“Presidente age com violência e autoritarismo”, afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em entrevista ao Correio Brasiliense, nesta quarta-feira (21), após Bolsonaro desautorizar o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello e impedir a compra de 46 milhões de doses da vacina em desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan.
O governador paulista lamentou a mudança de postura do governo, provocada por Bolsonaro. “O presidente Bolsonaro, em menos de 12 horas, desautoriza o seu ministro, age com violência e autoritarismo, contraria uma decisão da ciência e de seu ministério. E coloca de novo um confronto político que não deveria existir. Vacina não pode ser objeto de nenhuma visão política, ideológica nem partidária”.
“Ficou péssimo para o Brasil e para os brasileiros. Uma atitude equivocadíssima do presidente Bolsonaro. Desautorizar um ministro da Saúde — lembrando que ele já demitiu dois ministros da Saúde”, destacou Doria.
Questionado sobre a acusação de Bolsonaro de que a vacina não tem eficácia comprovada, Doria rebateu: “Não é verdade. Estamos na terceira e última fase de testagem da vacina. (Se ela não tivesse eficácia), não estaria na terceira fase, como outras três que estão sendo testadas no Brasil. Ela é classificada pela Organização Mundial da Saúde como uma das oito vacinas mais promissoras do mundo”.
O governador elogiou a postura de Eduardo Pazuello, que segundo ele, teve uma postura “republicana” ao confirmar a compra das vacinas, após o registro na ANVISA, e que o ministro teve conduta positiva, no encontro da última terça-feira, que reuniu 24 governadores, líderes do governo no Congresso e integrantes do Ministério da Saúde.
“O ministro (Pazuello) fez uma colocação muito correta, já na abertura da reunião, dizendo que as vacinas — incluindo a do Butantan — salvam vidas. Ele não está preocupado com a origem das vacinas, e sim com a eficácia das vacinas”, disse Doria sobre Pazuello.
Doria destacou ainda que o ministro se comprometeu, diante dos 24 governadores, membros do governo e do Congresso, de compra das 46 milhões de doses.
Entretanto, por ordem de Bolsonaro, o governo recuou do compromisso, adotando novamente uma posição que coloca em risco a vida de milhares de brasileiros. Na entrevista, o governador paulista relembrou ainda o preço que pode ser pago pela população caso a vacina seja boicotada por essa atitude mesquinha.
“500 brasileiros morrem a cada dia que não temos vacina”, enfatizou o governador.
FALTA DE COMPROMISSO
Na manhã desta quarta-feira, Bolsonaro disse novamente que ordenou ao Ministério da Saúde voltar atrás no acordo com o Instituto Butantan. “O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”, disse Bolsonaro a jornalistas.
Após a declaração, uma coletiva foi convocada pelo Ministério da Saúde para anunciar o rompimento do acordo. Segundo o comunicado, lido pelo secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, “não houve qualquer compromisso com o governo do estado de São Paulo ou seu governador, no sentido de aquisição de vacinas contra Covid-19”.
“Tratou-se de um protocolo de intenção entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, sem caráter vinculante, grande parceiro do Ministério da Saúde na produção de vacinas para o Programa Nacional de Imunizações”, afirmou o Ministério da Saúde.
O Ministério da Saúde ainda disse ter havido uma “interpretação equivocada” da fala de Pazuello .
Porém, em nota divulgada ontem, a pasta confirmou ter assinado o protocolo de intenções “para adquirir 46 milhões de doses da Vacina Butantan – Sinovac/Covid-19, em desenvolvimento pelo Instituto Butantan”.
Pazuello chegou a informar oficialmente que, com a iniciativa, o país chegaria a ter 186 milhões de doses de vacinas a serem disponibilizadas ainda no primeiro semestre de 2021, já a partir de janeiro.
Além disso, o ministro enviou na segunda-feira (19), ao Diretor-Geral do Instituto Butantan, Dimas Covas, um ofício em que confirma a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac.
No ofício, Pazuello manifesta a intenção da pasta que comanda em adquirir 46 milhões de doses da CoronaVac ao preço de R$ 10,30 a dose.
O ofício também informa que a compra da vacina está obrigatoriamente vinculada a aprovação do imunizante pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) — como é praxe nesse tipo de compra.
“Entretanto, com intuito de auxiliar as análises que estão sendo realizadas no âmbito desta Pasta, seja para subsidiar as decisões relacionadas ao processo de contratação, seja para permitir o acompanhamento contínuo em todas as fases evolutivas desta vacina, solicito o urgente encaminhamento de todos os documentos comprobatórios dos ensaios clínicos já realizados e daqueles que estão em andamento, referentes à Vacina Butantan-Sinovac”, diz o texto.
VÍDEO
No fim do dia, o governo de São Paulo divulgou o vídeo da reunião com os governadores em que Pazuello anuncia o acordo.
“A Secretaria de Comunicação do Estado de São Paulo, em nome da transparência, disponibiliza a íntegra da reunião que ocorreu na tarde desta terça-feira (20), com os 24 governadores do país e de representantes do Ministério da Saúde, tais como o próprio ministro Eduardo Pazuello, o secretário-executivo, Elcio Franco, e o secretário de Vigilância em Saúde (SVS), Arnaldo Correia de Medeiros”, diz a nota do governo.
No vídeo, Pazuello afirma que a vacina aprovada pela Anvisa traz “mais segurança” e que a “vacina brasileira” será a produzida pelo Butantan.
“Nós acreditamos que a vacina do Butantan efetivamente chegue para nós com um mês de antecedência. A gente precisa cobrir já essa primeira lacuna que vai acontecer. Então, nós já fizemos uma carta em resposta ao ofício do Butantan, e essa carta é o compromisso da aquisição das vacinas que serão fabricadas até o início de janeiro, em torno de 46 milhões de doses. E essas vacinas servirão para nós iniciarmos a vacinação ainda em janeiro. Essa é a nossa grande novidade”, disse Pazuello em um dos trechos do vídeo por volta de 14 minutos.
Em seguida, o ministro diz: “Se o Butantan nos fornecer as 46 milhões de doses iniciais agora, a gente já consegue iniciar a vacinação. Conforme o processo ande daqui até lá, compramos mais ou entram outras vacinas. Temos outras vacinas em prospecção no Brasil.”
A íntegra da reunião pode ser assistida no link abaixo:
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Pazuello você e os demais ministros não são ministros vocês estão ministros, porque o Bolsonaro, não admite que vocês tomem decisões mesmo que estejam corretas ele faz vocês atuarem como jagunços pau mandado, não sejam omissos pois omissão é crime.