Ele jura que não deu o golpe. É verdade, ele foi barrado pelo chefe do Exército e o golpe fracassou. Agora terá que responder à Justiça exatamente pela tentativa. Se tivesse tido êxito, segundo ele mesmo, prenderia todo mundo. Pediu ao Congresso perdão para os terroristas que depredaram Brasília
Terminado o ato de Bolsonaro, neste domingo na Avenida Paulista, onde ele chamou seus seguidores para jurar, de cima o palanque, que não tentou dar o golpe fracassado do ano passado, as coisas voltam a ficar como antes no quartel de Abrantes. Ou seja, ele foi pego em flagrante num vídeo organizando o golpe junto a seus comparsas – e até exigindo uma data que fosse antes das eleições – e terá que responder por este crime. Ele já está inelegível e deverá ser preso.
APOIO A TERRORISTAS
Além de fingir que não teve nada com as artimanhas golpistas descobertas pela Polícia Federal, ele defendeu que os terroristas que invadiram e depredaram as sedes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto sejam perdoados. Chegou a chamá-los de “pobres coitados”. “É por parte do Parlamento brasileiro (…) uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos”, afirmou.
Os lunáticos responderam ao seu chamado e quebraram tudo. Estão sendo punidos por isso, assim como ele também terá que ser. A polícia está fazendo a sua parte e a Justiça também. A negativa da participação no golpe não convenceu nem o pessoas que estavam no palanque junto com ele. Bolsonaro disse que está sendo perseguido e negou várias vezes estar envolvido em qualquer tentativa de golpe de Estado.
“O que é golpe? Golpe é tanque na rua. É arma, é conspiração. É trazer classes políticas para o seu lado. Empresariais. É isso que é golpe. Nada disso foi feito no Brasil. Fora isso, por que continuam me acusando de golpe? Agora o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição?”, afirmou.
CRIME FOI TENTAR DAR O GOLPE
É verdade, Bolsonaro não está sendo acusado de ter dado o golpe. Ele fracassou e terá que pagar pela tentativa. Ele realmente foi barrado pela decisão firme da sociedade em resistir ao seu arbítrio. Foi barrado pela postura firme também do Alto Comando das Forças Armadas, que não aderiu à sua aventura criminosa.
Foi por isso que ele não conseguiu colocar tanques nas ruas. Bem que ele tentou, mas foi impedido na hora H. A Polícia Federal descobriu que Bolsonaro mostrou a minuta do golpe – descoberta durante as investigações – para os comandantes militares, na tentativa de obter seu apoio e recebeu a resposta do chefe do Exército que, se ele insistisse na trama, seria preso.
CONFISSÃO DA MINUTA
Bolsonaro falou da minuta do golpe e acabou produzindo mais provas contra ele mesmo em seu discurso. Ele já tinha mandado filmar a reunião preparatória do golpe, que a polícia encontrou. No discurso, ele confessou a existência minuta do golpe. Admitiu também que pretendia decretar o estado de defesa. Esta minuta tinha sido achada na casa de Mauro Cid, seu ajudante de ordem.
“Agora, o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência. Golpe usando a Constituição. Deixo claro que estado de sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Isso foi feito? Não. Apesar de não ser golpe o estado de sítio, não foi convocado ninguém dos conselhos da República e da Defesa para se tramar ou para se botar no papel a proposta do decreto do estado de sítio.
Logo no início de seu discurso Bolsonaro relembrou sua carreira política, o atentado sofrido durante a campanha de 2018 e insinuou que foi roubado na eleição. “Aquilo que aconteceu em outubro de 2022”, disse ele, sobre sua derrota. “Vamos considerar isso uma página virada na nossa história”, acrescentou, depois de insinuar que foi roubado. O que ele queria era ele mesmo fraudar a eleição. Isso ele não conseguiu.
REUNIÃO COM COMPARSAS
De acordo com as investigações, o ex-presidente, alguns de seus ex-ministros e militares se organizaram para tentar um golpe de Estado e impedir a chegada de Lula ao poder. Em 2023, a Polícia Federal encontrou na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, uma minuta de decreto que previa a instauração de um estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e mudar o resultado da eleição de 2022. Além disso, os golpistas pretendiam prender ministros do Supremo e líderes da oposição.
No início da manifestação se ouviam cânticos religiosos dos manifestantes que foram em grande parte arrastados pelos pastores pentecostais de todos os estados. Além de Bolsonaro, discursaram o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que foi preso recentemente por porte ilegal de arma em casa, ex-primeira-dama, Michelle, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o pastor Silas Malafaia e parlamentares bolsonaristas apoiadores da tentativa de golpe.
CHEFE DO PL FALOU ANTES
O chefe do PL teve que falar antes porque os dois estão proibidos de se encontrar por serem ambos investigados pela tentativa de golpe.
O governador Tarcísio de Freitas, manteve um discurso mais ameno. Agradeceu Bolsonaro, a quem chamou de amigo. “Eu não vou chamar nem de presidente agora, vou chamar de Bolsonaro, meu amigo Bolsonaro. Você não é mais um CPF, você não é mais uma pessoa, você representa um movimento”, afirmou. Tarcísio também fez elogios ao governo de Bolsonaro e disse que o público “estava com saudade de vestir o verde e amarelo.” Ele só esqueceu que os terroristas que invadiram os Três Poderes estavam de verde e o amarelo.
Muitos seguidores de Bolsonaro portavam bandeiras de Israel, em apoio ao genocídio que o governo daquele país esta cometendo contra a população palestina na Faixa de Gaza. Na última semana, o ditador Benjamin Netanyahu foi criticado por Lula, que chamou de genocídio a morte de palestinos em Gaza e comparou as ações do Exército israelense, que já matou mais de 30 mil civis, na maioria crianças e mulheres, ao extermínio de judeus por nazistas no Holocausto. Em resposta, Israel se isolou do mundo ao declarar Lula “persona non grata”, o que significa que sua presença não é bem-vinda naquele país.
BOLSONARISTAS PRESENTES
Estavam presentes no ato: Jair Bolsonaro, a ex-primeira-dama Michelle e o pastor Silas Malafaia; os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); e Santa Catarina, Jorginho Mello (PL); o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto – ele discursou antes da chegada de Bolsonaro; os deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO), Nikolas Ferreira (PL-GO) e Carla Zambelli (PL-SP); o senador Magno Malta (PL-ES); o ex-deputado federal João Roma (PL); e outros.
Bolsonaro confessa crime e tem que ser punido com todo rigor da lei.