Ataque ocorreu quando cobriam a tragédia em condomínio de luxo em São Sebastião. Caso foi enviado ao Observatório da Violência contra Jornalistas, órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, por determinação do titular da pasta Flávio Dino
Na última terça-feira (21), um grupo de bolsonaristas em um condomínio de luxo em São Sebastião, litoral norte de São Paulo, agrediu verbal e fisicamente repórteres do jornal O Estado de S. Paulo (Estadão), durante cobertura da tragédia causada pelas fortes chuvas na região nos dias 18 e 19 de fevereiro.
Essa intolerância e violência contra o trabalho dos profissionais de comunicação se intensificou no governo fascista do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Um dos moradores obrigou o repórter fotográfico Tiago Queiroz a apagar as fotos das ruas alagadas do condomínio e os registros de carros danificados no local. A repórter Renata Cafardo relatou que foi empurrada por outro morador em um alagamento, o agressor também tentou roubar o celular da profissional.
“Eu e o fotografo Tiago Queiroz fomos covardemente agredidos hoje [terça-feira], em meio a uma cobertura triste e exaustiva da tragedia do litoral. Muito obrigada pelas demonstrações de apoio e carinho. Depois da agressão continuei fazendo o que acredito: jornalismo”, tuítou Cafardo.
ENTRADA AUTORIZADA
De acordo com informações do Estadão, os jornalistas foram autorizados por funcionário e outros moradores do condomínio Vila de Anonan a entrarem no local e fazerem a reportagem.
No entanto, quando o grupo bolsonarista viu os jornalistas, iniciou uma série de comentários hostis contra os profissionais. Além de utilizarem palavrões, o grupo também acusou o jornal de ser “comunista e esquerdista”. Coisa típica de bolsonaristas.
Depois dos xingamentos, passaram a empurrar os repórteres e tentar retirá-los do local.
COVARDIA E AGRESSÕES FÍSICAS
Queiroz foi cercado e teve a câmera puxada por um dos moradores. Em seguida, outra pessoa do grupo tentou pegar o celular da mão de Renata Cafardo. Sem sucesso, o morador empurrou a jornalista para um alagamento, onde a profissional caiu. A agressão só parou depois que outros moradores passaram pelo local e seguraram o agressor.
Apesar de ter sido obrigado a apagar os registros, Queiroz conseguiu salvar os arquivos em um cartão de memória. Além das fotos das ruas alagadas, o jornalista também conseguiu imagens dos agressores, mas ainda não tem a identificação deles.
De acordo com os repórteres, o grupo era formado por cinco homens e uma mulher. Um deles se identificou como sub síndico do condomínio. O Vila Anonan tem 30 casas no total, em média com 315 metros quadrados e piscina privativa, cada residência é avaliada em R$ 3,5 milhões.
PROVIDÊNCIAS LEGAIS
Na última terça-feira, o ministro da Justiça, Flávio Dino, comunicou, por meio de postagem no Twitter, que o caso que envolveu a equipe de reportagem do Estadão foi encaminhado para o Observatório da Violência contra Jornalistas, do MJSP, para o acompanhamento das providências legais visando à proteção da liberdade de imprensa.
“Estou enviando à apreciação do Observatório da Violência contra Jornalistas, órgão do Ministério da Justiça, para acompanhamento das providências legais visando à proteção da liberdade de imprensa. O Secretário Nacional de Justiça @augustodeAB coordenará os trabalhos”, tuítou.
Em nota, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) condenou os ataques à equipe do Estadão. “É inadmissível que profissionais de imprensa sejam atacados por exercerem seu papel de levar para a sociedade informações de interesse público. A Abraji se solidariza com os jornalistas agredidos e exorta as autoridades locais a identificar e responsabilizar os agressores”, escreveu a entidade.
OBSERVATÓRIO DA VIOLÊNCIA CONTRA JORNALISTAS
O Ministério da Justiça criou o OVCJCS (Observatório da Violência contra Jornalistas e Comunicadores Sociais). O órgão havia sido anunciado pelo titular da pasta, Flávio Dino, após as agressões à profissionais da imprensa durante os ataques terroristas praticados por bolsonaristas, em 8 de janeiro, em Brasília.
A portaria que criou o Observatório foi publicada na última sexta-feira (17) no DOU (Diário Oficial da União). Segundo o documento legal, o órgão tem por objetivo monitorar casos relacionados às condutas violentas contra jornalistas e comunicadores sociais, apoiar investigações nesses casos e sugerir políticas públicas para o bom trabalho desse segmento profissional.
Os participantes do observatório não serão remunerados.
Logo após os ataques de 8 de janeiro, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) pediu ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a abertura de investigação para identificar responsáveis por agressões à jornalistas.
CASOS DE AGRESSÃO
O documento encaminhado pela ABI à PGR listou 15 casos de agressões sofridas por profissionais de imprensa. A Associação mencionou, ainda, o espancamento de fotojornalista do portal Metrópoles, que foi agredida, segundo à Associação, por 10 homens, na ocasião.
Também cita o relato de repórter do portal Congresso em Foco, que foi impedido por policial rodoviário federal de permanecer em lugar seguro.
De acordo com a ABI, jornalistas tiveram ainda equipamentos furtados ou danificados nas agressões. A Associação pede a reparação dos danos materiais e morais às vítimas.
“[Os] crimes praticados contra os jornalistas tiveram como motivação principal a política doentia dos extremistas e os atos terroristas realizados, restringindo a livre imprensa e expressão dos profissionais. Além de violar de forma direta e inequívoca o Estado Democrático de Direito, coibindo que as informações referentes ao ato antidemocrático chegassem até a população brasileira”, argumentou em nota a Associação.
M. V.
a agressão sem motivo é o último recurso do covarde!
Estes capangas bolsonaristas precisam serem investigados e punidos com todo rigor da lei.