Como sempre, ele despreza a lei e a ordem. Após condenação, voltou a se fazer de vítima e atacou novamente com mentiras o Judiciário
Bolsonaro, o incorrigível, em entrevista coletiva após se tornar inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral, confessou, tacitamente, que atropelou a Constituição, ou a esfaqueou – para usar um verbo usado recorrentemente pelo ex-mandatário, admitindo, ainda, que, quando respeitou a lei maior, o fez “muitas vezes a contragosto”.
Não é a primeira vez que Bolsonaro reconhece sua aversão à Carta Magna e certamente não será a última.
Ao longo de sua medíocre trajetória como parlamentar e não menos medíocre como presidente, colecionam-se inúmeros episódios e manifestações de afronta às conquistas insculpidas na Constituição Cidadã de 1988, sendo ele, Bolsonaro, um dos que mais se empenhou por desrespeitá-la.
Sua entrevista concedida em Belo Horizonte (MG), após o contundente e bem fundamentado veredicto do TSE, é mais uma prova do seu desrespeito ao documento que representou, historicamente, a reconquista da democracia política, dos direitos sociais e da soberania nacional.
Em suas declarações, passou recibo da derrota sofrida na Justiça Eleitoral, contra a qual se insurgiu durante os quatro melancólicos e malditos anos de seu mandato, ao dizer que “não está morto”, mesmo que nenhum jornalista tenha feito pergunta que ensejasse tal resposta.
Foi além em suas diatribes qualificando sua condenação de um “crime sem corrupção”, ignorando solenemente que o uso da instituição da Presidência da República para atacar o Judiciário e colocar em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas, sobre as quais, até hoje, não apresentou, sequer, um único indício de fraude, representa, como bem sinalizou em seu voto o relator da ação, ministro Benedito Gonçalves, uma evidente tentativa de obter benefícios ilícitos, abusando do poder que lhe foi confiado para angariar vantagem pessoal, no caso, eleitoral, frente ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
Certamente, vai continuar utilizando esse mantra para justificar o ato ilícito e, em sua natureza, corrupto, perpetrado naquele fatídico 18 de julho de 2022, no Palácio da Alvorada, quando reuniu-se com embaixadores estupefatos com o monólogo presidencial de então.
Ele não parou por aí e, para agravar o vitimismo, associou a facada que recebeu durante a campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG) à sua condenação pelo TSE.
“Tentaram me matar aqui em Juiz de Fora há pouco tempo, levei uma facada na barriga. Hoje levei uma facada nas costas com a inelegibilidade por abuso de poder político”, disse cinicamente, como se não houvessem fartos elementos e provas que embasaram o seu julgamento pela Justiça Eleitoral.
Teimoso em sua narrativa, voltou a atacar a Justiça Eleitoral, elencando os episódios em que o TSE agiu para impedir que ele, Bolsonaro, fizesse o uso despudorado, como fez, da Presidência da República para beneficiar-se pessoalmente.
O fato é que Bolsonaro, rigorosamente, nos quatro anos do mandato não governou, eximindo-se da responsabilidade de conduzir os destinos do país pela sua incapacidade gerencial, sua aversão ao trabalho sério e falta de compromisso com o Brasil.
Entregou a ministros desastrosos a condução do governo da República, especialmente ao seu “posto Ipiranga”, a tarefa de desmontar a economia nacional, entregar a preço vil o patrimônio público e submeter milhões de brasileiros à fome e à miséria, impondo-lhes, pela sua política desastrosa, um endividamento monstruoso para beneficiar o rentismo.
Isso sem falar na tragédia negacionista à qual se converteu sua política sanitária durante a pandemia, que colocou o Brasil no topo dos países que mais perderam vidas, e não menos negacionista no trato da questão ambiental.
Sua herança está estampada nos números da economia, com milhões de miseráveis, famintos, desempregados e endividados, e da pandemia, com outros centenas de milhares condenados à morte pela sistemática política de afronta à ciência e, no caso, à vacina.
Atacou o TSE, novamente, ao dizer que a corte o proibiu de usar “imagens de Lula defendendo o aborto”, quando, na verdade, tratava de mais uma mentira produzida pela usina de fake-news dos bolsonaristas, que usaram e abusaram dessa prática criminosa, mesmo diante de sucessivas sentenças do tribunal.
O hipócrita ainda citou a justa decisão da corte eleitoral ao proibi-lo de mostrar a imagem do então candidato Lula “no morro, do CPX”, quando foi obrigado a apagar as postagens que associavam a sigla a uma facção criminosa, já que se trata de uma abreviação para “Complexo”, uma referência ao “complexo de favelas”.
Bolsonaro nesse e em outros episódios apenas projetava no seu adversário aquilo que ele é – um ser movido pelo sentimento miliciano, que buscava, hipocritamente, confundir com a seara militar, da qual por pouco não foi expulso no passado por sua doentia indisciplina.
Foi mais longe na entrevista em que atacou a Justiça Eleitoral ao afirmar que o TSE o proibiu de “mostrar imagem do Lula dizendo que pode roubar um celular, que é pra tomar uma cervejinha”. Na ocasião, ficou comprovado se tratar de uma montagem, em uma “reunião de frases que foram ditas em momentos distintos e em contextos distintos”, ainda segundo o tribunal.
A teimosia não parou aí ao voltar a defender o “voto impresso” e atacar as urnas eletrônicas, um dos motivos que o levou à condenação.
E foi mais longe, ainda, ao dizer que foi julgado pelo “conjunto da obra” e não somente pela reunião com os embaixadores.
Apenas um reparo: realmente, Bolsonaro foi avaliado pelo “conjunto da obra”, mas não pelo TSE.
Quem o julgou pelo “conjunto da obra” foi o povo brasileiro que o derrotou no pleito presidencial de 2022, algo que ele não reconhece até hoje, tanto que preferiu refugiar-se na Flórida (EUA) durante longos três meses.