Na segunda-feira (16/03), subiu para 13 o número de membros da comitiva de Bolsonaro aos EUA, derrubados pelo coronavírus. O 13º foi Marcos Troyjo, que vem a ser secretário Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia.
O que será que essa gente foi fazer nos Estados Unidos? Importar coronavírus produzidos pela família Trump?
Também segunda-feira, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli – ou seja, os chefes do Poder Legislativo e do Poder Judiciário – reuniram-se na sede do STF para discutir o que podem fazer no combate à epidemia de Covid-19.
Estavam, também, na reunião, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, o procurador-geral da República, Augusto Aras – e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Faltou apenas o chefe do Poder Executivo – Bolsonaro.
Que, aliás, não se preocupou com medida alguma. Segundo disse, esse negócio de coronavírus é “histeria”. Por isso, fez o que pôde para desrespeitar as recomendações do Ministério da Saúde.
Porém, as medidas de Saúde Pública têm por objetivo proteger, defender, o povo. Desrespeitá-las, dar o mau exemplo, é agredir o povo. Sobretudo no momento em que há uma pandemia, em que se propaga uma doença que já matou e continua matando o povo em todo o mundo – e que, no Brasil, mal acaba de começar a ceifa.
Porém, não é com isso que Bolsonaro está preocupado. Não é difícil perceber, depois do que houve domingo: Bolsonaro é tão doentiamente fascista, tão fixado em estabelecer uma ditadura no país, tão tresloucado em ser um führer, que até a epidemia de coronavírus lhe parece oportunidade para um golpe.
A saúde dos brasileiros que se dane – é o comportamento de Bolsonaro, no momento em que todo o país se mobiliza para enfrentar a epidemia.
Trata-se de uma aberração difícil de conceber, mesmo em fantasia, para um cidadão medianamente normal.
Porém, Bolsonaro não é um cidadão medianamente normal.
No domingo, ele saiu do monitoramento, em que estava desde a volta da fatídica viagem aos EUA, para participar de um ajuntamento, um magote de apoiadores que o aplaudiam e berravam: “AI-5! AI-5! AI-5!”.
Pediam, portanto, um golpe de Estado sanguinário, com assassinatos e tortura, pois foi isso a ditadura do AI-5, que não teve outra função, exceto o assassinato e a tortura de democratas e patriotas.
Como disse Luiz Carlos Azedo, há um desespero evidente nesse comportamento. Mas nem por isso deixa de ser golpista, atentatório à democracia, à Constituição, portanto, criminoso (v. Luiz Carlos Azedo: “ato de Bolsonaro foi uma bolha e ele mostrou insanidade e desespero”).
A manifestação contra o Congresso e o Supremo foi um fracasso – no país todo (v. Atos golpistas de Bolsonaro em 49 cidades não juntam 15 mil).
Mas, no dia seguinte, lá estava Bolsonaro acusando os presidentes da Câmara e do Senado de “golpe” (literalmente: “seria um golpe se isolar chefe do Executivo por interesses que não sejam republicanos”).
Os presidentes da Câmara e do Senado pediram a volta do AI-5?
Quem pediu isso foi a manifestação que Bolsonaro convocou – e estava presente.
Ele protestou, porque aqueles débeis mentais pediam a volta do AI-5?
Pelo contrário, se esbaldou, chafurdando naquela lama fascista. Convocou, apoiou e compareceu a uma manifestação contra o Congresso, contra o Supremo e contra o povo brasileiro.
Uma manifestação que não passava de um grupo de ressentidos, de frustrados, mais alguns outros saídos do esgoto da sociedade, contra a Constituição – a mesma que, no ato de posse na Presidência, ele jurou obedecer e defender.
É esse sujeito que vem falar em “interesses republicanos”!
Bolsonaro nem sabe o que é isso, até porque, desde quando Bolsonaro é republicano? O que fez ele quando um de seus ministros (um dos mais chegados, mentalmente, a ele) atacou o marechal Deodoro da Fonseca – e o atacou, precisamente, por ter proclamado a República -, chamando-o de “traidor”?
O que fez ele?
Manteve o imbecil no Ministério.
Existe melhor forma de apoiar o elemento – e tudo aquilo que disse?
O que ele fez quando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) detectou irregularidades na conta bancária de seu filho, Flávio Bolsonaro, e na de seu faz-tudo, Fabrício Queiroz?
Usou a Presidência para destruir o COAF.
São esses os seus “interesses republicanos”.
Agora, diz ele, existe uma “histeria” com o coronavírus. Não é que o Brasil esteja ameaçado por uma epidemia que já deu a volta ao mundo (apesar da terra ser plana).
Tudo é uma “luta pelo poder”.
Em suma, a Câmara, o Senado, o Supremo, a mídia, os governadores, não estão preocupados com a epidemia. Todos querem dar um golpe. O coronavírus deve ser fake news. E os 13 da sua comitiva, que levaram o coronavírus na testa? (Certo, leitor, não foi bem na testa).
Mas é inútil buscar congruência nesse fissurado pela ditadura e pelo retrocesso.
O que disse o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia?
Isso:
“O mundo está passando por uma crise sem precedentes. O Banco Central americano e o da Nova Zelândia acabam de baixar os juros; na Alemanha e na Espanha, os governos decretam o fechamento das fronteiras. Há um esforço global para conter o vírus e a crise.
“Por aqui, o presidente da República ignora e desautoriza o seu ministro da Saúde e os técnicos do ministério, fazendo pouco caso da pandemia e encorajando as pessoas a sair às ruas. Isso é um atentado à saúde pública que contraria as orientações do seu próprio governo.
“A economia mundial desacelera rapidamente; a economia brasileira sofrerá as consequências diretas. O presidente da República deveria estar no Palácio coordenando um gabinete de crise para dar respostas e soluções para o país. Mas, pelo visto, ele está mais preocupado em assistir às manifestações que atentam contra as instituições e a saúde da população.”
Convenhamos que não há nada nessa declaração que não seja verdade.
Quanto ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre:
“Com a pandemia do coronavírus fechando as fronteiras dos países e assustando o mundo, é inconsequente estimular a aglomeração de pessoas nas ruas.
“A gravidade da pandemia exige de todos os brasileiros, e inclusive do presidente da República, responsabilidade! Todos nós devemos seguir à risca as orientações do Ministério da Saúde.
“Convidar para ato contra os Poderes é confrontar a Democracia. É tempo de trabalharmos iniciativas políticas que, de fato, promovam o reaquecimento da economia, criem ambiente competitivo para o setor privado e, sobretudo, gerem bem-estar, emprego e renda para os brasileiros.”
Também não há nada nessa declaração que não seja verdade.
O problema, portanto, é que Bolsonaro e sua quadrilha (ou, melhor, suas quadrilhas) odeiam a verdade.
C.L.