Polícia israelense pede denúncia de Netanyahu à Justiça por receber propinas
Benjamin Netanyahu, com quem Bolsonaro mostrou tanta intimidade na sexta-feira (29/12), é um corrupto recentemente apontado pela polícia de Israel, após um inquérito que durou três anos, pelos crimes de “suborno, fraude e quebra de confiança”.
Os comentários da imprensa – daqui e de outros países – de que Netanyahu veio ao Brasil para ter um descanso, à beira de ser denunciado como ladrão do dinheiro público, são procedentes.
Agora, imagine o leitor o que significa a polícia de Israel investigar um sujeito que é primeiro-ministro de Israel há nove anos (e pela segunda vez), e não somente chegar à conclusão de que se trata de um corrupto, como, também, divulgar tal conclusão em uma nota pública.
Provavelmente, é preciso ser muito corrupto para chegar a isso.
Pois a polícia israelense recomendou à Procuradoria Geral do país a denúncia de Netanyahu, por corrupção, à Justiça.
Não é o único caso de Netanyahu, que já foi pego pela polícia em quatro inquéritos.
O primeiro, por receber um milhão de shekels [moeda de Israel] como propina – além de charutos, champanhe e joias – de dois empresários, em troca de favores do governo israelense.
O segundo, por subornar, com dinheiro do Estado, o jornal “Yedioth Ahronoth”, para obter “notícias favoráveis”.
O terceiro, por receber propina de uma empresa alemã – a notória ThyssenKrupp, fusão de duas financiadoras de Hitler na década de 30 do século passado – para que Israel comprasse três submarinos, contra a posição do staff do Ministério da Defesa do país, que não via utilidade, para Israel, nesses aparelhos alemães.
O advogado e amigo pessoal de Netanyahu, David Shimron, era o representante da ThyssenKrupp junto ao governo de Israel. O mesmo Shimron era, também, representante da empresa israelense contratada para a manutenção dos submarinos.
O quarto, por passar, através de um assessor, informações privilegiadas para os donos do maior grupo de telecomunicações do país, o Bezeq. Foi esse o caso em que a polícia pediu a denúncia de Netanyahu no último dia 2 de dezembro.
Mas não foram apenas “informações privilegiadas” que Netanyahu passou para o grupo Bezeq.
Numa operação que proporcionou um ganho de milhões de dólares aos donos do Bezeq, Netanyahu, segundo o comunicado da polícia israelense, entre 2012 e 2017, passava dinheiro público em troca de “cobertura favorável no site de notícias Walla”.
“O primeiro-ministro”, diz a nota da polícia de Israel, “aceitou suborno e agiu em conflito de interesses, intervindo e atuando em decisões reguladoras que favoreceram Shaul Elovitch e o Grupo Bezeq, e, ao mesmo tempo, exigiu direta e indiretamente interferir no conteúdo do site Walla de forma que se beneficiasse”.
E, mais adiante, diz a polícia:
“… a relação entre o primeiro-ministro e seus associados próximos com o senhor Shaul Elovitch foi uma relação de suborno. “
O primeiro-ministro e seu bando, diz a nota policial, “intervieram de maneira flagrante e contínua, e em algumas ocasiões inclusive diariamente, no conteúdo publicado pelo site Walla News, e também tentaram influenciar na nomeação de altos funcionários (editores e repórteres)”, com “o objetivo de promover os interesses pessoais do primeiro-ministro mediante a publicação de artigos e fotos aduladoras, eliminando o conteúdo crítico sobre ele e sua família”.
A polícia pediu à Procuradoria Geral que Netanyahu fosse denunciado à Justiça, nesse caso, por “crimes de suborno, fraude e abuso de confiança e aceitar de maneira fraudulenta as circunstâncias agravantes”.
Quanto à sua mulher, Sara, os policiais pediram sua denúncia por “suborno, fraude, abuso de confiança e obstrução de procedimentos de investigação e judiciais”.
Além de Netanyahu e sua mulher, a polícia pediu a denúncia do principal acionista do Bezeq, Shaul Elovitch.
A mulher de Netanyahu é figura de destaque nesse círculo corrupto. Sara, agora também no Brasil, disputou, quase a tapa, até um relógio de ouro, ofertado por Sílvio Berlusconi (v. Netanyahu, Sara e o relógio de ouro).
Além disso, Netanyahu recebeu dinheiro do magnata francês Arnaud Mimran, um bandido, condenado a oito anos de prisão por uma fraude de 283 milhões de euros no comércio de licenças de emissões de carbono, com várias outras fraudes financeiras no currículo – e até o rapto e extorsão de um banqueiro suíço (cf. Séquestration d’un banquier suisse: Arnaud Mimran et Farid Khider mis en examen et écroués).
Porém, disse Netanyahu, era tudo legal: o dinheiro de Mimran era só para “financiar atividades públicas e promover Israel no exterior”.
Acuado em Israel – Netanyahu, além de primeiro-ministro, acumula as pastas da Defesa, das Relações Exteriores, da Saúde e da Imigração -, na véspera do Natal ele convocou eleições antecipadas para 9 de abril.
O plano é ser reeleito antes que o procurador geral de Israel, Avichai Mandelblit, faça alguma denúncia à Justiça. Assim, diz o jornalista israelense Yossi Verter, do jornal “Haaretz”, Netanyahu “poderá argumentar que o povo o escolheu já conhecendo as suspeitas que pairam sobre ele”.
Bolsonaro não teve pejo de aparecer em público com esse corrupto.
Mas, seguindo uma tradição amaldiçoada desde a época que Moisés, em boa hora, enviou os levitas para punir os adoradores do bezerro de ouro (Êxodo 32:7-28), Netanyahu não é apenas corrupto.
LIMPEZA ÉTNICA
A assessoria de Netanyahu não anunciou se ele pretende ir até Curitiba visitar seu amigo Eduardo Cunha, que, quando esteve em Israel, recebeu honras de chefe de Estado. Cunha levou uma comitiva de nove deputados e mais o pastor Everaldo – aquele que batizou Bolsonaro, por sinal, em Israel (v. Pastor que batizou Bolsonaro recebeu propina de R$ 6 milhões da Odebrecht).
As passagens e a estadia em hotéis de Israel, tanto dos membros da comitiva quanto de suas mulheres, foram pagas pela Câmara dos Deputados.
As “amizades” de Netanyahu são todas desse quilate: Berlusconi, Cunha, Trump, Bolsonaro – e os israelenses têm sorte de Mussolini e Hitler não estarem vivos.
Não é um exagero. Talvez Hitler, com seu doentio antissemitismo, recusasse tal “amizade”. Mas não Netanyahu.
Pois o banho de sangue que é a sua política em relação aos palestinos, não difere, na qualidade, daquela de Hitler em relação a judeus e eslavos. Apenas pelo tamanho.
É verdade, Netanyahu não instalou campos de extermínio para os palestinos. Ao invés disso, com uma carga racista que somente encontra paralelo, após a II Guerra Mundial, nos tempos do Apartheid da África do Sul, tem feito o possível para matar palestinos dentro do próprio território palestino.
A direção de sua política é a “limpeza étnica”, que, como sempre, significa roubar os bens – a começar pela terra – de suas vítimas.
Em maio deste ano, depois que mais de 60 palestinos, em um único dia, foram assassinados por forças israelenses – quando protestavam contra a transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém – Netanyahu disse à TV norte-americana CBS:
“Você tenta métodos não-letais e não funcionam. Então te deixam com opções ruins.”
A política de Netanyahu, portanto, é matar. Agora, a culpa de morrer é dos palestinos – apesar dessa chacina ter acontecido na faixa de Gaza, que não é território israelense.
Durante o atual governo de Netanyahu, as forças de repressão israelenses assassinaram 3.356 civis palestinos (755 eram crianças e 334 eram mulheres).
Esses números não incluem aqueles que morreram porque, depois de feridos, não foi permitido que tivessem acesso a atendimento médico.
Aliás, esses números não incluem os feridos em geral pelas forças do governo israelense (segundo a ONU, somente em 2018, houve 29 mil feridos entre os palestinos; v. ONU News, Ocha: 2018 teve número recorde de mortos e feridos em Territórios Palestinos).
Em expedições de represália contra famílias palestinas, foram demolidas 1.257 casas, com 5.418 pessoas desabrigadas (das quais 2.760 eram crianças).
Hoje, em Israel, há 5.426 presos palestinos, inclusive 220 crianças palestinas.
Além disso, há 481 palestinos (incluindo quatro crianças e duas mulheres) presos “administrativamente”, no mesmo estilo do apartheid na África do Sul, sem nem ao menos alguma acusação sobre eles.
A tortura é uma rotina nos interrogatórios do Serviço de Segurança Geral (SSG) de Israel e da Agência de Segurança de Israel, também conhecida por Shin Bet (v. Torture and Abuse in Interrogation e Routine Torture: Interrogation Methods of the General Security Service).
A origem desses dados, que apresentamos resumidamente, é israelense (v. B’Tselem – The Israeli Information Center for Human Rights in the Occupied Territories).
Se o leitor quiser consultar uma fonte palestina, recomendamos o Centro Palestino de Direitos Humanos, localizado na Faixa de Gaza.
Mas as diferenças entre os números das duas fontes são ocasionais.
Quanto ao estrangulamento econômico a que o governo de Netanyahu submete os territórios palestinos, com um desemprego de quase 50% da força de trabalho, o leitor poderá consultar o Escritório Central Palestino de Estatísticas.
Netanyahu é um contumaz agressor da comunidade e da legislação internacional, repudiado pelo desrespeito aos direitos humanos.
Nisso, também, se parece muito com Hitler.
É esse corrupto, criminoso, que chamou “irmão” a Bolsonaro.
E este aceitou essa pecha, infamante para qualquer homem de bem, com a carantonha embevecida.
C.L.