O presidente Jair Bolsonaro decidiu prorrogar a cota de importação de etanol sem tarifas por noventa dias. Deve ser autorizada uma cota adicional de 187,5 milhões de litros que poderão ser importados por três meses sem a tarifa de 20%.
A quantia é proporcional a cota anual de 750 mil litros que venceu em 31 de agosto. Não há contrapartidas à vantagem que Bolsonaro estende aos Estados Unidos. Os produtores de etanol de milho dos EUA são os maiores beneficiados, que Trump quer agradar na conquista de votos para sua reeleição.
A pressão de Trump recaiu sem o menor constrangimento sobre alguns produtores nacionais, que pressionados por Bolsonaro aderiram ao ato criminoso. “Se a questão dos noventa dias é uma questão importante para o conforto político do presidente da República e se essa é uma oportunidade para nós podermos negociar com os americanos questões que são importantes para o setor, como ampliação da cota de açúcar, o setor não se opõe a isso”, disse o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira (MDB/RS).
Essa declaração só confirma o alinhamento do governo Bolsonaro ao governo Donald Trump e o apoio a sua reeleição, em detrimento da economia nacional e dos produtores brasileiros, particularmente do Nordeste, em plena pandemia da Covid-19 e do país em recessão.
A renovação da cota precisa ser oficializada em reunião do Comitê Executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), do qual participam além do presidente da República, os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Paulo Guedes (Economia) e Tereza Cristina (Agricultura).
A decisão de prorrogar a isenção foi defendida por Ernesto Araújo, despachante de Trump. Ao setor sucroalcooleiro disse que a iniciativa abriria, após vitória de Trump, um “ótimo acordo” para beneficiar as exportações de açúcar brasileiro.
No início de agosto, Trump ameaçou o Brasil com retaliações, dizendo querer “tarifas justas” e “reciprocidade”. O setor protestou. “Trump diz que não quer tarifas, mas ignora que ela existe desde 1995 e só foi suspensa. Ela não está sendo imposta. Ele esquece também que o EUA tarifa o açúcar brasileiro em 140%. A visão dele sobre o tema é: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, declarou o presidente da Unica, Evandro Gussi, na época, sobre a declaração de Donald Trump de que o Brasil não age com “reciprocidade”. “Não temos culpa, portanto, que os americanos não tenham para onde enviar o etanol que produzem, já que Trump fez a opção pela indústria do petróleo em seu país”, criticou o presidente da entidade.
Sob o governo Bolsonaro, o Brasil tem atendido seguidamente a Washington. No ano passado, por iniciativa de Paulo Guedes, ministro da Economia, a quota de importação sem tarifa foi aumentada de 600 milhões de litros para 750 milhões de litros – mais 20% -, e agora simplesmente querem desovar aqui o estoque para alegria do agronegócio de Iowa e de Trump que está bem atrás nas pesquisas para reeleição. https://horadopovo.com.br/trump-agride-brasil-com-exigencia-de-aliquota-zero-para-etanol-dos-eua/