Apesar de insosso na maior parte do tempo, o debate da Rede TV!/IstoÉ, na sexta-feira (17), teve um momento de lucidez quando a candidata à Presidência da República, Marina Silva (Rede), deu um puxão de orelha no candidato Jair Bolsonaro (PSL).
Bolsonaro escolheu Marina para perguntar se ela concordava com o porte geral de armas, segundo ele, para “cidadãos de bem”. Marina respondeu “não”. Mas aproveitou o seu tempo de resposta para retomar um assunto, a desigualdade salarial entre homens e mulheres que Bolsonaro defendeu antes que devia ser menor que o dos homens.
“Antes eu queria te dizer uma coisa, Bolsonaro. […] Só uma pessoa que não sabe o que significa uma mulher ganhar um salário menor do que um homem e ter as mesmas capacidades, a mesma competência e ser a primeira a ser demitida. A última a ser promovida. […] Tem de se preocupar sim, porque, quando se é presidente da República, tem de se fazer cumprir o artigo quinto da Constituição Federal que diz que nenhuma mulher deve ser descriminada. Não fazer vista grossa dizendo que não precisa se preocupar. Precisa se preocupar sim. Um presidente da República está lá para combater a injustiça”, afirmou Marina.
Na tréplica, Marina ainda enfatizou mais sua discordância com o candidato do PSL. Ela disse que Bolsonaro pretende resolver os problemas do Brasil, como a desigualdade salarial entre gêneros e a segurança pública, “no grito e na violência”. “Você acha que pode resolver tudo no grito, na violência”, rebateu. “Nós somos mães, nós educamos os nossos filhos. A coisa que uma mãe mais quer é ver um filho sendo educado para ser um cidadão de bem. E você fica ensinando para os nossos jovens que têm de resolver as coisas na base do grito, Bolsonaro. Você é um deputado, você é pai de família. Você um dia desses pegou a mãozinha de uma criança e ensinou como é que se faz para atirar”, afirmou.
Ela ainda citou um trecho da Bíblia (Provérbios 22:6) que diz “ensina a criança no caminho em que deve andar e, mesmo quando for idoso, não se desviará dele”. Ela complementou, antes que acabasse o seu tempo de tréplica: “Numa democracia, o Estado é laico”.
Restou a Bolsonaro balbuciar fora do microfone, constrangido: “leia o livro de Paulo”.
Da plateia foi possível ver e ouvir aplausos para Marina até de apoiadores de Ciro Gomes. No intervalo seguinte à fala, Ciro foi até Marina cumprimentá-la pela resposta a Bolsonaro. Porém Marina, nos blocos seguintes, defendeu a reforma da Previdência e um regime de capitalização, assim como Ciro também.
O assunto já havia sido debatido antes entre Bolsonaro e Henrique Meirelles (MDB.O candidato do PSL disse querer “o bem das mulheres”, mas ser necessário somente cumprir a legislação. Ele também havia pedido que não fosse usada “essa demagogia” para dividir a população.
Oito candidatos participaram do debate: Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Henrique Meirelles (MDB).
Em resposta a Geraldo Alckmin que disse que iria dar prioridade ao agronegócio, que segundo ele dinamiza a economia, Ciro Gomes respondeu que iria impulsionar a indústria para gerar empregos. Há um “genocídio de empresas” no Brasil. Segundo ele, nos últimos três anos, do desmantelo de Dilma para cá, 13 mil indústrias fecharam as portas, 4 mil delas em São Paulo.
Alckmin defendeu a política de recessão que dura há anos no país, “uma política fiscal austera, cortar gastos e rever incentivos”. Ciro disse que a política econômica do PT e do PSDB é “rigorosamente a mesma”: juro alto e câmbio desfavorável ao país.
O Cabo Daciolo disse que vai valorizar o policial militar e que haverá um piso nacional para a segurança pública. Disse também que não vai permitir o sucateamento das Forças Armadas. Afirmou que a intervenção federal no Rio “é uma mentira” e que se fosse verdade tinha que decretar intervenção na saúde e na educação e teria que prender outro bandido, “que é o senhor Pezão”, [governador do Rio de Janeiro], “não é só o Cabral, não”.
Guilherme Boulos gostou da piada dele mesmo e voltou a repetir o que dissera no debate da Band: “Nesse debate, novamente, vemos 50 tons de Temer”.
O candidato Álvaro Dias criticou o registro da candidatura de Lula e disse que ela é uma “afronta” e uma “encenação”. “O político inelegível [Lula] não é um preso político. Ele é um político preso. Essa encenação de candidatura é uma afronta ao país, desrespeito à Justiça, violência ao Estado de Direito e à legalidade democrática. Não há como admitir esta vergonha nacional de uma encenação de uma candidatura que não pode existir”, disse.
O PT voltou a ficar sem representante no debate. A Justiça rejeitou o pedido da defesa de Lula para permitir sua presença. A Rede TV! ainda queria deixar uma cadeira vazia no local, mas todos os candidatos rejeitaram a proposta, com exceção de Guilherme Boulos.