Milícias passaram o fim de semana afrontando o general nas redes. Tanto ele, nas quase oito horas de depoimento, quanto o comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, confirmaram à PF que Bolsonaro mostrou-lhes a minuta e pediu apoio ao golpe
Os investigadores da Polícia Federal já estavam convencidos de que o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, foi decisivo para barrar a tentativa de golpe de Estado pretendida por Jair Bolsonaro e o seu entorno.
Na época, Freire Gomes chegou a ameaçar o presidente com a prisão se ele insistisse com seus planos golpistas. Agora, o depoimento de quase oito horas à PF, no qual o militar detalhou os passos dos golpistas e a reunião em que Bolsonaro lhe pediu apoio, está gerando uma grande paúra entre os bolsonaristas.
Inconformados com o seu depoimento, militares golpistas e outros membros da milícia de Bolsonaro passaram todo o final de semana desacatando o general Freire Gomes, chamando-o de ‘traidor’ e fazendo ameaças ao militar. Eles não engolem o fato do general ter se recusado a apoiar o golpe e ficaram mais enfurecidos ainda com o depoimento onde ele confirmou a existência da minuta e detalhou à Polícia Federal os planos golpistas.
A jornalista Andréia Sadi, por exemplo, informou, em seu blog no Portal G1, nesta segunda-feira (4), que teve acesso a um dos vídeos que circulam nas redes, onde bolsonaristas afirmam que o general Freire Gomes “traiu Bolsonaro e pode se complicar’’. Eles dizem também que ele “enrolou’’ e “enganou” Bolsonaro com discussões sobre artigos da Constituição.
O objetivo do grupo é “fritar o general” e tentar arrastá-lo para a cena do crime. Isso ficou claro no depoimento do general golpista Estevam Theophilo, responsável por acionar os “kids pretos”, que disse, em seu depoimento, que participou de reuniões a mando do general Freire Gomes. Ele só não explicou porque, diferente de Gomes, decidiu apoiar o golpe e se comprometeu até a mobilizar os “kids pretos” para garantir a permanência de Bolsonaro no governo.
Ao contrário dele, o general Freire Gomes, ao se encontrar com Bolsonaro e receber dele a proposta de minuta do golpe, que invalidava as eleições e pretendia prender ministros do STF e líderes da oposição, recusou-se a apoiar a trama e ainda ameaçou o presidente de prisão, segundo relata o ajudante de ordem de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.
O encontro havia sido articulado por Bolsonaro, que levou a minuta do golpe, entregue a ele por seu assessor Felipe Martins, para pedir o apoio aos comandantes militares à sua empreitada criminosa contra a vitória de Lula.
Tanto o comandante do Exército, Freire Gomes, quanto da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, confirmaram o fato – o encontro com Bolsonaro – em seus depoimentos. Os dois atestaram, ainda, a existência do documento que coloca o ex-presidente como o principal articulador do golpe.
No relato de Mauro Cid à PF, os dois se recusaram a apoiar o golpe e somente o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria concordado em participar da trama.
A Polícia Federal espera fechar as investigações sobre o roteiro do golpe com as informações obtidas no depoimento de Freire Gomes, cruzando-as com as de Mauro Cid. O ajudante de ordem será chamado a depor novamente para confirmar as informações levantadas pela PF sobre as minutas do golpe encontradas na investigação. Se mentir ou omitir, pode perder benefícios de sua colaboração premiada.
Além da confirmação da minuta pelos comandantes, a PF está de posse de um vídeo que foi encontrado na casa de Mauro Cid, onde os golpistas estão reunidos tramando o golpe. O vídeo foi gravado pelo ajudante de ordem Mauro Cid em que Bolsonaro aparece dizendo que era necessário virar a mesa antes das eleições porque depois seria mais difícil.
Vários outros trechos da reunião gravada são a prova cabal de que o golpe estava em pleno andamento até que o general Freire Gomes impediu que ele seguisse adiante. À época, Braga Neto chamou Freire Gomes de “cagão”. Esta prova gravada e mais os depoimentos dos dois comandantes militares são contundentes e devem levar à condenação Bolsonaro e alguns de seus auxiliares, alguns deles já presos.