Como ele teve seu golpe frustrado, alardeia que a está sendo censurado pelo TSE e que isso “não ocorria naquela época”
Sem espaço para continuar colocando a urna eletrônica sob suspeição, Jair Bolsonaro resolveu dizer que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está impedindo que ele critique as eleições democráticas no Brasil. Inventou que a proibição de suas fake news é “censura” e que no período da ditadura não ocorria isso. “Esse tipo de censura não existia no período militar”, disse ele. Nada mais falso e longe da realidade.
PLANO ERA COPIAR GOLPISMO DE TRUMP
Realmente, o plano de Bolsonaro de imitar o seu guru, Donald Trump, que invadiu o Congresso por não aceitar o resultado das eleições americanas, não vingou por aqui. Não foi só o TSE que acabou com a farra golpista. A Câmara dos Deputados enterrou o projeto que pretendia criar um impasse com a exigência de que a eleição só se realizaria se fosse ressuscitado o voto impresso.
Esse era o caminho para viabilizar o golpe planejado. As decisões que barraram o plano foram legítimas, legais e democráticas.
Bem diferente do que ocorria na ditadura. Não têm nada a ver, por exemplo, com o assassinato do jornalista Wladmir Herzog, no período em que Bolsonaro diz que “reinava a liberdade”. Não só havia censura, como os “ídolos” de Bolsonaro obrigavam os jornais a noticiarem a morte de pessoas que ainda estavam sendo torturadas só para mostrar para eles. “Você já está morto, viu?”, diziam. Esse era o “mundo perfeito” do fascista que ocupa hoje o Palácio do Planalto.
“É um absurdo o que acontece por aí nessas questões”, disse o golpista frustrado. “Você pode criticar tudo, o Papa, quem você bem entender. Agora, não pode criticar um sistema eleitoral?”, afirmou Bolsonaro à Rede Correio Sat, da Paraíba. Ele também citou a cassação de Fernando Francischini (PSL-PR) do cargo de deputado estadual, motivada pela divulgação de vídeos falsos com acusações mentirosas de fraude nas urnas.
BOLSONARO QUERIA MATAR 30 MIL OPOSICIONISTAS
Falando novamente das maravilhas da ditadura, ele disse que “o que não era permitido, muitas vezes, era uma matéria ser publicada, daí o pessoal botava uma receita de bolo ou espaço vazio”.
Mas Bolsonaro também tinha críticas ao regime militar. Achou que a ditadura não fez tudo o que tinha que fazer. Ele criticou, por exemplo, os militares “por não terem matado umas 30 mil pessoas naquele período”, como pode ser visto neste vídeo abaixo, de 1999.
Justificou a mordaça à imprensa como necessária. Disse que os textos eram vetados pelo governo militar por serem usados para “dar recado”. “É porque eles davam recados, naquela época, para os seus comparsas aqui no Brasil através daquele tipo de matéria. Então por isso que houve a censura naquele momento”, disse Bolsonaro. “Mas nem se compara com o que está acontecendo no momento aqui no Brasil”, acrescentou.
A ditadura militar foi marcada por perseguições à imprensa. A censura fazia parte da máquina de repressão para calar a voz da oposição. Toda manifestação que desagradasse o regime era proibida, tanto nos jornais quanto nas artes ou mesmo em salas de aula.
Enquanto tudo isso ocorria, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, a quem Bolsonaro bajula e idolatra – um dos principais símbolos da repressão e da tortura do período – é saudado por Bolsonaro e por seus filhos como herói. Sem conseguir dar o golpe que pretendia, Bolsonaro teve que se contentar em alterar algumas questões do Enem. Ele queria que a prova tratasse o golpe de 1964 como uma “revolução”. Parece que conseguiu.