Jair Bolsonaro demitiu sumariamente Vicente Santini, braço direito do ministro Onyx Lorenzoni (DEM), do cargo de secretário executivo da Casa Civil. O imbróglio ocorreu porque o homem de confiança de Onyx, que estava em Davos, usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para se juntar à comitiva presidencial que foi à Índia fazer lobby para a Taurus e outros fabricantes de armas.
“Questão do avião da Força Aérea. Inadmissível o que aconteceu. Já está destituído da função de [secretário] executivo do Onyx. Decidido por mim. Tá, vou conversar com o Onyx, ver quais outras medidas podem ser tomadas contra ele. É inadmissível o que aconteceu. Ponto final”, disse Jair Messias, na terça-feira, em Brasília.
Este foi o pretexto usado por Bolsonaro para afastar o número dois da Casa Civil, que estava como ministro interino da Casa Civil durante as férias de Lorenzoni. Como o próprio presidente informou aos jornalistas, ele nem avisou ao chefe da Casa Civil de que estava demitindo seu principal assessor. Disse que vai conversar com Onyx e ver que outras medidas poderão ser tomadas contra o funcionário.
Lorenzoni já vinha sendo fritado e colocado de lado há algum tempo pela tropa bolsonarista e este episódio só reforça que o ex-parlamentar do DEM está cada vez mais desprestigiado junto ao núcleo principal do governo. O assessor foi demitido por usar o avião da FAB e o titular nem foi avisado.
No governo, só a família Bolsonaro pode ter esse tipo de mordomia. Quando houve o casamento de Eduardo Bolsonaro, um helicóptero da FAB foi usado para levar os parentes e amigos da família para a festa. Um primo, deslumbrado, até fez uma live e defendeu o direito da família usar aeronaves da FAB.
Veja vídeo da viagem da família de Bolsonaro no helicóptero da FAB
A pasta de Lorenzoni perdeu importância depois que ele ficou sem a articulação política no Congresso Nacional. O presidente esvaziou a Casa Civil ao nomear o general Luiz Eduardo Ramos para a Secretaria de Governo e transferir para ele as funções de articulação parlamentar.
Nesta época especulou-se que Onyx estava de saída do governo. Ele não saiu, mas, cada vez menos é ouvido no Planalto.
Por isso, a demissão agora de seu principal auxiliar, Vicente Santini, não está sendo interpretada apenas como um mais um arroubo demagógico de Bolsonaro contra o uso de um avião da FAB para a viagem oficial.
Tudo indica que não será por uma suposta imoralidade cometida pelo homem de confiança de Onyx que ele vai ter a cabeça cortada pela milícia bolsonarista. Como diz o ditado popular: “tem caroço nesse angu”.
Até porque não foi outra coisa não ser imoralidade o que se viu na viagem presidencial à Índia. O lobby de Bolsonaro a favor de fabricantes de armas que financiaram sua campanha foi um verdadeiro escândalo.
Retribuindo o apoio financeiro que recebeu na campanha, Bolsonaro usou a condição de Presidente da República para advogar por interesses privados de empresários que colocaram muito dinheiro em sua campanha. Não há imoralidade maior do que essa.
A “comitiva oficial” que Bolsonaro organizou para a viagem à Índia mais parecia um “trem da alegria” composto de felizes fabricantes de armas que foram se dar bem no país sul-asiático.
Na noite de segunda-feira (27), a Casa Civil divulgou uma nota tentando explicar a viagem do representante da pasta à Índia “Em relação à utilização de aeronave da FAB pelo secretário-executivo (e ministro interino) José Vicente Santini: A solicitação seguiu os critérios definidos na legislação vigente”, disse a nota. A medida não surtiu efeito. A demissão se consumou.