Em nota, o Planalto disse que as críticas aos nazistas tupuniquins, que endeusaram Hitler, são “calúnias, difamação e assassinato de reputação”. Inventou que os culpados são os comunistas
Jair Bolsonaro considerou as punições ocorridas a dois apologistas do nazismo, Monark, do Flow Podcast, que defendeu a criação de um partido nazista no Brasil, e o jornalista Adrilles Jorge, comentarista da rádio Jovem Pan, que saiu em socorro do primeiro e saudou Hitler com a mão direita levantada, como “calúnia, difamação e assassinato de reputação”. “Não se combate uma injustiça com injustiças”, reclamou o mandatário.
A nota do Planalto, divulgada nesta quarta-feira (9), em que pese fingir criticar o nazismo, tinha, na verdade, dois outros objetivos bem distintos. O primeiro foi defender os dois apoiadores do regime assassino do III Reich e não deixar “espaço para a calúnia, a difamação e a destruição de reputações” dos simpatizantes do nazismo. O que ele chama de calúnia e difamação foi exatamente o repúdio firme da sociedade às duas viúvas do Führer.
CALÚNIAS A QUEM DERROTOU O NAZISMO
E o segundo objetivo de Bolsonaro foi caluniar aqueles que, com sacrifício de milhões de vidas, muita entrega, muita coragem e heroísmo, esmagaram o nazi-fascismo, ou seja, os comunistas soviéticos e os milhões de integrantes de outras forças políticas que criaram as guerrilhas de resistência nos países ocupados pelo fascismo.
Monark foi afastado do podcast e Adrilles foi demitido da rádio Jovem Pan após suas falas pró-nazistas. A rádio considerou inaceitável o comportamento de seu funcionário. “O Grupo Jovem Pan repudia qualquer manifestação em defesa do nazismo e suas ideias. Somos veementemente contra a perseguição a qualquer grupo por questões étnicas, religiosas, raciais ou sexuais”, disse a emissora.
Bolsonaro repetiu na nota que o Planalto divulgou o que Adrilles disse na rádio antes de ser punido. No programa, o jornalista tinha manifestado a sua ignorância histórica e mentiu, dizendo – antes de saudar Hitler – que os comunistas teriam sido piores que os nazistas.
Foi exatamente o que Bolsonaro disse. “É de nosso desejo, inclusive, que outras organizações que promovem ideologias que pregam o antissemitismo, a divisão de pessoas em raças ou classes, e que também dizimaram milhões de inocentes ao redor do mundo, como o Comunismo, sejam alcançadas e combatidas por nossas leis”, afirmou a nota do Planalto.
Por mais que incomode Bolsonaro, as punições dos dois apologistas do nazismo não significam nenhuma calúnia, muito pelo contrário, é uma demonstração clara de que o Brasil, que enviou 25.334 pracinhas para a heroica luta contra o nazi-fascismo na Itália, dos quais 471 deram a própria vida contra a besta-fera, não aceita de forma nenhuma que pessoas degeneradas e estimuladas pelo clima de ódio gestado no Planalto, se achem no direito de justificar o genocídio nazista.
Insinuar que o repúdio da sociedade às manifestações de apreço ao nazismo é uma “calúnia” ou “assassinato reputações”, como fez Bolsonaro, é tão grave como tentar igualar a ação heroica dos comunistas e da população da União Soviética, que, junto com os aliados, libertaram a Europa e a Humanidade das atrocidades de Hitler, com a barbárie nazi-fascista que matou milhões de judeus e praticou o extermínio de populações inteiras do leste europeu e da URSS.
HITLER ASSASSINOU MILHÕES DE PESSOAS
Bolsonaro, que defendeu abertamente que 20 a 30 mil opositores fossem assassinados no Brasil na década de 70, que elegeu um torturador como seu ídolo, que tentou implantar uma ditadura e que impôs a tese genocida da imunidade de rebanho, responsável pela morte de centenas de milhares de pessoas pela Covid no Brasil, tem que pensar muito antes de falar dos comunistas.
Ele finge condenar o nazismo, mas, na verdade, usa a nota para defender os apologistas da supremacia ariana e dos crimes da SS. A nota foi feita com objetivo de repetir o que os neonazistas de hoje têm feito. Ou seja, acusar os comunistas e os povos soviéticos, que sacrificaram 27 milhões de seus filhos, para esmagar a besta nazista e libertar a Humanidade, de serem os vilões a serem punidos. Felizmente Bolsonaro não engana mais ninguém.
Os protegidos do miliciano do Planalto, que fizeram a apologia de Hitler, e que, segundo ele, não podem ser “caluniados” ou ter sua “reputação assassinada”, foram severamente repudiados também pela comunidade judaica brasileira, mas Bolsonaro, num cinismo que lhe é típico, achou que podia insinuar que os comunistas é que são antissemitas.
“É de nosso desejo, inclusive, que outras organizações que promovem ideologias que pregam o antissemitismo, a divisão de pessoas em raças ou classes, e que também dizimaram milhões de inocentes ao redor do mundo, como o Comunismo, sejam alcançadas e combatidas por nossas leis”, disse ele. Ou seja, o que o capitão cloroquina quer é moderação nas críticas aos fascistas tupiniquins e a punição para quem derrotou e esmagou o nazismo.
Portador de uma ignorância e de um reacionarismo sem tamanhos, Bolsonaro certamente não tem a menor noção de que foram exatamente os comunistas, que ele calunia e acusa de serem antissemitas, quem libertou, no dia 27 de janeiro de 1945, os judeus do maior campo de concentração nazista, o campo de Auschwitz, onde centenas de milhares deles foram mortos. Calcula-se que, no auge do nazismo, eram assassinadas 6 mil pessoas por dia neste campo. Neste dia, oito mil prisioneiros foram libertados, a maioria em situação deplorável devido ao martírio que enfrentaram.
Auschwitz foi criado em 1940, a cerca de 60 quilômetros da cidade polonesa de Cracóvia. Concebido inicialmente como centro para prisioneiros políticos, o complexo foi ampliado em 1941. Um ano mais tarde, a SS (Schutzstaffel) instituiu as câmaras de gás com o altamente tóxico Zyklon B. Usada em princípio para combater ratos e desinfetar navios, quando em contato com o ar a substância desenvolve gases que matam em questão de minutos. Os corpos eram incinerados em enormes crematórios.
Para apagar os vestígios do Holocausto antes da chegada do Exército Vermelho, a SS implodiu as câmaras de gás em 1944 e evacuou a maioria dos prisioneiros.
BOLSONARO ACOBERTA CRIMES NAZISTAS
Aliás, não só Auschwitz foi libertado pelas mãos dos comunistas, mas todos os campos de extermínio localizados nos países do leste da Europa e da Alemanha, onde milhões de judeus, democratas e comunistas foram assassinados. Acusar irresponsavelmente os comunistas, como faz Bolsonaro, por estes fatos, é acobertar de forma cínica os crimes hediondos cometidos pelos nazistas. É tentar subverter a história para livrar Hitler de sua culpa pelo genocídio dos povos.
A Conib (Confederação Israelita do Brasil) não concorda com as preocupações de Bolsonaro de proteger os nazistas tupiniquins e de atacar os comunistas. A entidade condenou o gesto repugnante de saudação nazista feito pelo apresentador Adrilles Jorge no programa da Jovem Pan. “O nazismo propaga uma visão de mundo racista, antissemita e totalitária, que causou a morte de 6 milhões de judeus e minorias como homossexuais, negros, ciganos e outras, e detonou uma guerra mundial catastrófica para a humanidade”, afirmou a Conib, em nota.
O que fazem essas vozes vindas de porões e de esgotos da sociedade, e estimuladas por gente como Bolsonaro, Olavo de Carvalho e outros asnos, é tentar, sem sucesso, anistiar os crimes de Hitler. Eles querem esconder das novas gerações que milhões de pessoas foram assassinadas barbaramente, da forma mais cruel e covarde possível, em nome da suposta supremacia ariana. Como Bolsonaro é um capacho, ele é defensor da superioridade, mas não de uma “raça ariana” brasileira, mas sim a superioridade dos supremacistas brancos americanos, os fascistas seguidores de seu guru, Donald Trump.
SÉRGIO CRUZ