Os delegados da Polícia Federal emitiram nota protestando contra o anúncio de Bolsonaro sobre a troca do superintendente da PF no Rio, delegado Ricardo Andrade Saadi.
Bolsonaro falou sobre o assunto ao comentar mudanças na Receita Federal. Segundo ele, todos os ministérios podem passar por alterações. “Todos os ministérios são passíveis de mudança. Vou mudar, por exemplo, o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Motivos? Gestão e produtividade”, afirmou Bolsonaro, atropelando a PF.
A mudança já tinha sido prevista pela direção do PF, mas os delegados federais criticam a forma como Bolsonaro anunciou a troca. “O Sindicato dos Delegados de Polícia Federal no Estado de São Paulo (SINDPF-SP) manifesta seu repúdio às declarações dadas pelo presidente da República acerca da exoneração do superintendente regional da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Evocando um “sentimento” e alegando motivo de “produtividade”, Bolsonaro anunciou sua decisão durante entrevista a jornalistas no Palácio da Alvorada, em Brasília”, diz a nota. São Paulo foi o Estado em que Saadi trabalhou por vários anos, antes de assumir a direção do Departamento de Recuperação de Ativos no Ministério da Justiça.
“A escolha de superintendentes compete ao Diretor-Geral da Polícia Federal e a fala do presidente, mais que desrespeitosa, atenta contra a autonomia da Polícia Federal”, diz a nota dos delegados federais.
“A PF é uma instituição de Estado e deve ter autonomia para se manter independente e livre de quaisquer ingerências políticas. Por isso é tão urgente que se aprove a PEC 412, que tramita há 10 anos no Congresso Nacional para garantir a autonomia da instituição”, conclui.
Saadi será substituído por Carlos Henrique Oliveira, nome escolhido pelo diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Carlos Henrique é homem de confiança de Valeixo e já tinha sido promovido neste ano, quando virou superintendente de Pernambuco.
A Polícia Federal negou, em nota, que a troca se deva a problemas de “produtividade”.
“A Polícia Federal informa que a troca da autoridade máxima do órgão no estado já estava sendo planejada há alguns meses e o motivo da providência é o desejo manifestado, pelo próprio policial, de vir trabalhar em Brasília, não guardando qualquer relação com o desempenho do atual ocupante do cargo”, disse a PF.
A instituição afirmou no comunicado que “a substituição de superintendentes regionais é normal em um cenário de novo governo”. “De janeiro para cá, a PF já promoveu a troca de 11 superintendentes”, disse.
Saadi é reconhecido como um especialista em investigações sobre crimes financeiros e recuperação de ativos da corrupção localizados no exterior e dirige a PF no Rio desde abril de 2018.
É no Rio de Janeiro que está em investigação do caso Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) quando este era deputado estadual. Queiroz foi identificado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por movimentações financeiras suspeitas de R$ 7 milhões entre 2014 e 2017.
O Coaf também detectou movimentações suspeitas na conta de Flávio. Só na conta do filho de Bolsonaro foram feitos 48 depósitos em dinheiro, no total de R$ 96 mil. Todos os depósitos eram iguais: R$ 2 mil.
O caso está sendo investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, não está com a PF. Mas os desdobramentos das investigações podem envolver os mesmos personagens.
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