O general Carlos Alberto dos Santos Cruz foi demitido por Bolsonaro, na quinta-feira (13/06), da Secretaria de Governo da Presidência da República.
Santos Cruz é o terceiro ministro de Bolsonaro a cair. Antes foram demitidos Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e Ricardo Vélez Rodríguez (Educação).
Santos Cruz se tornou alvo de críticas dos filhos de Bolsonaro e do guru da Família, o ex-astrólogo Olavo de Carvalho, e seus discípulos.
Em abril, quando Bolsonaro censurou uma propaganda do Banco do Brasil e o titular da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), um certo Fábio Wajngarten, indicado por Carlos Bolsonaro, anunciou que haveria censura prévia nas propagandas das estatais, o general Santos Cruz, a quem a Secom era subordinada, anulou a ordem, pois era ilegal, de acordo com a Lei das Estatais.
A partir daí, os filhos de Bolsonaro – o que quer dizer, o próprio, pois inexiste dúvida sobre quem manda, se os filhos ou o pai – tentaram achincalhar com o general.
Não era apenas, como observamos, uma disputa “ideológica”:
“… por trás desse conflito ‘ideológico’, está uma guerra dos bolsonaro-olavistas pelo controle da publicidade das estatais – e não somente das estatais. Ao todo, incluindo a administração direta e as estatais, isso significa uma verba, no mínimo, de R$ 1 bilhão e meio, provavelmente, mais (somente a média anual dos gastos das estatais federais com publicidade, de 2000 a 2016, foi R$ 1.490.649.818,13, corrigidos a preços de 2016)” – v. HP 09/05/2019, O general Villas Bôas, Bolsonaro e o Rasputin confederado .
Em resposta a um dos ataques que sofreu de Carvalho, disse Santos Cruz: “Eu nunca me interessei pelas ideias desse sr. Olavo de Carvalho. Por suas últimas colocações na mídia, com linguajar chulo, com palavrões, inconsequente, o desequilíbrio fica evidente”.
No início de maio, o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, depois de um dos ataques de Carvalho a Santos Cruz, respondeu com uma nota publicada em “redes sociais”:
“Mais uma vez o sr. Olavo de Carvalho, a partir de seu vazio existencial, derrama seus ataques aos militares e às FFAA, demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia. Verdadeiro trótski de direita, não compreende que, substituindo uma ideologia pela outra, não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros. Por outro lado, age no sentido de acentuar as divergências nacionais no momento em que a sociedade brasileira necessita recuperar a coesão e estruturar um projeto para o país. A escolha dos militares como alvo é compreensível por sua impotência diante da solidez dessas instituições e a incapacidade de compreender os valores e os princípios que as sustentam” (v. HP 09/05/2019, O general Villas Bôas, Bolsonaro e o Rasputin confederado).
Olavo de Carvalho chamou Santos Cruz de “fofoqueiro de merda” por causa da sua declaração, em uma entrevista, sobre o uso das “redes sociais” na Internet, que criou alguma celeuma (“Tem de ser disciplinado, até a legislação tem de ser aprimorada, e as pessoas de bom senso têm de atuar mais para chamar as pessoas à consciência de que a gente precisa dialogar mais, e não brigar“).
Também em maio, Santos Cruz queixou-se de que foi vítima de uma mensagem falsa, atribuída a ele: “O desqualificado que fabricou o diálogo falso, aonde eu seria um dos interlocutores, falando do presidente, famílias, Fábio e do vice-presidente, cometeu um crime absurdamente mal feito, pois o print da tela revela que o ‘diálogo’ foi no dia 6 de maio, dentro do horário que eu estava voando de Brasília para São Gabriel da Cachoeira-AM”, afirmou na época (v. HP 15/05/2019, Ministro militar de Bolsonaro se queixa que foi vítima de mensagem falsa).
Segundo um membro do governo, que não quis se identificar, a demissão de Santos Cruz é um “freio de arrumação”.
Na quinta-feira, Santos Cruz foi avisado de sua demissão às 12h20min, quando compareceu, no Palácio do Planalto, a uma reunião com Bolsonaro e com Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
O substituto de Santos Cruz será o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, atual comandante militar do Sudeste.