Em defesa dos golpistas, Bolsonaro trata plano de assassinar autoridades como “crime de opinião”
O ex-presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa de seus aliados que foram presos por tentar executar o assassinato do presidente Lula, do vice Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e chamou o caso de “crime de opinião”.
Ele admitiu que “estudou” “todas as medidas possíveis” para impedir a posse de Lula.
Os militares, sendo um deles o número 2 da Secretaria-Geral da Presidência de Bolsonaro, fizeram um planejamento completo de como os assassinatos deveriam ocorrer, contando com armamentos pesados e 4 grupos de operações.
Segundo a Polícia Federal, a quadrilha foi a campo para assassinar Alexandre de Moraes, se posicionando nas ruas de Brasília, com pelo menos um homem perto da residência do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas o plano foi abortado de última hora.
Bolsonaro falou que a “historinha” foi criada para comprometer seu governo e seus aliados.
“Essa história de assassinato de autoridades, no meu entender, foi jogado para dar uma demonstração de ‘olha, jogamos fora das quatro linhas para evitar um mal maior. Não cola isso daí”, declarou o ex-presidente na segunda-feira (25).
“Não sou jurista [para dizer] quando começa um crime e quando termina. Mas, no meu entender, nada foi iniciado, não podemos querer agora a querer punir o crime de opinião, o crime de pensamento”, continuou.
Essa foi a mesma “argumentação” apresentada por seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que falou que “pensar em matar alguém não é crime”.
Como a Polícia Federal revelou, o grupo não somente “pensou”, mas monitorou os passos de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes para realizar uma emboscada.
O general da reserva e ex-número 2 da Secretaria-Geral de Bolsonaro, Mario Fernandes, imprimiu dentro do Palácio do Planalto o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que descrevia as demandas para os assassinatos.
Fernandes, logo em seguida, levou o documento para o Palácio da Alvorada, residência oficial e onde se encontrava Jair Bolsonaro.
Jair Bolsonaro e outros 36 aliados foram indiciados pela Polícia Federal pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. A investigação sobre as tentativas de assassinato não fizeram parte do indiciamento.
Jair Bolsonaro negou que tenha proposto um golpe, mas admitiu que “todas as medidas possíveis” para impedir a posse de Lula “dentro das quatro linhas, dentro da Constituição, eu estudei”.
Ele citou a decretação de estado de sítio, que é uma medida prevista na Constituição para casos de guerra ou de “comoção grave de repercussão nacional”. Decretar estado de sítio para impedir a posse de um presidente eleito também é ilegal.
A PF encontrou no escritório de Jair Bolsonaro uma minuta de decreto presidencial declarando estado de sítio, além da criação de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que utilizaria o Exército a seu favor.
Testemunhas ouvidas pelos investigadores, como os ex-comandantes do Exército, general Freire Gomes, e da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, contaram que Jair Bolsonaro não estudou somente um “estado de sítio”.
Segundo eles, Jair Bolsonaro propôs um golpe e pediu o apoio das Forças Armadas, o que não conseguiu. A ideia partia de um decreto presidencial anulando as eleições. O ex-ajudante de ordens de Jair, Mauro Cid, também confirmou esse plano à PF.