Em solenidade na quinta-feira (03), no Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro afirmou que considera um absurdo condenações de policiais por “excesso em serviço”. Ou seja, para ele, não há a menor diferença entre a ação correta e firme de um policial que age dentro da lei e o excesso cometido por psicopatas ou desequilibrados, que se utilizam da farda da polícia para cometer crimes.
Até os atiradores que mataram Ágatha Félix – menina de oito anos, que perdeu a vida recentemente no Rio, ao ser atingida nas costas, dentro de uma Kombi, quando ia para casa – sabiam que tinham cometido um “excesso” imperdoável e tentaram alterar as provas, tanto que invadiram o hospital para onde a menina foi levada, com o objetivo de “recuperar” a bala que a matou.
Festejando as mortes, que não param de crescer, segundo as estatísticas (só entre 2017 e 2018, alta de 20%), Bolsonaro defendeu que elas têm que aumentar ainda mais.
“Muitas vezes a gente vê que um policial militar, que é mais conhecido, né, ser alçado para uma função e vem a imprensa dizer que ele tem 20 autos de resistência. Tinha que ter 50! É sinal que ele trabalha, que ele faz sua parte e que ele não morreu. Ou queria que nós providenciássemos empregos para a viúva?”, disse Bolsonaro.
Deve ser por isso que sua famíglia empregou seu velho conhecido, Fabrício Queiroz, um ex-policial que virou miliciano, e que tem 11 autos de resistência nas costas, antes de ir “fazer rolo” e levar outros milicianos para o gabinete de seu filho, Flávio.
Nem os artigos do Código do Processo Penal (CPP), que preveem as situações de confronto, e que dão base à ação policial, satisfazem a sanha fascistóide do bolsonarismo. Por isso, eles se batem pela ampliação dos critérios de excludente de ilicitude, medida incluída no pacote anticrime de Moro, e que ficou conhecida como “licença para matar”.
Não se satisfazem, por exemplo, com o dispositivo no artigo 292 do CPP, que dispõe que “se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas”.
O ex-capitão, afastado do Exército depois de processo disciplinar, disse que conversou com policiais criminosos, que estão presos, e garantiu que eles são inocentes. “E conversando com eles [policiais e bombeiros militares], não mais do que o sentimento, a certeza que lá dentro tinha muito inocente”, firmou.
Seu filho, Flávio, também jurava de pés juntos que Adriano Nóbrega era inocente quando o homenageou com Medalha Tiradentes, da Assembleia Legislativa do Rio. Adriano é um miliciano foragido, acusado de comandar o Escritório do Crime, central de assassinatos das milícias do Rio, que participou do assassinato de Marielle Franco e de seu motorista Anderson Freitas. Ele estava na cadeia quando recebeu a medalha de Flávio.
Bolsonaro prometeu soltar todos os policiais criminosos.”Indulto tem que estar enquadrado no decreto, não é quem eu quero. Estando enquadrado no decreto, os policiais civis e militares, que sempre foram esquecidos, dessa vez não serão esquecidos. Nós oficializaremos todos os comandantes de polícia militar, do Brasil todo, para que eles mandem a relação com a justificativa. Não tem nada arbitrário”, prometeu o presidente.
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