Mesmo sabendo da crise de desnutrição, ele interrompeu a distribuição de alimentos. Na palestra disse que “a intenção não era atender a esses, porque ali está misturado: 40% da terra yanomami é do Brasil, 60%, da Venezuela”
As peças do tabuleiro vão se juntando e revelando cada vez mais o comprometimento criminoso do governo Bolsonaro na tragédia dos yanomamis. Ofícios da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), do Ministério da Saúde, revelam que seu governo cortou a alimentação doada aos yanomamis, mesmo após ser alertado da grave situação e do pedido da manutenção de entrega de comida aos indígenas.
Os documentos foram enviados, segundo o site UOL, entre junho de 2021 e março de 2022 aos ministérios da Justiça e Segurança Pública e da Cidadania e comprovam que tramitaram ao menos três pedidos com sérios alertas do órgão sobre a situação nutricional dos yanomamis. Nenhum deles obteve resposta. O governo simplesmente cortou a distribuição dos alimentos e agravou ainda mais a situação, que já era crítica.
Os documentos mostram que os indígenas não receberam alimentos do governo federal em quantidade suficiente nos últimos tempos e uma grave crise humanitária se alastrou adoecendo e matando muitos deles por desnutrição dentro do território. Um outro relatório com diagnóstico feito pela ONG Missão Evangélica Caiuá no início deste ano confirma que praticamente não havia entrega de alimentos.
A declaração de Bolsonaro na semana passada, numa palestra realizada em Orlando, nos EUA, deixa a nu as causas da tragédia. O desprezo de Bolsonaro pelos yanomamis fica evidente em suas próprias palavras. Ele voltou a dizer que foi contra a demarcação dessas terras. “Se não tivesse riqueza lá, não seria demarcado como terra indígena. Os interesses são muitos”, disse ele, insinuando que o que motivou a criação da reserva, não foi a proteção do índios, mas, sim, “interesses econômicos”.
Bolsonaro praticamente confessa que não pretendia ajudar aquela população, mesmo sabendo da crise . “A intenção não era atender a esses, porque ali está misturado: 40% da terra yanomami é do Brasil, 60%, da Venezuela. Uma região aurífera, de riquezas imensuráveis”, afirmou. Bolsonaro foi um dos maiores incentivadores do garimpo ilegal nas terras indígenas. As vezes em que esteve na região não se reuniu nem uma vez com os índios, mas apenas com garimpeiros ilegais.
“Eles [os yanomamis] são exatamente iguais a nós. Têm o mesmo sentimento, o mesmo destino. E são o povo mais pobre no solo mais rico do mundo”, prosseguiu, defendendo o garimpo na região e desconversando sobre as consequências desastrosas para a população yanomami com a poluição dos rios pelo mercúrio usado pelo garimpo industrial que se instalou na região. Muitos indígenas já não tinham mais água potável para beber, tal era o grau de poluição de suas águas. Sem falar nas doenças que os mais de 20 mil garimpeiros levaram para os cerca de 30 mil índios.
A tragédia elevou a mortalidade infantil yanomami, já superando a de Serra Leoa, a pior do mundo, segundo dados do Ministério da Saúde. Os impactos da parada de distribuição de comida por meio do programa ADA (Ação de Distribuição de Alimentos a Grupos Populacionais Tradicionais) foram devastadores. O novo governo do presidente Lula decidiu decretar urgência, expulsar os garimpeiros e retomar as ações de Distribuição de Alimentos, com objetivo de minimizar emergencialmente as situações de vulnerabilidade alimentar da população yanomami.