Bolsonaro voltou a atacar a Polícia Federal, ameaçando demitir o diretor-geral, Maurício Valeixo, na quinta-feira (22).
“Se eu trocar (o diretor-geral da PF) hoje, qual o problema? Está na lei que eu que indico e não o Sérgio Moro. E ponto final”, declarou Bolsonaro em conversa com jornalistas, pela manhã.
“Ele (Valeixo) é subordinado a mim, não ao ministro. Deixo bem claro isso aí. Eu é que indico. Está bem claro na lei”, declarou.
“A interferência de Bolsonaro em órgãos de fiscalização não serve ao Brasil, mas apenas aos seus interesses pessoais. Se entendesse as atribuições de um presidente, ele atacaria as desigualdades que castigam o nosso país, em vez de agir para agravá-las”, comentou o líder da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ).
O ex-deputado e presidente do partido Cidadania, Roberto Freire, também escreveu sobre o assunto, indagando: “Será que Moro não tem nenhum amigo que o alerte para a desmoralização vil e ingrata que há algum tempo vem sofrendo de iniciativa direta do Presidente da República?”.
A PF rejeita a interferência de Bolsonaro na instituição. Na semana passada, ele anunciou a substituição do superintendente do Rio, Ricardo Saadi, atropelando a PF, e ao mesmo tempo rejeitou o nome da direção da instituição para substituí-lo. O nome da PF era o superintendente em Pernambuco, Carlos Henrique Oliveira.
“Quem manda sou eu”, disse ele, apontando que o nome preferido dele para o cargo era o de Alexandre Saraiva, chefe da PF no Amazonas, que é amigo da família Bolsonaro.
Indignados com a intromissão, superintendentes da PF ameaçaram renunciar aos seus cargos.
Indagado pelos jornalistas se ele pretende de fato demitir o diretor-geral Maurício Valeixo, Bolsonaro respondeu que, se o fizer, será “na hora certa”. “Hoje eu não sei. Tudo pode acontecer na política”, respondeu.
Ele reclamou da PF por reagir às pressões.
“Agora há uma onda terrível sobre superintendência. Onze (superintendentes) foram trocados e ninguém falou nada. Sugiro o cara de um Estado para ir para lá e dizem ‘está interferindo’. Espera aí. Se eu não posso trocar o superintendente, eu vou trocar o diretor-geral. Não se discute isso aí”, ameaçou.
“Se é para a não interferência, o diretor anterior, que é o que estava lá com o (ex-presidente Michel) Temer, tinha que ser mantido. Ou a PF agora é algo independente? A PF orgulha a todos nós, e a renovação é salutar, é saudável. O Valeixo pode querer sair hoje. Não depende da vontade dele”, reiterou Bolsonaro.
O presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Edvandir Félix de Paiva, reagiu à ameaça de Bolsonaro, defendendo estabilidade para o diretor-geral da PF.
“É fundamental que nosso diretor-geral tenha mandato. Seja escolhido por critérios técnicos e republicanos. Que tenha capacidade de formar sua equipe sem a interferência de nenhum posto político no governo”, disse Edvandir, participando de um simpósio da categoria em Salvador (BA) que discute o combate à corrupção.
“A PF é uma polícia de Estado. Nós respeitamos a autoridade que o povo conferiu ao presidente da República. Entretanto o trabalho da Polícia Federal é um trabalho de Estado, permanente, independente de qualquer governo”.
Bolsonaro está incomodado com a investigação da Polícia Federal do Rio sobre as atividades ilícitas de seu filho Flávio e de Fabrício Queiroz, ex-assessor.
Tudo começou com a investigação sobre as movimentações financeiras suspeitas identificadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) nas contas de Fabrício Queiroz, um ex-PM que era chefe de gabinete de Flávio.
Queiroz movimentou R$ 7 milhões entre 2014 e 2017. Só na conta de Flávio Bolsonaro, foram feitos 48 depósitos em dinheiro, no total de R$ 96 mil. Todos os depósitos eram iguais: R$ 2 mil.
Relacionadas: