“Ele disse, no telefonema, que esse grampo fora realizado por agentes de outro país”. Em depoimento à CPI do Golpe, no Congresso Nacional, Walter Delgatti Netto confirma que o ex-presidente da República propôs-lhe assumir cometimento de crime para desmoralizar o ministro da Suprema Corte
Por mediação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), Walter Delgatti Netto, o chamado “hacker de Araraquara”, conversou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), então no exercício do cargo, para que assumisse grampo que teria sido feito contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes.
“[…] eu falei com o presidente da República e, segundo ele, eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes”, disse Delgatti em depoimento à CPI do Golpe, nesta quinta-feira (17).
“Segundo ele [Bolsonaro], esse grampo foi realizado já, teria conversas comprometedoras do ministro e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo. Lembrando que, à época, eu era o hacker da Lava Jato, não é? Então seria difícil a esquerda, a esquerda [questionar].”
INCITAÇÃO AO CRIME
No depoimento, Delgatti foi claro ao confirmar o pedido feito pelo então presidente da República. E, segundo ele, os questionamentos por parte da esquerda estariam comprometidos, pois Delgatti foi festejado por ter sido autor do hackeamento das conversar do então juiz Sérgio Moro e membros da força-tarefa da Operação Lava Jato.
“Sim, questionar essa autoria, porque lá atrás, eu havia assumido, a Vaza Jato realmente fui eu, e eles apoiaram. Então a ideia seria o quê? O garoto da esquerda assumir esse grampo”, para desmoralizar o ministro Alexandre de Moraes.
Ao ser perguntado sobre esse fato pela relatora da CPI do Golpe, senadora Eliziane Gama (PSD-AM), o hacker confirma: “Você está me dizendo que o ex-presidente da República, naquele momento, no telefone, que a Carla Zambelli lhe passa em mãos, lhe propõe você assumir um grampo do ministro do Supremo Tribunal Federal?”. “Exatamente”, disse Delgatti.
INDULTO COMO RECOMPENSA PELO CRIME
Na conversa pelo celular, intermediado por Zambelli, segundo Delgatti, o presidente da República prometera-lhe indulto caso aceitasse assumir a autoria do crime de grampo contra Moraes.
“Ele disse, no telefonema, que esse grampo fora realizado por agentes de outro país. Ele me disse. Não sei se é verdade, se realmente aconteceu o grampo, porque eu não tive acesso a ele.”
“E disse que em troca, eu teria o prometido induto. E ele ainda disse assim, olha: se caso alguém te prender, eu mando prender o juiz, ele usou essa frase”, completou, Questionado pela relatora, ela confirmou o que havia dito Bolsonaro.
“Ele disse assim: ‘fique tranquilo. Se caso algum juiz te prender, eu mando prender o juiz’. E deu risada”, asseverou Delgatti.
“Ele mandaria prender o juiz que, por ventura, o prendesse?”, perguntou a relatora. E Delgatti confirmou: “Sim, porque esse grampo seria suficiente para alguma ação contra o ministro e que as eleições seriam refeitas, não é?”.
M. V.