O presidente da CPI da Pandemia, Omar Azis, considerou graves as acusações de Bolsonaro: “A situação nossa em relação a insumos vai piorar com essa declaração hoje”, disse ele
Jair Bolsonaro aproveitou um evento na manhã desta quarta-feira (5), no Palácio do Planalto, para agredir gratuitamente a China. Ele insinuou que o país asiático, que é o principal parceiro comercial do Brasil, teria provocado a pandemia. “É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês”, disse ele.
Sob pressão de depoimentos de dois ex-ministros da Saúde na CPI da Pandemia, Jair Bolsonaro ameaçou o Supremo Tribunal Federal (STF) após falar em decreto para impedir gestores estaduais e municipais de fecharem comércio ou limitarem atividades. Dirigindo-se ao STF disse: “Não ouse contestar [o decreto], quem quer que seja. Sei que o Legislativo não contestará”. Apesar da insistência do presidente, não houve alteração que lhe permita “canetadas” sem aval do Congresso – tampouco atropelar decisão anterior do STF que impediu o Planalto de desrespeitar a autonomia de governadores e prefeitos no combate à Covid-19.
À tarde, durante o depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich na CPI, o presidente da comissão, Omar Aziz, lamentou a fala de Bolsonaro em um contexto em que a China é o principal fornecedor do Ingrediente Farmacêutico Ativo, necessário para a produção de imunizantes. “A situação nossa em relação a insumos vai piorar com essa declaração hoje. Hoje foi ruim. Ele chama de ‘guerra química’ e tal, e a gente está na mão dos chineses para trazer o IFA. Nós não temos produção de IFA, nem vamos ter tão cedo. Eu acho que não é o momento de cutucar ninguém. Nem aqui entre nós”, afirmou Aziz.
Como se não bastasse agredir a China, Bolsonaro chamou de “canalhas” todos aqueles que não recomendam o tratamento da Covid-19 com cloroquina, uma droga sabidamente ineficaz para esta doença. Ou seja ele ofendeu toda a comunidade científica do país e do mundo. Ao falar da CPI da Pandemia, ele disse que se curou tomando cloroquina: “Canalha é aquele que é contra o tratamento precoce e não apresenta alternativa. Esse é um canalha. O que eu tomei [para tratar a Covid, todo mundo sabe. Ouso dizer que milhões de pessoas fizeram esse tratamento.” “Por que é contra?”, indagou.
Durante a CPI o senador Otto Alencar (PSD-BA) rebateu o que afirmou Bolsonaro sobre ter tomado a cloroquina e se curado. O senador, que é médico, afirmou que em toda doença viral onde um número muito grande de pessoas evolui para a cura espontânea e apenas um fração pequena tem um desfecho desfavorável, como é o caso da Covid-19, há espaço para o charlatanismo. “Se as pessoas tomarem qualquer remédio ou tomarem apenas um copo de água, mais de 90% vão evoluir bem. Isso não quer dizer que a água curou”, disse ele. “Se tomar cloroquina, não pode concluir que foi esta droga que salvou”, acrescentou o senador.
Em sua teimosia anticientífica, Bolsonaro disse esperar que a CPI investigue o resultado do uso em massa de hidroxicloroquina durante o colapso da saúde em Manaus, no início do ano. Em plena tragédia sanitária ocorrida na capital do Amazonas no ano passado, onde a população foi atingida por uma variante mais agressiva do coronavírus, Bolsonaro e Pazuello negligenciaram o fornecimento de oxigênio e dezenas de pessoas morreram asfixiadas por falta do produto na cidade. Nesta mesma época, Pazuello estava concentrado em distribuir cloroquina na cidade.
Naquela oportunidade o governo federal já começava a reter as verbas para a manutenção e ampliação dos leitos de UTI e, ao mesmo tempo, foram gastos mais de R$ 90 milhões na fabricação de toneladas de cloroquina. Até o laboratório do Exército foi destinado para a produção de uma quantidade extra do medicamento ineficaz. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta chegou a dizer, em seu depoimento na CPI, que em reunião no Planalto, quando ainda era ministro, viu um projeto de decreto presidencial alterando a bula da cloroquina para incluir que a droga era eficaz contra a Covid-19. Mandetta disse que o projeto não foi prá frente e que o próprio presidente da Anvisa se posicionou contrariamente.
Projetando nos outros o que costuma fazer desde muito, Bolsonaro insinuou que os que são contra o uso de cloroquina, ou seja toda a comunidade científica do mundo, estão defendendo interesses escusos e estão interessados em auferir lucros. “Espero que a experiência de Manaus com doses cavalares de hidroxicloroquina seja completamente desnudada pelos senadores. Por que não se investe em remédio? Por que é barato demais? É lucrativo para empresas farmacêuticas ou para laboratórios investir no que é caro? Nós conhecemos isso”, disse. O capitão cloroquina não apresentou nenhuma prova nas acusações que fez e nem explicou porque as empresas fabricantes de cloroquina financiam campanhas pelo seu uso na Covid-19.
Bolsonaro afirmou ainda que está “sugerindo” a senadores da base aliada ao governo que fazem parte da CPI o convite para que profissionais que defendem o tratamento precoce falem à comissão. “Essa CPI, eu tenho certeza, parlamentares, senadores, em especial, vai ser excepcional no final da linha. Que vai mostrar sim o que alguns fizeram erradamente com os bilhões entregues pelo governo para os seus respectivos estados e municípios. Junto àqueles que são isentos e apoiam a verdade, senadores, estamos sugerindo que seja convocado ou convidado autoridades que venham falar do tratamento precoce”, disse ele.
Bolsonaro a cloroquina acabou de deformar o que já era ruim o teu cérebro e agora vai ter que entra no tarja preta.