
A sabotagem de Bolsonaro às medidas de combate à pandemia e as decisões equivocadas de seu governo na economia agravaram a crise e ampliaram a desigualdade no Brasil. Segundo pesquisa feita pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), divulgada nesta segunda-feira (11), e que tem como base dados internacionais do Gallup World Poll – que mostra a percepção da população em relação às políticas públicas de saúde, educação e meio ambiente – o Brasil teve nestas três esferas o pior resultado entre os outros demais 40 países analisados.
Os dados foram colhidos antes e depois da pandemia. O diretor do FGV Social, Marcelo Neri, destacou ainda que a deterioração social brasileira foi mais forte entre a população de renda mais baixa. “A pandemia é um choque global que afeta o dia a dia do mundo inteiro. Mas, no Brasil, a administração e o gerenciamento das áreas de saúde, educação e meio ambiente foram piores. Por isso, tivemos um resultado abaixo da média”, disse Neri em reportagem do Estadão.
Na educação, a satisfação dos 40% mais pobres caiu 22% no Brasil, enquanto a média mundial caiu 2,38%. Esse porcentual na prática reflete a piora de dados educacionais.
O tempo médio de estudo diário na população de 6 a 15 anos caiu para duas horas e 18 minutos, enquanto o mínimo legal é de 4 horas. Entre os mais pobres, esse tempo ficou abaixo de duas horas, e nas classes A e B ficou acima de três horas, levando para o aumento do abismo social existente em nosso país.
Segundo o pesquisador social, as matrículas escolares recuaram ao menor patamar desde 2007, o que descambará no futuro na piora do aprendizado e da produtividade do trabalhador – ambos em estagnação há algum tempo. Na avaliação de José Pastore, professor da Universidade de São Paulo, 500 dias sem aula deixam uma “cicatriz” nas crianças.
“Não se trata de dar mais aulas, mas de ter uma estratégia de recuperação, o que não existe por enquanto”, disse o professor destacando que sem essa política, o país corre o risco de perder toda uma geração.
Na saúde, a queda foi de 10,5% entre os brasileiros mais pobres, enquanto neste quesito os demais países apresentaram alta de 2,28% na média. A situação se inverte entre os 40% mais ricos. No Brasil, a satisfação dessa faixa da população subiu 0,5%, e nos demais países caiu apenas 0,08%.
Já em relação às políticas ambientais, foi registrado piora em todas as faixas de renda. Por outro lado, a percepção melhorou no restante do mundo.
“A pandemia deixou marcas sociais e econômicas muito fortes. Houve uma inversão de tendências. A desigualdade vinha diminuindo, e a educação, apesar de ruim, também melhorava. Agora tudo mudou”, afirma Neri.