
Bolsonaro confirmou a denúncia de censura realizada pelos servidores que pediram demissão do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que seu governo está promovendo nas questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), nesta segunda-feira, 15, durante o Fórum de Investimentos, em Dubai. Segundo Bolsonaro, “começam agora a ter a cara do governo as questões da prova do Enem”.
“Ninguém precisa ficar preocupado. Aquelas questões absurdas do passado, que caíam tema de redação que não tinha nada a ver com nada. Realmente, algo voltado para o aprendizado”, emendou.
Na última semana, 37 servidores do Inep realizaram um pedido de demissão coletiva, em repúdio ao processo de desmonte realizado pelo governo Bolsonaro no órgão, que é responsável pelo Enem, além de diversas pesquisas educacionais e o censo escolar. Eles denunciam a gestão de Danilo Dupas à frente do órgão, que praticou assédio moral contra os servidores.
Na sexta-feira (12), os funcionários relataram ao Congresso Nacional que elementos ligados ao governo atuaram para intervir no conteúdo das provas do Enem, marcado para o próximo dia 21 de novembro. Os servidores afirmam que o governo tentou ampliar a lista de pessoas com acesso à sala das provas, que é de entrada restrita. Depois atuou para remover questões das provas.
Em reportagem do programa ‘Fantástico’ da TV Globo, servidores relataram que o diretor de Avaliação de Educação Básica, Anderson Oliveira, pediu a remoção de mais de 20 questões da primeira versão da prova deste ano. A maior parte das questões se referia a contextos sociopolíticos ou socioeconômicos — a escolha é feita a partir de um repositório de questões elaboradas por professores selecionados por edital.
De acordo com um dos funcionários, a maior parte da censura foi aplicada em cima de questões que envolvem contextos sociopolíticos ou socioeconômicos, em especial as que giram em torno da história dos últimos 50 anos do Brasil.
Os funcionários sustentam que, do ponto de vista técnico, não havia motivos para as questões serem removidas. As perguntas da prova do Enem são escolhidas pela equipe técnica do Inep de um repositório chamado Banco Nacional de Itens — um banco de questões elaboradas por professores escolhidos por edital.
“O grande erro é achar que você pode simplesmente pegar uma prova e sair riscando itens cujo conteúdo você não gosta”, falou um servidor.
De acordo com os servidores, houve pressões psicológicas e intimidação velada na formulação do Enem 2021, para que evitassem escolher questões polêmicas que eventualmente incomodariam o governo Bolsonaro.
Os funcionários relataram que o governo colocou a presença de um policial federal onde as provas são elaboradas.
“O Inep precisa explicar como essa pessoa foi parar lá dentro, quem autorizou a entrada, o que ele fez, que nível de controle a gente tem sobre as informações que ele acessou estando lá”, disse um funcionário em entrevista à TV.
Bolsonaro disse que “o negócio é complexo” e insinuou que havia gastos excessivos com determinados funcionários.
“Não quero entrar em detalhes, mas é um absurdo o que se gastava com poucas pessoas lá. Inadmissível.”
A cara de Bolsonaro
Para o diretor da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP), Lucca Gidra, “a denúncia dos servidores que pediram demissão do Enem mostra que o governo Bolsonaro está fazendo uma tentativa clara de censura do ENEM”.
“Bolsonaro confirmou isso hoje, revelando que o seu objetivo é prejudicar os estudantes, falando que agora a prova está cada vez mais cara do governo. A gente sabe como que é a cara do governo. É a cara da descredibilidade, da desconfiança e de nenhum respeito pelos estudantes. Ou seja, o Bolsonaro está deixando a prova com a cara dele. E é isso que ele está fazendo com maior vestibular do Brasil”, afirmou o líder estudantil.
“Infelizmente comprometendo uma geração inteira que passou por grandes dificuldades no estudo dentro da pandemia e que sofre diariamente com o descaso deste governo com a Educação”, afirmou.