Acusado de nove crimes pela CPI, o capitão cloroquina mentiu o tempo todo para ajudar o vírus. Disse que vacina não adianta nada e que usar máscara faz mal para a saúde. O coronavírus aplaudiu de pé
No inicio desta semana, quando os trabalhos da CPI da Pandemia chegaram ao seu final, houve uma polêmica se Jair Bolsonaro teria ou não cometido crime de homicídio.
Depois de ouvir os argumentos técnicos do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), um delegado de polícia e expert no assunto, os senadores preferiram enquadrá-lo no “crime de epidemia com resultado de morte”. Um crime mais grave e com pena mais alta do que o homicídio.
Mas, o que se viu nesta quinta-feira (21), durante a live semanal de Jair Bolsonaro, é que, seja num ou noutro crime, o que o capitão cloroquina apresenta é um ‘comportamento criminoso continuado” (Serial Killer). Ele segue insistindo nas mesmas ideias que levaram à morte evitável centenas de milhares de pessoas. O “assassino em série” insiste em apresentar as mesmas mentiras e fake news que transformaram o Brasil no campeão mundial de mortes por milhão de habitantes.
Ou seja, sua intenção, ao atacar as vacinas nesta altura do campeonato, como fez na live, é que mais pessoas morram vítimas do vírus.
A primeira mentira que Bolsonaro voltou a repetir nesta quinta-feira (21) foi a de que as vacinas não adiantam nada. “Temos um estudo aqui do Reino Unido onde 70% dos mortos com Covid estavam vacinados. Não vou tecer comentários (…). Então, 70% dos mortos por Covid no Reino Unido estavam vacinados”, disse ele. O “estudo” que Bolsonaro citou na live simplesmente não existe, é mais uma fake news.
O que existiu foi a manipulação pelos fascistas ‘antivacinas’ de dados de um estudo inicial sobre a variante delta, feito entre fevereiro e junho deste ano. Os falsificadores trataram a proporção de vacinados entre os mortos pela variante delta naquelas datas como se fosse a fatia de vacinados entre todas as vítimas da Covid. Logo depois, em setembro, os dados oficiais foram divulgados. Os falsificadores foram desmoralizados e ficou clara a importância da vacinação.
O que fez Bolsonaro foi apenas repetir uma mentira. O “estudo” que ele usou para sustentar seu negacionismo havia sido desmentido pelo próprio governo do Reino Unido. Os completamente vacinados – que receberam as duas doses – representaram menos de 1% das mortes por Covid no Reino Unido nos seis primeiros meses do ano, segundo dados do ONS, órgão de estatísticas do Reino Unido. Aqui no Brasil também os dados são esses. Mais de 85% das internações em UTI são de não vacinados. Menos de 10% dos mortos estavam completamente imunizados.
Depois, Bolsonaro voltou a mentir, novamente citando o Reino Unido. Inventou que “relatórios oficiais” do governo britânico teriam dito que “as pessoas totalmente vacinadas estariam desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida muito mais rápido do que o previsto”. Não há nenhum estudo que sustente essa afirmação. A fonte de Bolsonaro foi um documento apócrifo que circulou pela internet.
Ou seja, Bolsonaro ajudou a disseminar mais uma fake news produzida no submundo das milícias digitais. A OMS (Organização Mundial da Saúde), ao contrário do que afirma Bolsonaro, recomenda que portadores de HIV que estejam em fase Aids, com imunidade muito baixa, não só se vacinem como tomem a dose de reforço, algo já disponibilizado no Brasil para imunossuprimidos 28 dias após a segunda dose.
Para completar a noite de mentiras, de anticiência e de teorias da conspiração, Bolsonaro citou o epidemiologista americano, Anthony Fauci, para dar base aos seus ataques ao uso de máscara. “O doutor [Anthony] Fauci dizendo, em um artigo de 2008, que a maioria das vítimas da gripe espanhola não morreu de gripe espanhola. Sabe do que eles morreram, na verdade? De pneumonia bacteriana causada pelo uso de máscaras”, disse Bolsonaro.
Mais uma mentira. Anthony Fauci, um imunologista e conselheiro médico do presidente dos EUA, Joe Biden, publicou com mais dois pesquisadores em 2008 um artigo com os resultados de uma análise de tecidos e autópsias de vítimas da gripe espanhola, em 1918, e descobriram que vários deles tiveram pneumonia bacteriana. Não há nesse estudo nenhuma citação ao uso de máscara. A “conclusão” de Bolsonaro e de outros interessados em ajudar o vírus, revelam apenas a ignorância dessa gente.
Qualquer estudante de medicina sabe que uma das grandes causas de morte provocadas pela gripe – doença causada pelo vírus Influenza – é exatamente a sua complicação por pneumonia bacteriana. A bactéria oportunista instalada nas vias aéreas das pessoas se aproveita da fragilidade provocada pela infecção viral, para atacar. O “estudo”, citado por Bolsonaro, não é nada mais do que a confirmação deste fato. Ele conclui que o vírus Influenza, responsável pela gripe espanhola facilitou com que as pessoas desenvolvessem também a pneumonia bacteriana. A estupidez dos negacionistas é infinita e a de Bolsonaro está indo nesta mesma direção.