Uma onda de ódio realizada por bolsonaristas tem assustado frequentadores de missas nas Igrejas Católicas do país. Após a agressão a devotos na Basílica de Nossa Senhora Aparecida no dia 12 de outubro, novos ataques contra religiosos foram registrados por todo o país.
Em Umuarama, no Paraná, a candidata derrotada na disputa por uma vaga a deputada federal pelo Paraná e apoiadora de Jair Bolsonaro Flávia do Umuarama News (PL), publicou um vídeo nas redes sociais no qual chama o padre Luiz Cézar Bento, da Diocese de Umuarama, no Sul do estado, de “padreco do satanás”.
Os ataques ao sacerdote foram proferidos logo depois que um áudio no qual ele critica o candidato Jair Bolsonaro (PL) começou a circular nos grupos de WhatsApp.
A mensagem de áudio foi enviada a uma pessoa que é membro da paróquia Catedral e se refere a um encontro do Bispo Dom João Mamede e de um outro padre com o deputado federal Zeca Dirceu, do PT.
No vídeo, publicado na segunda-feira 17, no site local Umuarama News, do qual Flávia se apresenta como diretora, ela se diz “indignada” com as falas atribuídas ao padre, e parte em defesa de Bolsonaro.
“O padre Luiz Cézar Bento, mandou um áudio para uma fiel (…) falando um monte de asneira. Falando que o Bolsonaro rouba, que o Bolsonaro é quatro vezes pior do que o PT, que o Bolsonaro é contra negro, que o Bolsonaro é contra homossexual. Você pirou, padre? Você é um padreco do inferno”, diz a mulher.
Prosseguindo com os ataques, Umuarama cita várias mentiras sobre o PT: “Porque você, padreco, não fala que o PT é a favor de aborto? Porque você não fala, padreco do satanás, que o PT é a favor de ideologia de gênero nas escolas? (…) Você não representa os cristãos, padreco do inferno!”, segue no vídeo. Ela também mente quando acusa o padre de ser a favor do aborto, da legalização das drogas, do desencarceramento em massa e dos traficantes.
O religioso continua explicando o contexto da visita do deputado à suposta fiel e critica o presidente Bolsonaro. “O Bolsonaro é o que exclui o pobre, o negro, o homossexual, que rouba mais do que não sei o que. O Bolsonaro é que manipula o nome de Deus. Que usa o nome de Deus, a boa-fé do povo. Lembre que Jesus foi condenado na cruz por causa de homens como o Bolsonaro que fez a cabeça do povo”, argumenta o sacerdote.
À imprensa, a Diocese de Umuarama confirmou que o padre permanece em suas atividades, mas disse que não vai se manifestar sobre os ataques sofridos pelo religioso.
OFENSIVA CONTRA RELIGIOSOS
Os ataques de bolsonaristas à fé católica e a membros da Igreja tem sido uma constante na campanha eleitoral deste ano. As ofensivas se dão por meio de ofensas, interrupção de missas, acusações mentirosas de supostos apoio dos religiosos a candidatos de esquerda.
O de maior repercussão ocorreu no dia 12 de outubro, durante as solenidades em homenagem ao Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Durante a missa na Basílica de Aparecida (SP), bolsonaristas, apoiadores de Bolsonaro atraídos por sai presença no local, promoveram uma algazarra dentro e do lado de fora da igreja. Além de hostilizar profissionais da imprensa, inclusive da própria TV Aparecida, vaiaram o arcebispo enquanto ele atacava a fome e outros problemas enfrentados pelo Brasil na atualidade.
Durante a principal missa, o arcebispo da Arquidiocese, Dom Orlando Brandes, falou no sermão que o Brasil precisa “vencer muitos dragões”. “Temos o dragão do ódio, que faz tanto mal. E o dragão da mentira, e a mentira não é de Deus, é do maligno. O dragão do desemprego, o dragão da fome. O dragão da incredulidade”.
Para a vereadora Aava Santiago, presidente do PSDB goiano, que é evangélica, o comportamento dos apoiadores do presidente “foi o auge, foi a consolidação de uma milícia que se intitula cristã para sequestrar a nossa fé e colocar o bolsonarismo no lugar”.
“Quando um arcebispo, falando sobre o combate à fome e sobre a centralidade de Cristo (é hostilizado) e se isso (o discurso contra a fome) for ignorado, sob uma perspectiva de fé, então a nossa fé acabou”, disse a vereadora.
Em Jacareí, interior de São Paulo, uma mulher interpelou o padre durante a celebração da missa por ele mencionar o assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido no Rio de Janeiro em 2018 e sob circunstâncias não ainda esclarecidas.
“O senhor não vai falar de Marielle Franco dentro da casa de Deus. O senhor não vai falar de Marielle Franco, uma homossexual, uma envolvida com o tráfico de drogas, o senhor não vai falar de Marielle Franco dentro da casa de Deus. Uma esquerdista do PSOL, uma homossexual, que quer a ideologia de gênero dentro da escola das crianças”, disse a mulher, segundo o jornal O Globo.
No último dia 16, dom Odilo Scherer, cardeal e arcebispo metropolitano de São Paulo, foi chamado de “comunista” por usar roupas vermelhas, algo que faz parte da liturgia da Igreja Católica para cardeais como ele. Ele também foi acusado de apoiar o aborto, o que é rejeitado pela igreja. Dom Odilo também foi associado ao ex-presidente Lula (PT) e a uma suposta “ditadura da esquerda”
Na terça-feira (18) o vice-presidente da CNBB, citando a hostilidade aos religiosos em Aparecida (SP), disse à GloboNews que a agressão verbal é falta de respeito com Dom Orlando Brandes, arcebispo do Santuário, e com o próprio Santuário Nacional de Aparecida. “Não é lugar para manifestações desse tipo”, afirmou.
Ao jornal O Estado de S.Paulo, na segunda-feira (17), ele afirmou que a fé dos católicos não pode ser “manipulada” para “fins espúrios” durante as eleições.
INTIMIDAÇÃO
Em Araruyna, no interior do Paraná, um grupo de bolsonaristas tentou intimidar os padres da região a declararem apoio a Bolsonaro. Eles organizaram um movimento que foi até a igreja local para pressionar os padres a se manifestarem politicamente durante as missas.
O encontro aconteceu no dia 5 de outubro, três dias após o primeiro turno da eleição, na Paróquia Santo Antônio, conforme comunicado divulgado nas redes sociais. Nele, o grupo intitulado Unidos em Cristo diz que solicitou ao padre orientação aos fiéis sobre as eleições do próximo dia 30, “instruindo a comunidade para votar”.
Para isso, era preciso considerar os supostos “princípios cristãos”. A pressão aos padres segue em grupos de WhatsApp, com áudios que circulam pela cidade de apenas 14 mil habitantes. Neles, um homem identificado como liderança da igreja fala que esperam pelo menos 400 pessoas para pressionar o padre, que “tem que tomar uma posição”.
Onde anda essas pessoas ?