O Palácio do Planalto divulgou nesta segunda-feira (9) um balanço preliminar de itens que foram danificados – e também roubados – durante a invasão de golpistas terroristas, apoiadores de Jair Bolsonaro, aos prédios dos três poderes neste domingo (8).
De acordo com o governo, ainda não foi feito um levantamento “minucioso” das peças destruídas, mas o levantamento inicial revela danos em pinturas, escultura e peças de mobiliário.

“Os terroristas que invadiram o Palácio do Planalto neste domingo vandalizaram e destruíram parte importante do acervo artístico e arquitetônico ali reunido e que representa um capítulo importante da história nacional”, cita trecho da nota.
Um vídeo foi publicado pela Assessoria de Comunicação do Governo Federal com a destruição no Planalto.
Segundo a ministra da Cultura, Margareth Menezes, é “estarrecedor tudo que estamos vivendo desde os ataques terroristas deste domingo”. De acordo com ela, já foi acionado um grupo de especialistas e restauradores trabalhando no processo de recuperação e restauração do patrimônio depredado.
A ministra convocou uma reunião com os técnicos do Instituto do Patrimônio e Artístico Nacional para avaliar os danos aos bens públicos no Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF).
Imagens compartilhadas nas redes sociais mostram muitos itens que foram danificados durante a ações terroristas nos prédios dos três poderes. A obra “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, cujo preço estimado é de R$ 8 milhões, está entre as peças destruídas. Também consta dessa lista, a escultura “O Flautista”, de Bruno Jorge, avaliada em R$ 250 mil; e uma em madeira, de Frans Krajcberg, estimada em R$ 300 mil.

A “Bandeira do Brasil”, de Jorge Eduardo, de 1995, que reproduz a bandeira nacional hasteada em frente ao palácio e serviu de cenário para pronunciamentos dos presidentes, foi encontrada boiando. Uma prova irrefutável da falta de respeito ao patrimônio brasileiro, que afasta quaisquer indícios de sentimento de patriotismo por parte dos vândalos bolsonaristas que se auto intitulam patriotas.
O vitral “Araguaia”, de Marianne Peretti, localizado no Salão Verde da Câmara dos Deputados, também foi destruído; a escultura “A Justiça”, criação do artista belo-horizontino Alfredo Ceschiatti em 1961, foi pichada; o busto de Rui Barbosa, responsável pela criação do STF no modelo atual, em 1890, foi destruído.
Entre outros itens de valor histórico danificados pelos criminosos no STF, consta um tapete que, segundo informações do Supremo, pertenceu à Princesa Isabel; há registros de diversos outros quadros prejudicados ainda não identificados.
O corredor que dá acesso às salas dos ministérios que funcionam no Planalto foi vandalizado e muitos quadros rasurados ou quebrados, principalmente fotografias. O estado das obras ainda não foi analisado, pois ainda é aguardada a perícia e a limpeza do local.

Também houve danos ao mobiliário dos prédios dos três poderes. Cadeiras dos ministros do STF, porta do armário das togas do ministro do STF Alexandre de Moraes, objetos e móveis da sala da primeira-dama, Janja da Silva, vitral da artista plástica Marianne Peretti no Congresso Nacional, entre outras peças, foram alvos dos terroristas de Bolsonaro.
Vitrines do Congresso e do Planalto que exibiam objetos históricos; vidraças do STF (foram pichadas); janelas do Congresso, do STF e do Planalto foram atacadas; presentes de autoridades estrangeiras foram saqueados pelos bandidos.
Salão Nobre do STF destruido pelos bolsonaristas Salão Nobre do STF antes da destruição bolsonarista
Imagens das redes sociais mostram ainda que os bolsonaristas pegaram uma réplica da Constituição de 1988. O item estava exposto no Salão Branco da Suprema Corte. A mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck foi usada como barricada pelos terroristas. A avaliação das condições gerais ainda será feita.
Também a mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues que abriga as informações do presidente em exercício teve o vidro quebrado; o brasão da República do plenário do STF também foi tirado e levados.
Até armas letais e documentos sigilosos também foram roubados do GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República) pelo bando, apoiador de Jair Bolsonaro.

O ataque às instituições revoltou historiadores, artistas, políticos e internautas. A historiadora Lilia Moritz Schwarcz, professora titular da USP, comentou o ocorrido: “Um trabalho de Emiliano Di Cavalcanti e muitas obras de arte que estavam nas paredes do Palácio do Planalto foram destruídas pelos terroristas criminosos”, lamentou.
Segundo a historiadora “toda vez que governos autoritários atacam a democracia, a arte sofre. O Museu Nacional da República também recebeu ameaças de bomba e por isso foi fechado”, disse ela.
A destruição da pintura de Di Cavalcanti também foi lamentada pela a atriz Ana Beatriz Nogueira, da TV Globo. “Seis facadas… Dia triste e vergonhoso”, comentou em seu Instagram.

“Foi um presente a Dom João VI. Ele trouxe da Europa para o Brasil em 1808, então é um relógio que tinha certamente mais de 230 anos”, explicou o senador Randolphe Rodrigues (Rede/AP), em referência ao um relógio de pêndulo que estava no Palácio do Planalto e foi completamente destruído.
“Esse relógio era o relógio original, que estava aqui no Palácio do Planalto e foi totalmente destruído, danificado”. O valor dessa obra é inestimável, não tem paralelo”, acrescentou Randolphe, que é líder do governo no Congresso.
O diretor de curadoria dos palácios presidenciais, Rogério Carvalho, avalia que a recuperação da maioria das obras vandalizadas será possível, mas a restauração do relógio talvez não seja possível. A peça, que recebe o nome “Relógio de Balthazar Martinot”, foi fabricada pelo relojoeiro de Luis XIV. Há apenas duas dela no mundo, a outra está exposta no Palácio de Versailles, na França.