Bolsonaro voltou a atacar a vacina CoronaVac e a desacreditar a vacinação de jovens enquanto o Ministério da Saúde estoca em seus galpões 17 milhões de doses de vacina contra a Covid-19.
Nesta quinta-feira (14), durante sua live semanal nas redes sociais, Bolsonaro a criticou a vacinação de crianças e adolescentes, afirmou que, para os já infectados pelo coronavírus, “de nada serve” a imunização e disse que a CoronaVac, produzida no Butantan, “não tem comprovação científica nenhuma”.
Segundo Bolsonaro, o Brasil estaria sendo vítima de um “lobby das “indústrias farmacêuticas”, que estariam supostamente incentivando prefeitos e governadores a instituir a imunização obrigatória para vender mais vacinas. Nenhuma prova para embasar as afirmações foram apresentadas.
“Por que obrigar criança a tomar vacina? Qual a chance de uma criança, por exemplo, contrair o vírus e ir a óbito? […] Parece, não quero afirmar, que é o lobby da vacina. […] Os interesses das indústrias farmacêuticas que estão faturando bilhões com a vacina. Será? Não tem cabimento. Segundo vejo em estudos, eu estou falando isso aqui, estudos que quem já contraiu o vírus e se curou, obviamente. [Para essas pessoas] de nada vale a vacina, mas continua a pressão”, afirmou Bolsonaro em sua live.
17 milhões de doses estocadas
O que Bolsonaro não diz em sua live é que enquanto estados inteiros precisam paralisar a vacinação por falta de doses, seu governo deixa 17 milhões de imunizantes paralisados no Centro de Distribuição do Ministério da Saúde só porque ele quer. O dado foi levantado pela plataforma ‘Vacina Covid BR’, que reúne as informações e elaboram o estudo diariamente com base nas notícias veiculadas na imprensa.
De acordo com os dados levantados pela plataforma “tem vacina no armazém, nesta sexta-feira, fazendo aniversário de 1 mês: são as 3,2 mi de CoronaVac que chegaram pelo Covax. Há também 3 milhões de doses da AstraZenecas, que poderiam estar acelerando as segundas doses, e 9,8 milhões de Pfizers que daria para vacinar adolescentes e adultos que faltam, dar D2 e reforço”.
A vacina da Pfizer é a única que foi autorizada pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser aplicado em adolescentes entre 12 e 17 anos no Brasil.
Com as doses represadas no Centro de Distribuição do Ministério da Saúde, há centenas de municípios e até estados inteiros que paralisaram a aplicação de primeiras doses em adolescentes,
Segundo levantamento do ‘Vacina Covid BR’, desde 25 de setembro, o ministério não encaminha uma única dose para a aplicação de primeiras doses aos estados brasileiros.
A vacinação contra Covid-19 em adolescentes foi suspensa em algumas cidades catarinenses por falta de doses. A situação ocorre em municípios dbfo Sul, Vale do Itajaí e na capital. A Secretaria de Estado da Saúde afirma que, assim que receber novas doses, vai encaminhar para as cidades concluírem a vacinação dos adolescentes.
Criciúma, no Sul do estado, enfrenta a falta de doses para esse público há nove dias. A última remessa de doses da Pfizer chegou dia 24 de setembro.
Em Florianópolis, a situação é a mesma, sem vacinação para adolescentes.
Blumenau, no Vale do Itajaí, também está aguardando uma outra remessa para disponibilizar novas vagas para adolescentes. O mesmo acontece em Chapecó.
A Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado denunciou que, na semana passada, o Ministério da Saúde informou que só vai enviar novos lotes de vacina quando a etapa de reforço nos idosos e trabalhadores de saúde terminar. Por enquanto, não há prazo pra isso acontecer.
O Paraná também está sem receber novas doses do Ministério da Saúde. O estado utilizou doses da chamada reserva técnica para iniciar a imunização dos jovens. Entretanto com a sabotagem do governo federal, a imunização precisou ser paralisada.
Os municípios que começaram a vacinar adolescentes menores de idade sem problemas de saúde estão usando o estoque da reserva técnica da Pfizer. “A escolha por vacinas remanescentes para iniciar a imunização dos adolescentes”, explicou a Secretaria de Estado de Saúde, é justamente porque “não houve, ainda, repasse de doses destinadas a este público por parte do Ministério da Saúde”.
Curitiba abriu apenas uma chamada, no início de outubro, para os menores de idade nascidos entre outubro de 2003 e dezembro de 2005. Depois desta etapa, a imunização de adolescentes sem comorbidades não avançou mais na capital. Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse por meio de nota que “aguarda doses destinadas para primeira aplicação em adolescentes”. Não há previsão de abertura de novas faixas etárias para a aplicação da primeira dose entre os menores de 18 anos.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) suspendeu a imunização contra a Covid-19 de adolescentes na terça-feira (12). O motivo é a falta doses para a primeira aplicação da vacina. A pasta só vai retomar o atendimento aos adolescentes com uma nova remessa do Ministério da Saúde.
Nesta segunda-feira (11), a Secretaria até recebeu 40.950 doses da vacina Pfizer, mas informou que esse montante será utilizado exclusivamente para atender pessoas que esperam a segunda dose para completar o esquema vacinal.
No Rio de Janeiro, moradores relataram falta da vacina da Pfizer em vários postos na manhã desta sexta-feira. De acordo com relatos em grupos nas redes sociais, a escassez já atinge pelo menos 14 pontos de aplicação no município. Os estoques da Pfizer estão à beira do esgotamento na cidade, como anunciou a Prefeitura durante a divulgação do 41º boletim epidemiológico.