Jair Bolsonaro disse, em entrevista coletiva na quinta-feira (01), que vai prosseguir na política de esvaziamento da Petrobrás porque, segundo ele, ela é uma empresa que “não tem mais como investir”.
A política atual – que começou com Dilma e prosseguiu com Temer – tem, precisamente, o objetivo de diminuir a capacidade de investimento da Petrobrás. Aliás, por isso é chamada, por seus corifeus, de “desinvestimento” – não apenas porque se trata de liquidar investimentos que já foram feitos, mas diminuir a própria capacidade de investir da nossa empresa mais estratégica.
É essa política que Bolsonaro disse que vai continuar. Nas suas palavras:
“A Petrobrás não tem mais capacidade de investir, então tem que buscar fazer parcerias e vender algumas áreas. Os leilões vão continuar.”
Mesmo com todo o estrago acontecido sob Dilma e Temer, os investimentos previstos da Petrobrás (Plano de Negócios 2018-2022) montam a US$ 74,5 bilhões.
A Petrobrás, além disso, tem reservas provadas de petróleo e gás de 9,8 bilhões de barris (boe: barris de óleo equivalente), com tendência a aumentar, pois a atual diretoria da Petrobrás, usando o critério da SEC (a comissão que regula as Bolsas dos EUA), somente considera como provadas aquelas reservas que já foram declaradas “comerciais” (cf. Petrobras, Relatório Anual 2017, p. 46; v. também, ANP, Anuário estatístico brasileiro do petróleo, gás natural e biocombustíveis 2018, p. 71 e segs).
Por que, então, Bolsonaro acha que a Petrobrás “não tem mais capacidade de investir”?
Porque seu objetivo é atacar a empresa – ou seja, privatizá-la aos pedaços para entregar as nossas reservas petrolíferas às predatórias multinacionais petroleiras.
Daí, essa afirmação de que “os leilões vão continuar” – outra continuação da política de Dilma (que leiloou, em 2013, o maior campo de petróleo do mundo, o de Libra, descoberto pela Petrobrás) e Temer.
O que significa, no momento, beneficiar a Exxon Mobil (a velha Standard Oil dos Rockefeller) às custas da Petrobrás.
Pois, desde que o governo Dilma, em 24 de fevereiro de 2016, apoiou a aprovação do projeto Serra/Jucá, que tirou a Petrobrás da operação exclusiva do pré-sal, a Exxon Mobil, que era até então insignificante na área de produção de petróleo no Brasil, passou a ser a principal multinacional petroleira no pré-sal.
Hoje, a Exxon Mobil, depois de adquirir 22 blocos petrolíferos, superou a Shell e a Total – as multinacionais que tomaram parte do campo de Libra no leilão de 2013 – no Brasil, e, também, a Equinor (a antiga Statoil, da Noruega).
Essas três empresas estavam bem acima – em número de blocos – da Exxon Mobil, antes da aprovação do projeto que tirou da Petrobrás a operação exclusiva no pré-sal.
É óbvio que a aprovação desse projeto não favoreceu a capacidade da Petrobrás de investir – apesar da alegação de seus defensores ser, exatamente, a oposta.
Apesar disso – e de ter um alucinado entreguista, como Pedro Parente, na presidência da empresa – o faturamento da Petrobrás, em 2017, foi R$ 283 bilhões e 695 milhões (e, frisamos outra vez, apesar disso refletir o resultado da sabotagem sobre a empresa, que implicou na redução do valor de suas vendas, em relação aos anos anteriores).
O lucro bruto foi R$ 91 bilhões e 595 milhões e o lucro operacional (lucro direto com a atividade petrolífera) foi R$ 35 bilhões e 624 milhões, superando o lucro operacional de 2013 (R$ 34 bilhões e 364 milhões).
Quanto ao lucro líquido – que foi negativo -, o resultado do balanço deve-se a duas canalhices (desculpem, leitores, mas não encontramos outra palavra): ao chamado “impairment”, ou seja, à reavaliação de ativos para baixo; e aos acordos prejudiciais à empresa, para pagar quantias aos acionistas dos EUA, sob o pretexto de que esses acionistas foram prejudicados com o esquema de corrupção implantado nos governos do PT contra a Petrobrás.
A atual diretoria da Petrobrás aceitou pagar US$ 2,95 bilhões aos acionistas nos EUA e US$ 853,2 milhões ao governo norte-americano (ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos e à SEC – a comissão que fiscaliza as Bolsas de Valores nos EUA).
Por essas duas razões, o lucro líquido da empresa foi negativo – apesar do lucro operacional recorde.
SÉCULO
Porém, segundo Bolsonaro, a Petrobrás não tem mais a importância que tinha: segundo ele, os combustíveis fósseis “não têm mais importância. O tempo de vida da energia fóssil pode estar com os dias contados diante de novas tecnologias”.
Realmente, nos próximos 100 anos, é provável que os combustíveis fósseis sejam substituídos.
Aliás, por falar nisso, quem acha que o petróleo somente é importante como matéria-prima para combustíveis, mostra uma ignorância verdadeiramente cavalar.
Bolsonaro deve ignorar, pelo jeito, qual a matéria-prima de quase qualquer plástico.
Porém, deve ser porque o petróleo está superado como fonte de energia que a Exxon Mobil, a Shell e outras petroleiras querem colocar os seus canudos aqui, para extrair óleo do pré-sal.
Ou, o que é quase a mesma coisa, deve ser porque o petróleo está em vias de ser superado, que Bolsonaro quer entregá-lo, exatamente, às petroleiras estrangeiras.
Qualquer petroleira que tenha – seja – um terço das reservas de petróleo da Petrobrás, tem capacidade de fazer vultosos investimentos. Isso porque possui petróleo, que é a maior garantia do mundo.
Além disso, como disse o general Júlio Caetano Horta Barbosa, primeiro presidente do Conselho Nacional do Petróleo, em conferência no Clube Militar, em 1947, “petróleo é bem de uso coletivo, criador de riqueza. Pesquisa, lavra e refinação, constituem as partes de um todo, cuja posse assegura poder econômico e poder político, uma atividade que se confunde com a própria Soberania Nacional”.
Porém, Bolsonaro rejeita a tradição nacionalista das nossas Forças Armadas.
EMBRAER
Na mesma entrevista, Bolsonaro apoiou a compra da Embraer pela Boeing: “eu vou avalizar o negócio”.
Por esse “negócio”, a Boeing ficará com 80% da divisão de aeronaves comerciais da Embraer.
O futuro ministro da Defesa, Augusto Heleno, declarou à imprensa, após a eleição de Bolsonaro, que também é a favor do açambarcamento da Embraer pela multinacional dos EUA.