Norteados por declaração do candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), como a de que irá “botar um ponto final em todos os ativismos no Brasil”, seguidores do candidato já realizaram ao menos 50 agressões nos últimos dez dias contra pessoas que não compactuam com as posições bolsonaristas.
O levantamento foi divulgado na quinta-feira (10) pela Agência Pública de jornalismo investigativo, e apontam casos como atropelamentos e espancamentos de opositores. Além do mais grave dos casos registrados no último período, a morte do mestre capoeirista Moa do Katendê.
Por todo o país, houve agressões, ameaças, intimidações por parte dos apoiadores de Bolsonaro, registradas pela polícia. Casos como de uma jovem esfaqueada e ameaçada de estupro, um carro jogado em cima de um jovem com camiseta de Lula que conversava em frente ao bar com outras pessoas, uma jovem presa e agredida, jogada nua em uma cela da delegacia, além de outro jovem recebe um adesivo colado à força nas suas costas, com um tapa, e depois recebe uma rasteira para cair no chão, evidenciam a gravidade dos ataques sofridos por parte de quem pensa diferente do presidenciável Bolsonaro e tomado aos seus defensores.
Na noite desta terça-feira (9), um aluno da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que usava um boné do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) foi violentamente agredido por um grupo da torcida organizada império, do Coritiba. O grupo de cerca de 15 agressores, que portavam a camisa do time, gritavam: “Aqui é Bolsonaro”. Houve depredação da sede do Diretório Central dos Estudantes da UFPR e também foram quebrados vidros da biblioteca da universidade.
Em Porto Alegre, a polícia investiga uma agressão de três homens a uma jovem de 19 anos que vestia uma camiseta do movimento “#EleNão”. No boletim de ocorrência realizado pela jovem, ela afirma ter sido agredida e que, além de receber socos e pontapés, foi agarrada por dois homens e uma suástica nazista foi marcada na sua pele com um canivete.
De acordo com o levantamento da Agência Pública, realizado em parceria com a ONG Open Knowledge Brasil, foram registrados 27 casos de agressões na região sudeste, 12 na região nordeste, 7 na região sul, 2 casos na região norte e 2 na região centro-oeste, além de 15 casos de agressões políticas ainda não definidas nos últimos 10 dias.
Os Jornalistas também entraram na mira de agressores. No domingo de eleição, uma jornalista pernambucana que, por medo de retaliações, permanece anônima, prestou queixa na polícia por ter sido atacada por dois homens ao sair do colégio onde votou no Recife. Depois de terem visto seu crachá, os indivíduos, um deles com uma camiseta de Bolsonaro, chamaram-na de “riquinha de esquerda”, agrediram-na e ameaçaram estuprá-la.
Com uma faca no pescoço e imobilizada por dois homens logo depois de ter votado, os agressores diziam: “Quando o comandante [Jair Bolsonaro-PSL] ganhar a eleição, a imprensa irá morrer”.
Quando um carro passou buzinando, os criminosos fugiram do local e a jornalista foi às autoridades.
DECLARAÇÃO
Em entrevista à Rede Bandeirantes, ao comentar os casos de agressão e, mais precisamente, o assassinato do mestre capoeirista Moa do Katendê, O candidato negou que exista um incentivo a este tipo de “excesso”.
“O cara lá que tem uma camisa minha, comete lá um excesso. O que eu tenho a ver com isso? Eu lamento. Peço ao pessoal que não pratique isso. Eu não tenho controle sobre milhões e milhões de pessoas que me apoiam”, disse o candidato
No entanto, Bolsonaro faz ignorar as palavras que já disse anteriormente. Como é o caso do dia da eleição (7 de outubro), onde, ao comemorar sua ida ao segundo turno, prometeu “botar um ponto final em todos os ativismos no Brasil”.
A declaração foi condenada por mais de 4 mil organizações da sociedade civil e movimentos sociais, que divulgaram uma nota de repúdio a declaração de Bolsonaro sobre acabar com o ativismo no país.
“Além de uma afronta à Constituição Federal, que garante os direitos de associação e assembleia no Brasil, a declaração reforça uma postura de excluir a sociedade civil organizada dos debates públicos. Trata-se de uma ameaça inaceitável à nossa liberdade de atuação”, afirma a nota assinada pelas entidades.
“Calar a sociedade civil, como anuncia Jair Bolsonaro, é prática recorrente em regimes autoritários. Não podemos aceitar que passe a ser no Brasil”, diz o texto, que pede para os eleitores considerarem a declaração ao votar no segundo turno.
JOGO
O incentivo às agressões também contamina a internet. Um jogo batizado de “Bolsomito 2k18” vem sendo motivo de polêmica. Nele, o usuário simula ser o Bolsonaro e, para conquistar pontos, deve agredir mulheres, homossexuais, negros, militantes da esquerda, representados por burros.
Na descrição, a orientação é “derrotar os males do comunismo” em um “game politicamente incorreto”. Os produtores ainda classificam os adversários virtuais como “inimigos”. O jogo é produzido pela BS Studios e é pago.
Os produtores ainda afirmam que “o jogo é inspirado no atual momento político brasileiro”. Segundo eles, o protagonista é um “cidadão de bem”, que está “farto de viver em uma sociedade corrompida por um inimigo ideológico” e que, para isso, deve o combater na violência.