Jair Bolsonaro estimulou seus seguidores a “tocarem fogo” em tudo quanto é floresta e enfraqueceu o quanto pode o controle dos desmatamentos em todo o país. Só faltou mandar prender os fiscais do Ibama.
Desmascarado pela explosão do desmatamento e queimadas que provocou, ele resolveu culpar organizações não governamentais (ONGs) e governadores. Disse que eles estariam por trás das queimadas na região amazônica.
Desde 1.º de janeiro até esta quarta-feira (21) foram contabilizados 74.155 focos, alta de 84% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que contabiliza esses dados desde 2013. Mais da metade dos focos está na região amazônica.
O insano afirmou, em entrevista nesta mesma quarta-feira (21), ao sair do Palácio da Alvorada, que seu “sentimento” é de que os incêndios criminosos têm o objetivo de “enviar as imagens para o exterior” e atingir seu governo.
“A questão da queimada na Amazônia, que no meu entender pode ter sido potencializada por ONGs, porque eles perderam grana, qual é a intenção? Trazer problemas para o Brasil”, disse Bolsonaro.
“O crime existe, e isso aí nós temos que fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós tiramos dinheiros de ONGs”, pontuou ele, iniciando suas insinuações. “Dos repasses de fora, 40% iam para ONGs. Não tem mais. Acabamos também com o repasse de dinheiro público. De forma que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro”, provocou.
Segundo Bolsonaro, as ONGs poderiam estar por trás das queimadas para “chamar a atenção” contra o governo do Brasil. “Então, pode estar havendo, sim, pode, não estou afirmando, ação criminosa desses ‘ongueiros’ para chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos”, acusou ele, sem apresentar nenhuma prova ou indicio do que falava.
“O fogo foi tocado, pareceu, em lugares estratégicos. [Tem] imagens da Amazônia toda. Como é que pode? Nem vocês teriam condições de todos os locais estar tocando fogo para filmar e mandar para fora. Pelo que tudo indica, foi para lá o pessoal para filmar e tocaram fogo. Esse que é o meu sentimento”, prosseguiu.
Bolsonaro ainda disse que há governadores na região Norte do Brasil que não movem “uma palha” para ajudar a combater os incêndios na Amazônia. Segundo afirma, “há governador que aproveita as queimadas para colocar a culpa no governo federal.
Ele já havia afrontado os governadores do Nordeste, chamando-os a todos de “paraíbas”, agora Bolsonaro cinicamente agride os administradores do norte.
Ele não citou nomes ou estados destes governadores, mas frisou que há governo estadual “que não fez nada, mas pode fazer”. “Tem governador, não quero citar nome, que está conivente com o que está acontecendo e bota a culpa no governo federal. Tem estados aí, que não quero citar, na região Norte, que o governador não está movendo uma palha para ajudar a combater incêndio. Está gostando disso daí”, disse.
A coordenação do Observatório do Clima, rede que reúne cerca de 50 organizações não governamentais do País em defesa do meio ambiente, reagiu às insinuações de Bolsonaro e afirmou que o recorde de focos de incêndio observados neste ano é apenas “o sintoma mais visível da antipolítica ambiental do governo”.
Em nota divulgada à imprensa, a coordenação da entidade apontou que as ações do governo federal contribuíram para o aumento do desmatamento na região e que “o fogo reflete a irresponsabilidade do presidente com o bioma que é patrimônio de todos os brasileiros, com a saúde da população amazônida e com o clima do planeta, cujas alterações alimentam a destruição da floresta e são por ela alimentadas, num círculo vicioso”.
O presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, criticou a fala de Bolsonaro, classificando-a de “irresponsável”. “Essa afirmativa da Presidência da República é completamente irresponsável, porque as ONGs têm como objetivo o meio ambiente como prioridade. Não faz nenhum sentido dizer que ONG está colocando fogo em floresta, pelo contrário. É um grande absurdo”, afirmou.