
Incorrigível como sempre, após tornar-se réu por decisão unânime da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em razão dos crimes cometidos contra o Estado Democrático de Direito, denunciados pela Procuradoria Geral da República (PGR), Bolsonaro atacou o ministro-relator da matéria, Alexandre de Moraes, vociferou contra “a esquerda”, fez grosserias à imprensa, tudo isso em um cercadinho muito parecido com o que habituava usar para difundir seu negacionismo e agredir jornalistas no tempo em que, para infortúnio dos brasileiros, era o inquilino do Palácio do Alvorada.
No clima ainda fechado de Brasília, choveram declarações distorcidas e falsas do ex-mandatário, inconformado com a decisão da Suprema Corte.
O STF, através da 1ª Tuma, detentora da prerrogativa de julgar o acatamento da denúncia da PGR, tornou ele e mais 7 participantes das ações golpistas reús por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
A partir desse momento, o tribunal iniciará a ação penal que poderá condenar ou absolver Bolsonaro e os demais acusados, embora, pela consistência da denúncia, embasada solidamente nas provas obtidas com a investigação da Polícia Federal, o mais provável é mais uma condenação, dessa vez com uma gravidade maior.
Bolsonaro chegou ao desplante de dizer que desencorajou por lives, através de redes sociais, as manifestações violentas que culminaram com o fatídico 8 de janeiro de 2023 e criticou o ministro Moraes. “Ontem fui ao Supremo, foi uma decisão de última hora. Hoje resolvi não ir, motivo: obviamente sabia o que ia acontecer”, falou, numa confissão dissimulada dos efeitos causados pelas suas declarações e atos praticados por ele e seus asseclas com o evidente propósito de promover o descrédito nas urnas eletrônicas e no resultado das eleições presidenciais de 2022.
No entanto, nunca apresentou qualquer prova da existência de fraude nesse pleito presidencial, como nos demais, pois, desde a adoção das urnas eletrônicas no Brasil, em 1996, não se evidenciou qualquer indício de manipulação eleitoral.
Aliás, ontem mesmo, por mera coincidência, seu guru e arqui-aliado, Donald Trump, citou o Brasil como um exemplo de segurança nos processos eleitorais, fazendo referência à biometria utilizada para identificação dos eleitores na hora do voto. Certamente, Bolsonaro deve ter se frustrado com a abordagem do presidente norte-americano.
O fato é que, no tocante a essa denúncia que insiste em rejeitar em seus pronunciamentos, Bolsonaro usou e abusou de todas as artimanhas que tinha ao seu dispor para pressionar as Forças Armadas a encontrar uma “fraude” nas eleições, mesmo que inexistente. Outra frustração, sucedida pelas recusas dos comandantes de duas forças militares do país – do Exército e da Aeronáutica – ao golpe que pretendia perpetrar através da publicação de um decreto instaurando o estado de sítio e intervindo na Justiça Eleitoral.
A pressão junto aos militares, antes das eleições, também ocorreu quando, insistentemente, pressionou para que não houvesse a desmobilização dos acampamentos em frente aos quartéis espalhados por todo país, especialmente no Quartel-General (QG) de Brasília, que serviu de estopim para a disseminação das ações de vandalismo verificadas no dia da posse do presidente Lula (12 de dezembro de 2022) e em 8 de janeiro do ano seguinte.
A contragosto de alguns comandantes, uma nota chegou a ser publicada permitindo a permanência de manifestantes que pediam intervenção militar.
Aliás, muito antes disso, nos atos de 7 de Setembro de 2021, dissera ele que não cumpriria qualquer decisão do ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “canalha”. A primeira manifestação de bolsonaristas, transcorrida em março de 2020, já pregava contra o STF. As faixas exibidas pelos manifestantes diziam que o Supremo era o povo e pedia intervenção militar com Bolsonaro no poder. Tudo, obviamente, sob seus aplausos, enrustidos como sempre, e sob o discurso cínico de que o jogo estaria sendo jogado “dentro das 4 linhas”.
Se as ações prosperassem, por óbvio, surgiria ele como o grande vitorioso do golpe contra as urnas, o governo eleito e as instituições democráticas. Mas, sendo frustradas como o foram, especialmente pela postura firme do comandante do Exército à época, general Freire Gomes, que o ameaçou de prisão caso levasse à frente a intentona, bem como pela ação determinada da Justiça e do próprio Parlamento, em sua maioria, Bolsonaro, agora, se acovarda e abandona seus seguidores à própria sorte.
Mesmo diante de todas essas evidências e após admitir ter discutido “hipóteses” com militares, disse que não pressionou as Forças Armadas a darem um golpe, afrontando o testemunho dos comandantes do Exército e da Força Aérea, que o desmentiram incisivamente em seus depoimentos, e outros elementos constantes na investigação policial.
Outro agravante ignorado por ele foi quanto à atuação do general Mário Fernandes, o então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, que, com o conhecimento de Bolsonaro e o planejamento do qual participou o general Braga Netto, seu candidato a vice-presidente, estava à frente do plano para matar Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Moraes. As conversas flagradas entre Fernandes, que fora comandante dos chamados Kids Pretos, e Mauro Cid – o ajudante-de-ordens que confirmou tais fatos em sua colaboração premiada – expuseram escandalosamente até onde pretendiam chegar os golpistas.
Em resumo, as declarações de Bolsonaro não trouxeram nenhuma novidade, a não ser a ladainha de sempre contra as urnas eletrônicas e em defesa do voto impresso.
O cinismo repetiu-se com uma frase dissonante de sua medíocre trajetória de golpista e adulador da ditadura e dos torturadores:
“Aprendi desde jovem que a alma da democracia é o voto”.
O “voto”, no caso, só é considerado pelo hipócrita quando ele vence as eleições, mas, quando perde, não vale. Por isso mesmo, suas palavras só convencem a turba cega que o acompanha e olhe lá.
Para finalizar, sobrou também para o presidente Lula, que ele atacou por querer “botar o Brasil no colo da China. O Lula quer a China aqui dentro, não tem como esse país ir para a frente”, disse o farsante em cujo governo, mesmo sem nenhum incentivo nessa direção, a China já representava o principal parceiro comercial do Brasil.
A declaração, no entanto, só revela sua intenção desde o primeiro dia de seu melancólico governo, parafraseando-o: colocar o Brasil no colo dos Estados Unidos, preferencialmente, sob Trump. Para isso, não faltaram atos de adulação e subserviência, nem mesmo a bestial continência à bandeira norte-americana.
MARCO CAMPANELLA
Bolsonaro rei da mentira não adianta espernear são vários delitos cometidos por você e seus capangas, portanto, todo rigor da lei, acorda Brasil a verdade acima de tudo.