconceito”. “Numa democracia, num país livre, não é porque nós divergimos da posição da outra pessoa que nós devemos agredi-la verbalmente, fisicamente”, disse.
Orlando Silva, deputado federal pelo PCdoB criticou a atitude de Tadeu e as declarações de Daniel Silveira e chamou a população às ruas. “Às vésperas do Dia da Consciência Negra dois deputados bolsonaristas protagonizaram episódios abjetos de racismo, em plena Câmara. Mais do que nunca, amanhã devemos estar nas ruas, denunciar os covardes racistas e exaltar nossa negritude tão brasileira. Vidas negras contam!”, disse.
“Na véspera do Dia da Consciência Negra, repudio o ato de racismo, intolerância e violência de um deputado do PSL contra uma exposição que denuncia o genocídio da população negra e que comemora as duras conquistas. Respeito! Racismo é crime!”, afirmou o deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP).
A deputada Jandira Feghali (PCdoB –RJ), líder da minoria na Câmara, comparou a morte de Agatha Felix, de 8 anos, por um policial com a fala de Silveira. “No dia que a perícia comprovou que a bala de um policial assassinou a jovem Ágatha, que é negra, este senhor expõe sua constatação sobre negros do Rio de Janeiro. Chocante o nível”.
O deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) criticou o racismo estrutural e disse que a Câmara dos Deputados deve ser a casa das ideias, não a casa da violência. Criticou ainda a fala do deputado Daniel Silveira.
“Dizer que os negros morrem mais porque cometem mais crimes é de um racismo violentíssimo, é uma frase absolutamente inaceitável. Essa ignorância faz mal para a segurança e racismo é crime”, afirmou.