O ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, afirmou que a instituição utiliza “as publicações científicas, não a balela que vocês usam, coisa de Twitter”.
Ricardo Galvão respondeu ao ministro do Meio, Ambiente Ricardo Salles, também presente no debate promovido pelo programa “Painel” do canal GloboNews. Galvão explicou que os dados atualizados são disponíveis para o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) desde 2003.
Depois do Inpe disponibilizar os dados quanto ao avanço do desmatamento na Amazônia, Bolsonaro passou a atacar a instituição. Disse que os números eram falsos e que Ricardo Galvão estava a serviço de ONGs internacionais por tê-los divulgados.
O então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, que foi exonerado do cargo, afirmou que a situação havia ficado “insustentável”.
De acordo com o ex-diretor, as críticas de Bolsonaro são infundadas “porque o DETER [Detecção de Desmatamento em Tempo Real] foi desenvolvido como serviço para o Ibama. Os dados estão lá [no sistema] diariamente. Se o presidente Jair Bolsonaro reclamou que nós não avisamos antes, essa responsabilidade é do Ministério do Meio Ambiente”.
Em sua primeira intervenção no programa, o ministro Ricardo Salles disse que os dados não eram falsos, apenas que foram manipulados pela mídia de forma “sensacionalista”. Poucos minutos depois se contradisse. Afirmou que “os dados foram mentirosos, os números estavam errados. Nós mostramos isso semana passada”.
Para o ministro Ricardo Salles, “a ideologia está disfarçada dentro da ciência. Há um grau de aparelhamento das instituições. A sua postura com o presidente mostrou isso. A forma como o senhor se dirigiu ao presidente da República”.
O ex-diretor do Inpe retrucou. “Desrespeitoso foi o presidente da República com a ciência brasileira. Chamou todos os dados do Inpe de mentirosos. Ele acusou todos os cientistas do Inpe de terem cometido crime de falsidade ideológica”.
“O presidente não tem autoridade moral pra falar que os dados do INPE são mentirosos”, reiterou.
“Ele me acusa de estar a serviço de uma ONG internacional. Eu não sou uma criança, eu tenho uma respeitabilidade internacional enorme”, continuou.
“Não acha isso errado, ministro?”, questionou.
Ricardo Salles respondeu dizendo que Jair Bolsonaro é “uma autoridade política que tem liberdades”. Galvão afirmou que Bolsonaro “não é autoridade moral para falar isso”.
“Nós [o Inpe] utilizamos as publicações científicas, não a balela que vocês usam, coisa de Twitter”, continuou Galvão.
“Quando se trata de questões científicas, não existe autoridade acima da soberania da ciência”.
Durante o debate, o ministro admitiu ter intenções de privatizar parte do sensoriamento. Apontou para a contratação de empresas estrangeiras para isso. “É tanto ‘ufanismo’ com coisa nacionalista, que ao invés de ter o melhor, a gente tem o que tem só por que é brasileiro”, reclamou.
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