“A vontade que eu tenho é de encher sua boca de porrada”, disse Bolsonaro para o jornalista que o questionou sobre os depósitos de Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro
Ao ser questionado por um repórter sobre Fabrício Queiroz, Bolsonaro disse para o jornalista que estava com vontade de “encher sua boca de porrada”.
O caso ocorreu durante visita à Catedral de Brasília. A ameaça se deu após Bolsonaro fazer uma visita à superquadra norte (SQN) 103 da Asa Norte, bairro de Brasília, e seguir para a Catedral. A quadra residencial é conhecida por abrigar um conjunto de prédios que pertencem ao governo e são ocupados por militares.
Bolsonaro foi perguntado por um repórter do jornal O Globo sobre o motivo dos depósitos de Fabrício Queiroz, assessor de Flávio Bolsonaro e amigo de longa data de Bolsonaro, feitos na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Ao ser questionado, Bolsonaro disse, primeiro, que não responderia às perguntas. Depois, ao ser questionado novamente sobre os cheques para Michelle, Bolsonaro se dirigiu aos jornalistas e disse: “Eu vou encher a boca desse cara na porrada”. Na sequência, o presidente emendou: “Minha vontade é encher tua boca na porrada, tá?”
Os repórteres presentes o questionaram e quiseram saber se o ataque era dirigido a toda imprensa ou apenas ao repórter. “Isso é uma ameaça presidente?”, perguntaram. Bolsonaro ficou calado.
A quebra de sigilo bancário de Fabrício Queiroz revelou que ele depositou 21 cheques na conta de Michelle Bolsonaro, totalizando R$ 72 mil entre 2011 e 2016.
Os depósitos entre 2011 e 2013 eram em cheques de R$ 3 mil. Em 2011, foram três cheques, somando R$ 9 mil passados para Michelle Bolsonaro, em 2012 foram seis, somando R$ 18 mil, e em 2013 foram, novamente, três cheques, completando R$ 9 mil. Em 2016 foram noves cheques que totalizam R$ 36 mil.
Entre janeiro e junho de 2011 também foram registrados depósitos feitos pela esposa de Fabrício Queiroz, Márcia Aguiar, que somam mais R$ 17 mil passados para Michelle Bolsonaro.
Fabrício Queiroz operava o esquema de “rachadinha” no gabinete de Flavio Bolsonaro quando o filho de Bolsonaro era deputado estadual.
No fim de 2018, quando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) relatou o depósito de R$ 24 mil feito por Queiroz para Michelle, Jair Bolsonaro disse que se tratava da devolução de parte de um empréstimo de R$ 40 mil que ele supostamente teria feito para o ex-assessor de seu filho e faz-tudo da família.
Após as novas revelações ficou clarou que Bolsonaro mentiu.
Esse mesmo relatório informou que o ex-assessor movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, valor que não condizia com seu salário. Mais tarde, descobriu-se que entre janeiro de 2014 e de 2017, Fabrício Queiroz movimentou R$ 7 milhões.
Queiroz recolhia parte do salário dos assessores de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) e repassava parte para a família Bolsonaro, conforme denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro. Com parte do dinheiro, pagou mais de R$ 150 mil das mensalidades escolares dos filhos de Flávio.
Queiroz foi preso pela Polícia Federal quando estava escondido no sítio do ex-advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef.
Nota do jornal O Globo:
“O GLOBO repudia a agressão do presidente Jair Bolsonaro a um repórter do jornal que apenas exercia sua função, de forma totalmente profissional, neste domingo.
Em cobertura de compromisso público do presidente, o repórter solicitou que ele se pronunciasse sobre reportagens da revista Crusoé e do jornal Folha de S.Paulo que, no início deste mês, informaram que o ex-assessor de Flávio Bolsonaro Fabrício Queiroz e a mulher dele depositaram cheques no valor de R$ 89 mil na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Anteriormente, o presidente havia prestado uma informação diferente sobre os valores.
Bolsonaro, então, em manifestação que foi gravada, não respondeu à pergunta e afirmou a vontade de agredir fisicamente o repórter.
Tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer servidor público, não importa o cargo, de prestar contas à população.
Durante os governos de todos os presidentes, o GLOBO não se furtou a fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel maior da imprensa, que é informar os cidadãos. E continuará a fazer as perguntas que precisarem ser feitas, neste e em todos os governos”.
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